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302 bezerros são achados com fome e sede em Cunha; multa é de R$ 906 mil

Cerca de 300 bezerros foram encontrados em condições de maus-tratos em fazenda na cidade de Cunha, no interior de São Paulo - Reprodução/Redes Sociais
Cerca de 300 bezerros foram encontrados em condições de maus-tratos em fazenda na cidade de Cunha, no interior de São Paulo Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

08/02/2022 04h00

Mais de trezentos bezerros abandonados, encontrados sem acesso a água ou comida, estão sendo resgatados de uma fazenda no município de Cunha (SP). Os responsáveis, da empresa Mashia Agropecuária, foram multados em R$ 906 mil e responderão a inquérito por crime de maus-tratos.

Os bezerros foram encontrados pela Polícia Ambiental na última quarta-feira (2) em uma fazenda localizada no bairro Santa Cruz, na cidade de Cunha, após uma denúncia anônima. Desde sexta-feira (4), advogados, veterinários e voluntários de organizações de defesa animal trabalham no resgate. Sete animais já morreram.

Dos 302 bezerros encontrados pela Polícia Ambiental, 295 ainda estavam vivos quando os voluntários chegaram à fazenda. Cinco deles, em estado avançado de desidratação e desnutrição, tiveram que ser transportados emergencialmente para hospitais veterinários credenciados junto ao Instituto Luisa Mell, na capital paulista.

O UOL conseguiu contatar o advogado dos proprietários da empresa, mas até o fechamento desta reportagem, ele não havia respondido aos questionamentos. Este espaço será atualizado tão logo haja retorno.

Justiça define "guarda" de gado

"Nós chegamos à fazenda na sexta-feira, mas fomos impedidos de entrar", contou ao UOL a advogada especializada em direito animalista Jaqueline Tupinambá — uma das cinco advogadas que acompanham o caso, junto a membros da Comissão de Proteção e Defesa dos Animais da OAB de Guaratinguetá. Ela esteve na fazenda a pedido do promotor-chefe do Gaema (Grupo de Atuação Regionalizada de Defesa do Meio Ambiente), do Ministério Público de São Paulo, Laerte Levai.

A Justiça havia determinado que a empresa oferecesse tratamento aos animais, sob pena de multa diária de R$ 10 mil para cada animal em risco. Como as medidas não foram cumpridas, na sexta-feira, os responsáveis perderam a tutela dos bezerros, que foi transferida a organizações ligadas à causa animal.

"O promotor pediu o nosso acompanhamento porque sabe que temos experiência e conhecimento das leis de proteção animal", afirma a advogada. "Porém, só conseguimos entrar na propriedade no sábado (5), após a perda da tutela".

Hospital em campo de futebol

Sem água e comida por dias, alguns animais estavam tão debilitados que mal conseguiam se levantar - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Sem água e comida por dias, alguns animais estavam tão debilitados que mal conseguiam se levantar
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Jaqueline contou que ficou chocada com o estado dos animais, que eram mantidos numa área de barranco, coberta de lama, sem pasto, ração ou água para beber. Ela afirma que, por vários dias, vizinhos da fazenda visitaram o local para levar água para os animais, a maioria com pouco mais de cinco meses de vida.

"O que vimos foi um cenário de guerra, de trincheira. Além dos bezerros magros e doentes, vimos ossos espalhados por toda a área. Ajudamos a Polícia Ambiental a desenterrar 9 animais inteiros, recém-sepultados. Esses filhotes foram deixados lá para morrer", comentou a advogada. "Aguardamos agora o laudo da Polícia Civil para sabermos quais serão os próximos passos legais neste caso".

Com o auxílio da prefeitura de Cunha, os animais foram levados pelos voluntários da operação de salvamento ao Recinto de Exposições do Falcão, um campo de futebol onde foi improvisado um hospital de campanha.

"Infelizmente, fomos surpreendidos com esse fato pontual, que não reflete o sentimento da nossa população e tampouco o modo pecuarista de Cunha", afirmou o diretor administrativo da prefeitura do município, Juan Pablo de Freitas Santos. "Acionamos agentes da Defesa Civil para o trabalho de resgate e proporcionamos meios para o transporte dos animais".

"Além de destinarmos uma área pública para o hospital de campanha, acionamos médicos veterinários da prefeitura e também instalamos cochos para os animais", contou. "Estamos buscando providenciar feno e trabalhando num projeto de construção de uma cobertura para eles, para abrigá-los da chuva".

Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) informou que um empresário de 43 anos está sendo investigado por maus-tratos, após a ocorrência registrada às 12h de quarta-feira (2), na Estrada Santa Cruz, Sítio Roça Grande, área rural de Cunha.

"Policiais militares foram acionados para atender uma denúncia de maus-tratos a animais e ao comparecerem ao local encontraram dois homens, irmão e sócio do empresário, os quais acompanharam os agentes", informou a SSP.

"Foram constatados 302 bovinos em situação de maus-tratos, sendo encontrado, entre eles, um animal morto. Também foram constatados crimes contra a flora. As medidas administrativas cabíveis foram tomadas e o caso foi registrado na Delegacia de Cunha", finaliza o órgão, na nota.

Site e perfis de empresa saem do ar

O site oficial da Mashia Agropecuária e os perfis do Instagram e do Facebook estavam fora do ar ontem. Em suas postagens, o grupo oferecia investimentos em gado de engorda, com pagamento de lucros na venda dos animais. "Lucre 25% ao ano sem pôr o pé na lama", prometia um dos anúncios.

Os animais eram disponibilizados a R$ 2 mil por cabeça, com "lucro garantido" de R$ 500 ao final da engorda, que ocorreria em até 12 meses. Segundo os especialistas que socorreram os animais, porém, a fazenda não tinha estrutura para abrigar a quantidade de animais encontrada.