Usuário tem Instagram invadido e seguidores tomam golpe de R$ 7 mil em 24 h
O editor de livros Felipe Brandão estava na academia quando ficou sem área de celular e estranhou a avalanche de mensagens que recebeu ao chegar em casa, na cidade de São Paulo: ele acabara de ter a conta do Instagram roubada por estelionatários, que, munidos de seu perfil, anunciavam móveis e eletrônicos por preços abaixo do mercado nos stories, aplicando golpes em seus seguidores envolvendo o modo de pagamento por Pix.
Os golpistas teriam publicado uma série de imagens explicando que ele estaria ajudando uma amiga de mudança que precisaria vender rapidamente eletrodomésticos e eletroeletrônicos da residência dela. Entre os produtos anunciados estavam smartwatch, televisão, máquina lava e seca, iPhone e iPad. Todos com preços "para vender logo".
Pelo menos três pessoas já se disseram lesadas com o golpe: um amigo teria pago R$ 2,5 mil em um PlayStation 4; uma seguidora teria investido R$ 650 em um sofá e um terceiro, R$ 3,7 mil em frigobar e micro-ondas.
Com ciência do que tinha acontecido e sem conseguir acessar a conta, já com senha alterada, Felipe tentou usar outras redes para alertar os contatos sobre o ocorrido, mas teve alcance limitado já que fez da rede de fotos e vídeos sua principal fonte de comunicação.
"Bloqueei o meu chip e comecei a avisar as pessoas nas redes sociais, no Facebook, mas quase ninguém viu. Eu tinha pouquíssimas interações lá. Com isso, tentei mandar mensagem no Whatsapp para todo mundo, mas nesse tempo já fui recebendo mensagens de amigos que tinham caído no golpe", explica Felipe, em conversa com o UOL.
Atento a golpes, o editor diz que nunca clica em links suspeitos e tinha até mesmo a autenticação de dois fatores habilitada no celular. A suspeita dele é de que a linha telefônica tenha sido clonada, já que ele não conseguiu mais acesso à sua rede móvel após o ocorrido.
Isso gera uma ansiedade, uma vulnerabilidade muito grande. As pessoas não desconfiam. Elas confiam na sua imagem e acabam caindo.
Felipe Brandão, editor de livros
Munido dos dados das contas para as quais os dinheiros foram enviados e de prints de amigos, ele abriu um boletim de ocorrência e começou a tentar recuperar a própria conta. "A minha preocupação maior não era perder seguidores, era ver as pessoas comprando. Como não quis esperar o prazo de 10 a 15 dias úteis que eles [Instagram] dão para ter uma resposta, optei por procurar uma agência especializada para recuperar minha conta", explica.
A agência procurada por Felipe não teve o nome revelado, mas não tem ligação direta com o Instagram. Segundo o editor, os "especialistas" na recuperação de contas hackeadas trabalham com gerência de contas grandes na plataforma e, por isso, têm contato facilitado com funcionários.
Ao todo, a agência pediu R$ 3,5 mil para agilizar o processo de liberação da conta de Felipe e ele recuperou o acesso à plataforma no dia seguinte.
Caso não é isolado
Quem também foi vítima de um golpe semelhante e precisou contar com a ajuda de um amigo que trabalha para a Meta (Facebook/Instagram) no Brasil para recuperar a conta foi o jornalista Mario Monteiro. No mês de fevereiro ele estava a caminho de uma partida de futebol, num clube em São Paulo, quando foi avisado por amigos sobre anúncios suspeitos nos seus stories.
"O golpista anunciou várias coisas ali. Geladeira, micro-ondas, sofá, cadeira, tudo com preço baixo. O que eu consegui fazer foi avisar em todos os meus grupos do WhatsApp, no meu Facebook também, mas nem todas as pessoas que me seguem no Instagram eu tenho no WhatsApp e no Facebook, então não chegou a todo mundo", conta.
Uma das primeiras atitudes dele foi acionar o suporte do Instagram, que pediu uma verificação em "vídeo selfie" da imagem dele.
Segui todos os passos. Cheguei a fazer esse negócio umas dez vezes, eu gravava a selfie em vídeo falando 'eu sou o Mario, a conta é minha, quero reaver minha conta', e o Instagram respondia meia hora depois falando que não era possível confirmar minha identidade, sendo que tinham todas as minhas fotos.
Mário Monteiro, jornalista
A invasão ao perfil dele foi registrada no domingo e apenas no fim do dia seguinte, após acionar um contato da empresa, ele conseguiu um link para reativação da conta internamente.
