Personal trainer, sem-teto, advogados: o que diz cada lado no caso do DF
A história do personal trainer investigado por agredir um homem em situação de rua - flagrado por ele fazendo sexo com sua mulher, em Planaltina (DF) -, continua repercutindo no país, após nova entrevista dada pelo personal na tarde desta quinta (17). O fato ganhou notoriedade nacional nesta semana, depois que um vídeo do momento do "flagra" viralizou nas redes sociais. A Polícia Civil do Distrito Federal apura as circunstâncias da ocorrência para descobrir se houve ou não violência sexual no contexto do crime.
O flagrante foi feito por volta das 22h30 de quarta-feira (9), quando o educador físico Eduardo Alves, de 31 anos, encontrou Givaldo Alves de Souza, 48, mantendo relação sexual com sua esposa, dentro do carro do casal. O flagrante foi captado por câmeras de segurança no bairro Jardim Roriz, em Planaltina.
Na ocasião, ao presenciar a cena, o personal trainer retirou do carro o sem-teto, que estava nu, agredindo-o. Com diversos ferimentos, a vítima foi socorrida e levada ao hospital. Segundo a polícia, a mulher aparentava estar em choque. Na tarde do mesmo dia, a esposa teria saído com a sogra para fazer ação de caridade, quando teria tido contato com o homem.
Todos os envolvidos na confusão chegaram a ser levados para a Delegacia de Polícia de Planaltina e foram liberados em seguida. O UOL reuniu o que já se sabe sobre o caso e traz abaixo o que já foi dito pela Polícia Civil e as versões dadas pelo personal trainer, o homem em situação de rua e a defesa do casal, confira:
Eduardo Alves
À polícia, Eduardo Alves afirmou que quando localizou o carro da mulher e a encontrou com outro homem dentro do carro, agiu em legítima defesa para salvar a mulher do que, para ele, trata-se de uma suspeita de estupro. Ele também informou, na ocasião, que a esposa estaria enfrentando problemas psicológicos.
Em nota enviada ao UOL, ele reafirmou que a mulher foi vítima de violência. "Sempre foi uma mulher honesta, trabalhadora, temos atividades profissionais e filhos pequenos. O que aconteceu na última quarta-feira foi algo terrível que nunca havíamos vivenciado. Seguimos confiantes no trabalho de investigação da Polícia Civil do DF e do Ministério Público do DF". O personal trainer também afirmou à reportagem que a família tem dado suporte a esposa e que ela foi internada para tratamento após o ocorrido.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, Eduardo voltou a falar sobre o assunto e se disse preocupado com a saúde da mulher. "Estão gerando conteúdo ofensivo contra a alma da minha esposa, que sofreu violência sexual. Diante disso, vejo que os fatos têm sido transmitidos de maneira errônea por ambas as partes, sendo que, no momento, a preocupação deveria ser com a saúde dela, que está internada", afirmou.
"Pedimos a cessação (sic) de divulgação de matérias inverídicas, que menosprezam a mulher vítima de violência", acrescentou ao comunicado.
Nesta quinta (17), Eduardo Alves voltou a defender a família em entrevista para o SBT Brasília. Durante a conversa, o personal trainer disse que estranhou o fato de a mulher ter se atrasado para um compromisso do casal com as crianças e, como estão juntos há três anos, decidiu procurá-la.
"Ela tinha saído com a minha mãe para fazer uma doação de roupas. Quando minha mãe chegou achei estranho ela não ter retornado, ela não é de se atrasar. Perguntei para a minha mãe o que elas tinham feito durante o dia e o único fato diferente foi ela ter ido buscar a filha e, nesse momento, ter encontrado um morador de rua. Hoje em todo lugar que você estaciona o carro tem algum morador de rua, algum pedinte, então foi nesse momento. Tomando nota disso, perguntei onde isso aconteceu e fui em direção a esse local. Chegando lá me deparei com a cena", contou em detalhes.
Ainda segundo o personal, quando viu os dois no carro, a única reação que teve foi tirar o homem de dentro do automóvel. "Sou pai de família e acredito que ninguém naquela situação teria feito diferente, até porque ver a sua filha ou a sua esposa dentro do carro com um estranho não é nada normal. São 3 anos de relacionamento e não é uma atitude que condiz com a pessoa que ela é", defendeu a esposa.
"Só lembro de eu pedir ajuda, lembro de preservar ela, colocando ela no carro, lembro quando chegou a polícia, moradores. Chegando no hospital notei que ela iria precisar de alguma ajuda e liguei para uma amiga dela para dar um suporte, porque eu não conseguia chegar perto dela, porque ficou todo mundo em corredores separados", prosseguiu.
Ao conversar com médicos, Eduardo ouviu que a esposa se encontra em surto psicótico e não é capaz de responder por ela. A mulher está internada e tem acesso de visitas limitado ao marido, que não deseja expor a repercussão do caso à esposa, "ela não consegue assimilar o que aconteceu, eu falei que aqui fora está tudo bem, que ela estava passando por um momento em que precisava se cuidar e futuramente eu vou explicar tudo para ela", explica.
