Choveu mais que o esperado para fevereiro inteiro em 3 horas em Petrópolis
A cidade de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, registrou em apenas três horas uma quantidade de chuva maior do que a média esperada para todo o mês de fevereiro. Ao menos 104 pessoas morreram no município.
Segundo o Cemadem (Centro Estadual de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), foram registrados 250 milímetros de chuva em três horas ontem em Petrópolis. No total das 24 horas de 15 de fevereiro, foram 260 milímetros.
"A média climatológica para o mês de fevereiro de Petrópolis é de 185 milímetros", diz Carine Gama, meteorologista da Climatempo. "Esse volume foi maior do que toda a chuva prevista para o mês. Choveu fevereiro inteiro mais um terço de fevereiro."
Além da intensidade, outro fator é destacado por meteorologistas: a chuva foi concentrada em áreas de Petrópolis, o que pode ter evitado uma tragédia maior.
"A abrangência foi muito maior em 2011, pegando toda a região serrana, Teresópolis, Nova Friburgo. Ontem, a situação foi muito localizada durante um período da tarde", diz Marlene Leal, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).
Em 2011, foram mais de 900 mortes em decorrência das chuvas nas cidades da região.
Foi uma nuvem de chuva totalmente localizada que provocou essa chuva extremamente excepcional. Não foi na cidade inteira, em toda a região serrana. Foi uma chuva totalmente pontual, totalmente localizada"
Carine Gama, meteorologista da Climatempo
Por que choveu tanto?
As meteorologistas levantam três pontos:
- chegada de frente fria ao Rio de Janeiro;
- entrada de umidade que veio do interior do país com tempo abafado;
- orografia local; Petrópolis, na região serrana, é uma área com relevo acidentado.
"É uma frente fria que passou pela costa de São Paulo bem rápido, mas, no Rio de Janeiro, conseguiu levar um pouco mais de chuva", explica Gama. "Além disso, o ar, no interior do Brasil, estava bem abafado. A gente tinha um corredor de umidade voltado para o Sudeste brasileiro."
Leal também pontua que Petrópolis tem uma topografia que favorece as chuvas fortes. Gama complementa lembrando que "áreas de montanha têm condição mais fácil para formação de nuvens de chuva forte porque o ar sobe por um lado e sai do outro". "Ela tem uma condição maior ainda para formação de nuvens carregadas."
A previsão do tempo indicava a chance de chuvas severas na região serrana, mas não há ferramenta, segundo as meteorologistas, que indiquem um volume tão intenso em um espaço tão curto de tempo.
"Nenhum modelo meteorológico vai indicar 200 milímetros de chuva em três horas. Infelizmente, a gente não tem essa ferramenta em mãos", diz Gama.
"O que a gente pode ver é monitorar o deslocamento, mas quando o radar mostra já é praticamente a nuvem já formada, precipitando", diz Leal.
Mais chuva
A chuva deve voltar a aumentar em Petrópolis a partir de amanhã. Há uma estimativa de cerca de 100 milímetros de chuva distribuídos ao longo dos próximos dias até o final de semana.
Não se descarta a possibilidade de chuvas mais fortes até o final do verão, em março, mas um alento vem do fato de o fenômeno La Niña estar se enfraquecendo. É ele que tem contribuído para a formação de ZCAS (Zonas de Convergência do Atlântico Sul), que foram identificadas no sul da Bahia, em Minas Gerais e em São Paulo nas últimas semanas. "Mas o La Niña já teve seu ápice, que foi em janeiro. Ele começou a perder intensidade", diz Gama.
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