Nesse meio tempo, os primeiros stories publicados na conta do jornalista "venceram" e o estelionatário os publicou novamente. Os golpistas chegaram a tentar negociar com o Mário, alegando que ele não deveria denunciar a conta, com a garantia de devolução da senha no dia seguinte.
"Quatro seguidores meus caíram, um deles inclusive veio no meu LinkedIn me xingar porque fez um pix de R$ 250 para o estelionatário e o golpista o bloqueou no Instagram, sumiu em seguida", afirmou. Segundo Mario, três pessoas fizeram um depósito de R$ 250 por um micro-ondas e outra fez um de R$ 700 por um sofá.
Ele registrou um Boletim de Ocorrência e orientou que as pessoas que sofreram o golpe na conta dele fizessem o mesmo.
O meu amigo falou que invadiram a minha conta porque eu não usava a autenticação em dois fatores. Eu nem sabia que isso existia, inclusive, pouca gente com quem conversei tinha autenticação em dois fatores.
Denunciar é preciso
Enquanto Mário não tem qualquer esperança de que o dinheiro perdido pelas pessoas lesadas por um golpe na conta dele seja devolvido após os boletins de ocorrência, o editor Felipe ressalta a importância de não ter vergonha de falar sobre o assunto, principalmente para alertar a terceiros sobre novos golpes que circulam nas redes sociais.
É importante as pessoas falarem, porque isso pode acontecer com qualquer pessoa. Às vezes você recebeu a mensagem em um momento em que estava mais vulnerável, acaba acreditando, porque vê a imagem de um amigo falando com você.
Em nota, o Instagram informou que recomenda aos seus usuários o uso de ferramentas de segurança disponíveis na plataforma para barrar a invasão de contas, como a autenticação de dois fatores e as solicitações de login.
"Recomendamos que as pessoas façam uso das ferramentas de segurança disponíveis, não compartilhem os códigos de autenticação recebidos, desconfiem de conteúdos que ofereçam produtos com valor abaixo do preço de mercado e denunciem publicações e contas que considerarem suspeitas. Manter nossa comunidade segura é uma das nossas prioridades e uma área em que buscamos melhorar constantemente", diz trecho do documento, atribuído a um porta-voz da Meta.
A rede social também explicou que o processo de recuperação da conta não acontece de forma imediata, "uma vez que é preciso garantir que todos os requisitos de segurança sejam cumpridos para devolver a conta ao seu legítimo dono" e ressaltou que não existe qualquer serviço pago de recuperação de conta autorizado ou reconhecido pelo Instagram.
O Instagram também pontuou que a recuperação da conta deve ser feita pelos caminhos indicados na Central de Ajuda da plataforma e divulgou uma lista com dicas para manter a conta mais segura:
- Não compartilhe links ou códigos de acesso recebidos do Instagram por SMS ou WhatsApp. Eles podem dar acesso à sua conta.
- Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por um valor abaixo do preço de mercado.
- Ative a autenticação de dois fatores (por WhatsApp, SMS ou aplicativo como Duo Mobile ou Google Authenticator).
- Com essa etapa extra de segurança, você deve inserir um código de login especial sempre que houver uma tentativa de login de um dispositivo desconhecido. Para ativar, vá em Configurações > Segurança > Autenticação de dois fatores.
- Ative a Solicitação de login. Ao ativar a autenticação de dois fatores no Instagram, você receberá um alerta toda vez que alguém tentar entrar na sua conta por meio de um dispositivo ou navegador da web não reconhecido. Você pode aprovar ou recusar de imediato a solicitação nos seus dispositivos conectados. Sempre que desejar, também é possível ver uma lista dos dispositivos que entraram recentemente na sua conta do Instagram. Para isso, basta acessar "Configurações", "Segurança" e "Atividade de login".
- Verifique se seu número de telefone e e-mail estão atualizados no aplicativo. Se perder o acesso à conta, você poderá tentar recuperar mesmo que as suas informações tenham sido alteradas.
- Tenha uma senha segura. Certifique-se de que sua senha tem ao menos seis caracteres e tente usar uma combinação complexa que inclua números, letras e pontuações.
- Jamais informe sua senha a terceiros.
A reportagem também procurou saber se há um levantamento sobre a quantidade de golpes do tipo registrados no Estado nos últimos meses. Não houve, até o fechamento desta resposta, qualquer resposta do órgão sobre o assunto.
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