Topo

Esse conteúdo é antigo

Petrópolis: Padre realiza enterro de casal um ano após celebrar casamento

Padre celebrou casamento e, após um ano, o sepultamento de casal, vítimas da tragédia em Petrópolis - Arquivo pessoal
Padre celebrou casamento e, após um ano, o sepultamento de casal, vítimas da tragédia em Petrópolis Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

21/02/2022 18h22Atualizada em 21/02/2022 20h55

No dia 12 de dezembro de 2020, o padre Alan Rodrigues celebrava o casamento da agente comunitária de saúde Sarah Walsh e do adestrador Bernardo Albuquerque na Paróquia de Santo Antônio, no bairro do Alto da Serra, em Petrópolis. Um pouco mais de um ano depois, ele foi o responsável pela cerimônia de sepultamento do casal, vítima das fortes chuvas na cidade que causaram o deslizamento de terra no Morro da Oficina na terça-feira passada (15). Até agora, a tragédia já registrou 181 mortos.

Rodrigues compartilhou a história em um vídeo publicado no Instagram. "A história de um casalzinho que passou rapidinho pela Terra!", escreveu. Ao UOL, o eclesiástico contou que sempre esteve muito próximo do casal, que torcia para a oficialização da união e que considerava os dois como seus próprios filhos.

"Eu tinha acabado de chegar da Argentina, em 2019, quando comecei a trabalhar naquela paróquia onde eles moravam. Eles começaram a morar juntos, mas eu queria que eles casassem. E foi assim que começou uma linda amizade, eles eram como filhos para mim. Foi muito intensa a nossa amizade", diz ele.

casal - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O casal era muito próximo do Padre, que realizou a cerimônia em dezembro de 2020
Imagem: Arquivo pessoal

Segundo o padre, que atua na Paróquia de São Sebastião de Carangola, no bairro Cidade Nova, o casal tinha muita fé e frequentava a missa todos os dias "juntos e de mãos dadas". "O que é mais bonito ver é que eles foram unidos até a morte. Nem a morte separou os dois. Eles estavam juntos a todo momento", reflete.

No dia do deslizamento, ele conta que o casal chegou a assistir à missa pela manhã e que havia comunicado ele sobre isso. "Eu fui transferido há 7 meses de paróquia, mas eles me mandavam mensagem sobre ter ido à missa todos os dias. Eles diziam que ficaram mais unidos a Deus", conta.

A missa em questão ocorreu às 7h e, por volta das 18h, o deslizamento. "Eles notaram que as barreiras começaram a cair na casa deles e comentaram nos grupos de WhatsApp a preocupação que tinham. Alguém falou para eles irem ao ponto de apoio, mas acontece que lá também havia deslizado. A Sarah disse que se sentia mais segura em casa e, como 18h é o horário de Nossa Senhora para o catolicismo, ela disse: 'vou rezar, não resta outra. Porque se eu morrer, Nossa Senhora vai me levar'."

Essa teria sido a última mensagem de Sarah. Os corpos do casal foram encontrados três dias depois da tragédia, na sexta-feira (18). No sábado (19), o padre realizou a cerimônia de sepultamento ao lado dos familiares. "Foi tudo muito rápido. Só um ano de casamento, mas foi muito intenso", relata.

Eu estive presente em tudo. Na alegria e na tristeza. Sei que eles estão bem agora, isso conforta o coração. A dor é a dor de perda de filho, mas saber que eles estão bem juntinhos na outra vida é reconfortante.
Alan Rodrigues, padre

Apesar da tragédia, Rodrigues diz acreditar que a história de Sarah e Bernardo possa reconfortar o coração das pessoas nesse momento de luto. "Para que ainda acreditem na beleza de amar alguém", finaliza.