"Ela é empresária, sempre foi uma mulher que buscou ensinar a família a manter a união, que trabalhava, ia para a igreja e, às vezes, ia para alguns lugares reservados para curtir ou comigo ou com a filha dela. Estão denegrindo a imagem dela e isso não condiz com as atitudes dela. É guerreira, trabalhadora e que foca sempre na família", defende.
Durante a entrevista, o personal trainer também lamentou a família ter se tornado alvo de chacota e acredita que está faltando empatia das pessoas. "Existe uma família, uma relação com as crianças que não estão levando em consideração. Atualmente estou apenas existindo, porque não consigo trabalhar, não consigo voltar a ter minha vida normal por culpa da sociedade, pela maneira que rotularam a gente", concluiu.
Givaldo Alves de Souza
Identificado como Givaldo Alves de Souza, de 48 anos, o homem vítima de agressão e que foi encontrado nu no carro da mulher declarou em depoimento à Polícia Civil estava nas proximidades do Centro de Ensino Fundamental 02 de Planaltina, e, no dia 9 de março, a mulher teria parado o veículo nas proximidades da escola. Segundo ele, ela o teria chamado e convidado: "vamos brincar?".
O homem em situação de rua também afirmou que enquanto estava com a mulher no veículo, "um homem bravo" abriu a porta do carro e iniciou a briga. Ele disse ainda que conheceu a esposa do personal trainer no dia do ocorrido e não sabia que ela era casada. Ele negou ter cometido estupro contra a mulher.
Esposa do personal
Áudios supostamente atribuídos à mulher chegaram a circular nas redes sociais, mas não foram confirmados. A mulher foi internada pela família para receber tratamento médico e não se manifestou oficialmente sobre o ocorrido.
Polícia Civil
Ao UOL, a Polícia Civil do Distrito Federal informou que tomou conhecimento do fato por uma equipe da Polícia Militar que compareceu à 16ª Delegacia de Polícia de Planaltina informando a situação que tinha como envolvidos o casal e o homem em situação de rua. "O comunicante relatou que durante patrulhamento de rotina a equipe foi acionada para situação de estupro. Ao chegar ao endereço do fato encontrou dois homens machucados, brigando, e uma mulher em aparente estado de choque. No local, os envolvidos apresentavam informações desencontradas e que todos foram conduzidos ao Hospital Regional de Planaltina por uma equipe do Corpo de Bombeiros Militar", segundo o boletim de ocorrência (B.O).
Ainda segundo a polícia, o esposo da mulher informou que ela estaria apresentando problemas psicológicos. "No dia 9 de março, ela saiu no veículo com a mãe do declarante e que, em determinado momento, após ajudar um homem em situação de rua em Planaltina, as mulheres haviam se separado. Ele procurou pela esposa e ao avistar o carro estacionado, imediatamente se aproximou, momento em que viu a esposa com um homem, tendo relações. Nesse momento entrou em luta corporal com o acusado, pois, acredita que ela estava sendo estuprada", conclui o B.O.
A delegacia segue apurando o caso.
Defesa do casal
Corroborando a versão de Eduardo Alves, em conversa com a jornalista Jessica Lima, a advogada do casal confirmou que a esposa está internada em um hospital particular. "Ela está recebendo suporte clínico e psiquiátrico, conforme protocolo de atendimento para esse tipo de violência", afirmou.
Em entrevista ao SBT Brasília hoje, a advogada destacou que o caso é complexo do ponto de vista técnico e necessita de atendimento multidisciplinar. "Temos que ter cautela e responsabilidade com relação às informações desse caso. A polícia está desenvolvendo um trabalho de excelência e está preparada para dar uma resposta para a sociedade; o que temos observado com essa atuação (de chacota e linchamento) na internet é que isso tem, inclusive, interferido no trabalho da polícia, no qual o trâmite é sigiloso" ressaltou.
Conforme a advogada, lidar com a situação está sendo difícil para a família, para o marido, mas principalmente para a esposa. "Chegará um momento que ela vai ter alta hospitalar e ela vai ter acesso a essas informações. A sociedade precisa entender que se trata de uma situação muito delicada, onde se tem uma mulher que está totalmente vulnerável. E o que é mais chocante é que estamos no mês da mulher, mas hoje o que a gente vê na internet é o linchamento virtual de uma mulher, que está sendo colocada numa situação ultrajante. Precisamos que a sociedade nos ajude a restabelecer a paz nessa família", destacou.
Defesa de Givaldo Alves de Souza
O UOL tentou localizar a defesa constituída de Givaldo Alves de Souza, mas não obteve êxito até a publicação desta reportagem. Depois que obteve alta hospitalar, o homem não foi mais encontrado. Este espaço permanece aberto para manifestação da defesa.
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