'Mamãe, vou cuidar de você': Monique dá sua versão da última noite de Henry

Durante 10 horas de depoimento da pedagoga Monique Medeiros em interrogatório na 2ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, a mãe de Henry Borel deu a sua versão sobre a noite em que a criança de 4 anos morreu —do momento em que foi entregue pelo pai até ser declarado morto no hospital.

O relato foi marcado por momentos de forte emoção. Presos desde abril, Monique e o ex-vereador Dr. Jairinho (sem partido) são acusados da morte do garoto, em 8 de março, no apartamento onde moravam na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro.

Ontem, Jairinho pediu para não responder ao interrogatório e disse que vai provar sua inocência. "Juro por Deus que não encostei a mão em um fio de cabelo do Henry", disse ele. A juíza Elizabeth Louro remarcou o depoimento dele para 16 de março.

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Chegada ao apartamento

Henry passava os finais de semana com o pai. Em 7 de março, véspera da morte, o menino foi entregue à mãe por volta das 19h30 no condomínio em que ela morava com Jairinho.

Monique conta que o menino chegou vomitando e chorando. Na versão do pai, o engenheiro Leniel Borel, Henry não queria ficar na casa com Monique e Jairinho.

Na versão apresentada ontem por Monique, ela diz que o menino queria ir para a casa de Bangu, bairro da zona oeste onde moravam os avós.

A mãe do menino conta que Henry "tinha hábito" de vomitar e cita como exemplo episódios que ele chorava ao chegar em um colégio ao qual não se adaptou.

"Em nenhum momento meu filho disse que queria ficar com Leniel também", diz ela.

Pouco depois de o pai ir embora, Henry foi com a mãe até uma padaria. "Comprei Kinder Ovo, coxinha de galinha, que ele gostava, Nutella, suco de uva, presunto e pão de queijo. Ali ele já tinha parado de chorar", diz Monique.

Ao retornar ao prédio, Monique afirma que encontrou Jairinho no elevador —seu ex-companheiro questionou por que ela demorou a subir. Ela relatou que subiu "de cara fechada" porque Jairinho estava tentando controlá-la, achando que ela estaria "batendo papo" com Leniel, de quem tinha ciúme.

Conversa no banho e remédios para dormir

No apartamento, Jairinho voltou a ver uma série de TV e Monique ofereceu lanche para o menino, que recusou e pediu para dormir. No banho, Monique diz ter conversado com Henry.

Eu falei: 'Filho, você tem que cuidar da mamãe, não pode ficar chorando à toa'. E ele disse: 'Mamãe, eu vou cuidar de você para sempre.'"

Após o banho, mãe e filho deitaram na cama do quarto do casal a pedido do menino.

"Me deixa dormir no seu quarto? Porque quando você me coloca para dormir, tio Jairinho briga."

No quarto, Monique disse que juntou a poltrona ao lado da cama onde dormia com o menino, colocou um travesseiro na junção e enviou uma foto para Leniel e para o grupo da família.

A mãe relatou ter rezado um Pai Nosso com Henry, contado uma história e ninado a criança até dormir. Monique disse que a temperatura do ar-condicionado tinha que ser mantida em 21º C e que o menino só dormia enrolado em um edredom.

Quando Henry dormiu, segundo a pedagoga, ela foi para a sala ver uma série com Jairinho. Comeram uma pizza e beberam vinho, de acordo com o relato.

Monique conta que Henry acordou três vezes entre o momento que dormiu até a 0h. Em todas as vezes, a mãe voltava com ele para a cama e o ninava novamente.

Em dado momento da noite, Jairinho teria perguntado o que tanto Monique e Leniel conversaram quando Henry chegou. Ela respondeu que não teve conversa, que apenas pegou o filho.

O ex-vereador também questionou o fato de Monique ir ao quarto de Henry com o celular, "como se estivesse escondendo alguma mensagem".

Por volta de 1h, Jairinho teria pedido para o casal ir para o quarto de hóspedes "dormir e namorar".

Ela disse que tomou dois comprimidos para dormir e que não viu Jairinho tomando nenhum remédio. Segundo Monique, Jairinho não gostava de deixá-la acordada quando ele dormia, com ciúme de que ela pudesse conversar com outros homens no celular.

