Treinadores salvam idosa de enxurrada pós-chuvas em SP: 'ato heroico'
Uma idosa foi resgatada na tarde de hoje por dois instrutores de uma academia de uma enxurrada provocada pelas fortes chuvas que caíram na cidade de São Paulo. Um vídeo publicado nas redes sociais mostra o momento dramático em que a mulher se arrisca do lado de fora do veículo que dirigia e quase é levada pela força das águas, na Vila Madalena, próximo ao Beco do Batman.
O incidente ocorreu na Rua Medeiros de Albuquerque, na Zona Oeste da capital paulista, por volta das 15h30. No vídeo, é possível ver a mulher tentando se segurar no capô do veículo, um Honda prata, enquanto luta contra a correnteza. Momentos depois, dois homens se aproximam e conseguem segurá-la. Num primeiro momento, eles tentam conduzi-la para o lado direito da rua, mas mudam de ideia ao perceberem a violência da enxurrada.
O registro foi feito por moradores da região, do alto de prédios residenciais. No meio do resgate, a mulher quase cai na água, mas os dois homens a agarram pelas pernas e erguem. Com pequenos passos, eles vão vencendo a força da água até uma calçada e a levam para o interior de um centro de treinamento.
Dia de heroismo
Daniel Almeida Gonçalves, 42, e Cássio Provenzano, 31, são os homens que efetuaram o salvamento. Daniel é instrutor e proprietário do Centro Articular, uma academia de treinamento físico e fisioterapia que fica em frente onde ocorreu o salvamento. Cássio é instrutor e trabalha no estabelecimento.
"Foi tudo muito rápido", contou Gonçalves ao UOL. "Estávamos dando aula quando a chuva começou. Ficamos aqui na porta monitorando nossos carros, que costumam ficar estacionados na rua, quando vimos um carro dirigindo contra a correnteza. Dentro dela, estava uma senhora, com uns 65, 70 anos, muito assustada. Ela não conseguiu ir muito longe, o carro acabou morrendo e ela ficou presa dentro. Mas o volume de água era tão grande que, 10 minutos depois, começou a arrastar o veículo. Ela, com medo, desceu. E foi aí que acendeu o alerta na gente".
Daniel conta que, ao ver a dificuldade da idosa em se manter em pé ao lado do carro, imediatamente começou a tirar a camiseta, calça, sapatos e meias. Cássio, que estava com ele, seguiu os movimentos do amigo.
"Essa é a segunda vez que uma enxurrada forte ocorre nesta rua", contou Cássio. "A primeira foi na terça de Carnaval. Mas como essa de hoje, eu nunca tinha visto. Na hora que a gente viu a senhora saindo do carro, sabíamos que teríamos que intervir. Sentimos muito medo na hora, mas a adrenalina ajudou. A ficha só está caindo agora".
Segundo o instrutor, apesar do risco, do esforço e do cansaço, conseguir salvar a idosa de uma situação tão desesperadora foi uma satisfação muito grande. "Poderia ser minha avó. Fico muito feliz que a família dessa senhorinha vai dormir mais tranquila hoje".
Na hora, a gente não pensa em nada. Se me perguntar se eu me lembro de tudo, vou responder que não. Nós só tínhamos em mente que precisávamos salvar essa pessoa. A força da água era impressionante. Por algumas vezes, pensei que fôssemos cair, parecia que as pernas não iam aguentar. Teve um momento que ela quase caiu e eu sabia que poderíamos perdê-la. Daí tiramos forças nem sei de onde e conseguimos trazê-la no colo, praticamente. Só me dei conta do esforço que fizemos quando percebi que meus pés estavam formigando.
Daniel Gonçalves, instrutor de educação física
Daniel conta que a mulher parecia em choque. Estava muda, não esboçava nenhuma reação. A equipe então passou a cuidar dela, providenciou roupas secas e ela foi se acalmando.
"Ela nos contou que tinha saído para buscar remédio para o filho na farmácia, que não sabia que estava chovendo tanto", disse Daniel. "Aos poucos a respiração dela foi ficando mais tranquila, até que o marido dela veio buscá-la. Ele nos agradeceu muito por salvarmos a vida dela".
Final feliz, mas vários erros cometidos
Na opinião do major Marcos Palumbo, do Corpo de Bombeiros de São Paulo, o salvamento realizado por Daniel e Cássio foi um "ato heroico". Ele viu o vídeo do resgate publicado nas redes e diz que se impressionou com a garra e a habilidade dos dois, apesar do risco que corriam.
"A água poderia ter derrubado um deles, ou até mesmo os dois de uma vez", explica Palumbo. "Nesse tipo de enxurrada, a força da correnteza pode atuar como se fosse uma rasteira nas pernas. É por isso que os Bombeiros sempre recomendam que as pessoas permaneçam em casa ou no trabalho quando a chuva começa. Que procurem abrigo. Principalmente nesta época do ano, quando grandes volumes são lançados em um curto espaço de tempo".
Para o major, o fato dos dois homens terem treinamento físico foi um fator preponderante para o sucesso da ação. "Esse caso deve servir como um exemplo e alerta. Ao se desesperar com a chuva, a mulher tentou dirigir contra a correnteza. E, ao perceber que o carro estava sendo arrastado, saiu do veículo. Ela cometeu vários erros e correu risco de morte ali".
Palumbo esclarece que, se alguém for pego de surpresa numa situação como essa, nunca deve seguir contra a correnteza e, se possível, buscar rotas alternativas. "Nessas horas, para fugir do local, vale tudo. Dar marcha à ré, subir em cima da calçada, do canteiro central. Não ser apanhado pela enxurrada tem que ser o objetivo principal".
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