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Motorista de ônibus é demitido após comentários sexistas sobre ucranianas

Lorena Pelanda

Colaboração para o UOL, em Curitiba

08/03/2022 10h37Atualizada em 08/03/2022 20h54

"Caso com elas e pronto! Faço umas horinhas extras no ônibus e dá para casar com duas [ucranianas] aí". A conversa de um motorista de ônibus com cobradores acabou com a demissão do profissional. As falas sexistas foram gravadas em vídeo enquanto ele dirigia na linha que liga Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, até a Praça Rui Barbosa, no centro da capital, e ecoaram o caso envolvendo o deputado estadual Mamãe Falei (Podemos-SP), que resultaram em pedidos de cassação de seu mandato.

A conversa ocorreu no domingo (6) e foi gravada por uma passageira. Com a repercussão, o motorista da empresa Expresso Azul foi demitido imediatamente. Os dois cobradores ainda não foram identificados, e a empresa não informou se eles serão penalizados.

A passageira retornava para casa sozinha, durante a noite. Como o ônibus estava vazio, ela preferiu sentar mais perto do motorista.

"Eu pensei, vou sentar perto do motorista para me sentir mais segura. Sentei na segunda fileira e vi que o motorista estava conversando com dois colegas que estavam na fila de atrás dele. Eles davam muita risada e comecei a prestar atenção. Nisso vi que eles estavam debochando das ucranianas. Fiquei em choque e comecei a gravar. Fiz questão de olhar diretamente para eles e mostrar que estava ali, mas eles continuaram a conversa tranquilamente", relatou ao UOL a usuária do transporte coletivo, que pediu para não ser identificada.

O Paraná tem mais de meio milhão de descendentes de ucranianos. Muitos vivem em Prudentópolis, no centro sul do estado, considerada a cidade mais ucraniana do Brasil. 80% da população é de descendentes de imigrantes da Ucrânia. Em outro trecho, o motorista comenta sobre a cidade e diz que vai trazer todas para Curitiba:

Vou gastar meu salário para buscar minhas 'namoradas'. Tudo em gasolina. Será que não dá para ir de biarticulado (ônibus de Curitiba) e buscar todas em uma viagem só? Eu trago aqui umas quatrocentas.

A gravação durou oito minutos e ainda tem trechos racistas, com a comparação entre haitianas e ucranianas.

Um dos cobradores diz: "As haitianas estão aí estão um tempão e ele não quis nada". O motorista responde: "Ah, as polaquinhas eu vou buscar".

Em outro trecho, ele afirma: "Vou ter que comprar uma moto. Ir todo dia de manhã conhecer as meninas [em Prudentópolis] e depois vir trabalhar aqui. Como que eu vou tratar das coitadinhas das meninas, elas vão vir para o Brasil para passar fome? Aí não, coitadas". Mais tarde, complementa: "Eu tô f..., vou gastar todo o meu salário para buscar minhas namoradas. Tudo em gasolina".

A passageira diz que se surpreendeu com a naturalidade das falas, em um ambiente público e de trabalho. "Eles se sentiam no direito de falar aquilo e acharam não iam ter consequência. Eles serem punidos serve como exemplo para as pessoas não façam isso. Ter uma punição e uma retaliação é muito importante nesse caso. Eu fiquei muito feliz que o motorista foi mandado embora", afirmou a passageira.

A Expresso Azul se pronunciou em nota, dizendo repudiar o episódio e que "abomina comportamentos ou manifestações de preconceito, seja de caráter racial, religioso, de gênero ou qualquer outro, por parte de seus colaboradores". A empresa ainda adicionou que "o funcionário que emitiu o deplorável comentário foi imediatamente desligado de nossos quadros, conforme determinam as normas de compliance estabelecidas pela Expresso Azul".

Em nota, a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) disse condenar o comportamento do operador, que classifica como "inaceitável".

Mamãe Falei

As falas sexistas do motorista de Curitiba são semelhantes às mensagens vazadas do deputado estadual Arthur do Val (Podemos), conhecido como "Mamãe Falei", na sexta-feira (4).

Em áudios gravados e enviados a um grupo de amigos no Whatsapp, o deputado fala que as mulheres ucranianas são "fáceis, porque elas são pobres".

Após o vazamento das mensagens, ele pediu desculpas e abandonou a pré-candidatura ao governo do estado de São Paulo.
O deputado é alvo de 11 pedidos de cassação no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo.