Controlador e 'ritual do sexo': Monique aponta violência de Jairinho
A pedagoga Monique Medeiros, mãe de Henry Borel, deu nesta quarta-feira (9) detalhes do relacionamento —definido por ela como abusivo— com o ex-vereador Dr. Jairinho. Ela o descreveu como controlador, ciumento e mulherengo. Apesar de relatar agressões e dizer ter sido manipulada pela defesa dele, Monique evitou culpá-lo da morte do filho.
"Não sei o que aconteceu [na morte de Henry], só quem poderia saber foi quem me acordou: o Jairinho." Em cerca de 10 horas de interrogatório, ela relatou mudanças bruscas de comportamento do ex-companheiro —às quais definiu como "atos de bipolaridade"—, supostos episódios de violência do ex-político contra ela e o que chamou de "ritual do sexo" ao qual, segundo ela, Jairinho a submetia.
O depoimento foi marcado por momentos de emoção, como quando Monique relatou o nascimento da criança, a crise no casamento com o ex-marido Leniel Borel e a morte de Henry.
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Após a fase das alegações finais, a juíza Elizabeth Louro, da 2ª Vara Criminal do Rio, definirá se Monique e Jairinho vão ou não a júri popular pela acusação de homicídio. O casal é acusado de matar o menino de 4 anos no apartamento em que moravam na Barra da Tijuca em 8 de março.
Sobre a noite da morte, Monique relatou ter sido acordada por Jairinho e encontrado o menino gelado e "olhando para o nada" no quarto do casal.
Três pessoas sabem o que aconteceu: meu filho, Deus e Jairinho --quem me acordou foi ele."
Monique Medeiros, mãe de Henry
Antes do depoimento de Monique, Jairinho pediu para ficar calado no interrogatório, mas acabou falando por menos de dez minutos, tempo usado para justificar o silêncio à Justiça.
O ex-vereador pediu que sejam realizadas novas diligências e que seja marcado um novo depoimento para que possa "provar a sua inocência e a da Monique". "Juro por Deus que não encostei a mão em um fio de cabelo do Henry", disse o ex-vereador, que se retirou logo em seguida do plenário do Tribunal de Justiça do Rio.
A juíza marcou nova data para o interrogatório de Jairinho: 16 de março.
Crise no relacionamento
A mãe de Henry contou detalhes do casamento com o engenheiro Leniel Borel, pai do menino, e a crise que levou ao divórcio.
De acordo com Monique, a pandemia do coronavírus foi crucial para o fim do casamento com Leniel. A pedagoga destacou contudo que a crise começou logo após o nascimento da criança, em 2016. Na ocasião, Leniel trabalhava no Espírito Santo, enquanto Monique e Henry moravam no Rio.
A ré relatou que o dia em que começou o afastamento do casal foi quando eles pararam de dormir na mesma cama, quando o pai do menino voltava ao Rio, aos fins de semana.
E continua: "Comprei uma cama de solteiro e coloquei no lugar do berço, para o Leniel dormir ali quando viesse. Leniel, infelizmente, trabalhava muito. Começamos a nos distanciar no momento mais feliz das nossas vidas", diz. "Eu e Henry ficamos de lado", afirmou Monique.
Aproximação com Jairinho
Monique afirmou que a aproximação com o ex-vereador começou em 2020, ano eleitoral, por meio de contatos dele pelo Instagram para a captação de votos.
A pedagoga era diretora de uma escola na região de Senador Camará, na zona oeste, e o ex-vereador, que se reelegeu naquele ano, teria perguntado sobre como poderia se aproximar da comunidade a fim de obter votos.
Ela afirmou que Jairinho exagerava nos agrados a seu filho, sabendo que, dessa forma, também estaria agradando a ela. Em uma ocasião, sabendo que Henry gostava de coxinha, comprou 500 salgadinhos para ele.
Monique também relatou que Jairinho tinha muito ciúme de Leniel Borel.
Episódios de violência
A pedagoga relatou episódios em que o ex-vereador se mostrou agressivo, controlador, ciumento e possessivo. Um dos relatos narra uma agressão por parte de Jairinho —ocasião em que, segundo ela, o ex-vereador a enforcou na cama enquanto ela dormia ao lado do filho.
