BA: Loja de aeroporto é criticada por vender peças com pessoas escravizadas
O relato de um historiador que encontrou cerâmicas retratando pessoas escravizadas acorrentadas sendo vendidas em uma loja do aeroporto de Salvador viralizou e causou comoção nas redes sociais ontem.
Paulo Cruz, que tinha passado alguns dias de férias na capital soteropolitana e voltava para o Rio de Janeiro, onde mora, viu as cerâmicas à venda na loja Hangar das Artes, localizada na área de embarque do aeroporto Dep. Luís Eduardo Magalhães, pouco antes de pegar o avião para casa.
"Quando me aproximei para ver, vi que tinha essa prateleira com essas figuras e uma placa embaixo escrito: 'escravos a R$ 99,90'. Imediatamente, a sensação que eu tive foi um choque. Primeiro foi um choque, depois raiva, depois a sensação de 'o que é que eu faço agora?'", relatou ele, em entrevista ao UOL.
O historiador chamou amigos para conferirem e um deles deu a ideia de publicar a imagem nas redes sociais. Logo, a imagem recebeu centenas de comentários e compartilhamentos, causando uma repercussão não esperada pelo turista.
Entre os compartilhamentos nas redes estavam o da deputada Benedita da Silva e do músico Vovô do Ilê. "Fico feliz de que isso tenha acontecido, porque demonstra que existe esse senso de comunidade, mas, ao mesmo tempo, é muito triste que a gente precise se unir com tanta força para derrubar algo que já não deveria existir no Brasil há muito tempo, que é esta visão racista da história das pessoas negras no Brasil", disse.
Em nota de retratação publicada nas redes, a loja afirmou que as obras fotografadas retratavam imagens de "pretos velhos", que seriam espíritos que se apresentam sob arquétipos de velhos africanos que viveram em senzalas, em sua maioria, escravizados.
"Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega", diz trecho do posicionamento.
A marca pediu "as mais sinceras desculpas a todos que se sentiram feridos e menosprezados" e disse que todas as peças foram retiradas de circulação para "minimamente nos retratar diante do ocorrido".
O historiador acredita que o pedido de desculpas foi algo formulado por uma equipe de profissionais para minimizar o impacto que a publicação teve nas redes.
"Por um lado é muito bom, que mostra que existe uma coletividade preta, um movimento negro que não vai se calar diante de situações de racismo, e isso é muito bom. Mas esse pedido de desculpas não me desceu bem", opinou ele.
"Para mim, nitidamente, foi um pedido de desculpas cuja intenção era 'como vamos minimizar este problema aqui? Aquela imagem não era a imagem de um preto velho", adicionou, explicando que, na umbanda, não há qualquer representação de pretos velhos acorrentados.
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