Jairinho 'encontrou' Henry caído

Monique argumenta que a prova de que ela estava dormindo e Jairinho acordado na madrugada de 8 de março são mensagens que ele trocou com uma mulher na madrugada, à 1h47.

Em depoimento à Polícia Civil, essa mulher relatou que era hábito conversar com Jairinho na madrugada, em horários diferentes.

Seguindo a cronologia da noite da morte de Henry, Monique conta que, por volta de 3h30, foi acordada por Jairinho.

Ele me acordou e disse que ouviu um barulho no outro quarto, dizendo que Henry tinha caído da cama. [Ele disse] que encontrou Henry caído no chão e o colocou em cima da cama."

Ela disse que, ao chegar no quarto, encontrou o filho descoberto, com mãos e pés gelados e "olhando para o nada", com a boca entreaberta.

Quando cheguei no quarto e vi meu filho imóvel, achei estranho porque ele estava todo descoberto. Disse: 'Jairinho, tem alguma coisa errada!'"

Neste momento, Jairinho foi até o banheiro, urinou e voltou para o quarto. Depois de ver que as mãos e os pés do menino estavam gelados, Monique diz que o ex-vereador sugeriu que eles levassem a criança ao hospital.

O casal foi de carro até o hospital Barra D'Or, que fica a 10 minutos do condomínio. Ela conta que, dentro do veículo, foi orientada por Jairinho a fazer boca a boca em Henry, e que o ex-vereador — formado em medicina— disse que o menino estava em PCR (parada cardiorrespiratória).

A professora relatou que não se lembrava da cena registrada pela câmera de segurança do elevador em que Jairinho assopra a boca do filho, conforme revelou o UOL, e que só viu as imagens na imprensa.

Na minha cabeça, até hoje eu acredito que o meu filho estava vivo no elevador."

Médicos tentam reanimar Henry

No Barra D'Or, Monique diz que correu em direção aos médicos, sem fazer ficha na recepção, e disse que o filho não estava respirando. Ela relatou que o filho ficou cerca de duas horas sendo atendido e recebendo massagem cardíaca.

Enquanto Henry era atendido, ela disse ter ligado para o pai do menino. "Ele disse que estava indo para Macaé a trabalho, mas largou tudo e veio correndo."

Monique afirmou que uma médica perguntava o que tinha acontecido, mas que ela só chorava muito e reproduzia o que Jairinho havia contado: "que a gente não sabia o que tinha acontecido".

Henry foi declarado morto às 5h52 de 8 de março.

"Foi um momento que eu não sei nem explicar. É como se tivessem arrancado um pedaço. Alguém estava arrancando um pedaço de mim e eu falei que não podia ser, que não podia ser."

'Meu filho não tinha uma marca'

"Meu filho não tinha um [hematoma] roxo, eu vi meu filho pelado, não tinha nada. As médicas não disseram nada, não existia machucado no meu filho e a gente não sabia o que estava acontecendo."

Monique disse que culpou o hospital em um primeiro momento. "Eu culpei o hospital, achei que Henry tinha chegado vivo e o hospital tinha feito algo de errado, porque meu filho não tinha marca nenhuma."

Como não havia causa para a morte do menino, o corpo foi encaminhado para o IML (Instituto Médico-Legal). Ao final do dia 8, ela recebeu uma ligação de Leniel dizendo que tinha algo errado com o laudo de Henry, já que apontava 23 lesões e como causa da morte uma ação contundente com laceração hepática e hemorragia interna.

Monique afirmou ter ligado para o inspetor de polícia Rodrigo dos Santos Melo para entender o que estava acontecendo. O policial disse, segundo ela, que não poderia dar detalhes sobre o caso fora da sede policial e orientou que ela falasse com seus advogados.

Minutos depois, Jairinho chegou em casa e não a deixou sair, questionando a ligação. Ela disse não saber explicar como Jairinho soube do contato com o policial. Neste momento, o ex-vereador jurou, com a mão na Bíblia:

"Eu juro pelos meus três filhos mortos que nunca fiz nada ao seu filho."

Monique diz ter pensado que se ele estivesse mentindo, estaria matando os próprios filhos.