De acordo com Monique, a agressão aconteceu em novembro de 2020 —no mês seguinte ao início do namoro— após Jairinho invadir seu celular para ler mensagens que ela trocava com Leniel Borel, pai do menino. A pedagoga conta que chamava o ex-marido de "Lê", enquanto ele a chamava de "Nique".
Na ocasião, a pedagoga relatou que não pôde participar de um jantar em que o namorado iria e então foi dormir com o filho na casa de seus pais em Bangu, na zona oeste do Rio.
Ele pulou o muro da minha casa, invadiu e se incomodou com a conversa no meu celular, que ele tinha a senha. Acordei sendo enforcada na cama ao lado do meu filho."
Monique Medeiros, mãe de Henry Borel
Apesar dos relatos de violência, Monique disse que não era "100% infeliz" no relacionamento com Jairinho. Segundo ela, o ex-companheiro tinha oscilações entre carinhoso, violento e ciumento.
'Ritual do sexo'
A pedagoga comparou as relações sexuais com Jairinho a um ritual e explicou que a personalidade controladora do ex-parceiro também se manifestava nos momentos íntimos.
Ela relatou que o sexo era usado como uma forma de resolver as brigas constantes do casal. "A gente resolvia sempre as brigas na hora de namorar, porque eu ficava com medo. E aí resolvia as brigas dessa forma."
Na sequência, a pedagoga disse que o ritual no sexo envolvia agressões.
"Todas as vezes que nós namorávamos era como se fosse um ritual. Era ele em cima de mim, não existia outra posição, que a gente pudesse fazer. Ele sempre me enforcando, sempre me mandando eu dizer que ele era o único homem da minha vida, que eu nunca tinha transado com outro homem, que eu nunca tinha gozado com outro homem, que eu nunca tinha feito nada com outro homem e ele me obrigava a dizer isso até ele completar o que tinha que completar", contou a pedagoga.
Rasteiras e 'moca'
Monique afirmou ainda que o filho relatou ter sofrido duas "bandas" (rasteiras) do ex-vereador no mês anterior à morte dele.
No primeiro episódio, ela disse que Jairinho alegou ter sido uma brincadeira e que, no segundo, falou que o menino estava mentindo. No depoimento, Monique diz que não acreditava que o filho corresse qualquer risco.
No caso de 12 de fevereiro, quando Henry ficou a portas fechadas com o ex-vereador por 6 minutos, a criança disse a Monique que caiu da cama porque teria escorregado. Ela o levou ao hospital e não foram constatados problemas no joelho do menino.
A noite em que Henry morreu
Monique afirmou que que estava dormindo quando foi avisada por Jairinho que o filho tinha "caído da cama" no quarto ao lado. De acordo com a pedagoga, ela tomou dois comprimidos para dormir e foi acordada pelo então companheiro por volta das 3h30 de 8 de março.
Ao chegar no quarto, encontrou o filho descoberto, com mãos e pés gelados e "olhando para o nada", com a boca entreaberta. O casal então decidiu levá-lo ao hospital Barra D'Or.
Monique disse que foi treinada pelo advogado André França —o primeiro defensor de Jairinho no caso— para dar uma versão sobre a morte do filho. O UOL procurou o advogado, mas ainda não obteve retorno.
"Eu fui treinada a dar uma outra versão, que eu vi o menino e acordei o Jairinho. Ele [o advogado] me treinou para falar exatamente o que ele tinha planejado, de uma forma que não sobrava arestas que alguém pudesse corromper", diz a pedagoga.
Ela contradisse o laudo do IML (Instituto Médico-Legal) que aponta que o corpo da criança tinha inúmeras lesões. Segundo a mãe de Henry, logo após a morte ser declarada no hospital, o corpo do menino não tinha "nenhum [hematoma] roxo".
A pedagoga admitiu que pensou em se matar após a morte do filho. "Foi um fim de tarde tenebroso. Eu sou católica, sou temente a Deus e só pensava em me matar. Minha vontade era jogar o carro do viaduto", contou aos prantos.
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