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Caso Marielle: Operação mira seis policiais ligados a Ronnie Lessa

A vereadora Marielle Franco foi morta em março de 2018 - Reprodução/Instagram
A vereadora Marielle Franco foi morta em março de 2018 Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo*

07/04/2022 08h48Atualizada em 26/04/2022 18h29

A Delegacia de Homicídios da Capital e a Corregedoria da Polícia Militar do Rio de Janeiro iniciaram na manhã de hoje uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão em endereços ligados a seis policiais militares próximos ao ex-policial Ronnie Lessa. Ele é acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. A ação foi confirmada pelo UOL.

De acordo com a "GloboNews", os alvos da operação tinham ligação com Lessa para a venda de armas, drogas e máquinas caça-níqueis. Em um dos endereços, a corregedoria da PM e os policiais civis encontraram armas e uma quantia de dinheiro em espécie. Ao menos 110 policiais da Delegacia de Homicídios e da Corregedoria participam da ação.

Ao UOL, a Polícia Militar informou que a "Secretaria de Estado de Polícia Militar e a Secretaria de Estado de Polícia Civil atuam em conjunto para cumprir 21 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro".

"Esta ação é um desdobramento do inquérito que investiga a morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Essa diligência não corresponde à elucidação do crime principal, e sim de crimes identificados ao longo do processo que corre em sigilo", esclareceu a corporação.

Os investigadores ainda apontaram que os seis policiais militares alvos da operação de hoje estão envolvidos com outros crimes.

Em 15 de março, Ronnie Lessa foi um dos alvos da operação deflagrada pela PF (Polícia Federal) para desarticular um grupo criminoso responsável por tráfico internacional de armas com envio dos itens dos Estados Unidos para o Brasil.

De acordo com fontes ligadas à investigação, Lessa foi alvo de um dos mandados expedidos pela Justiça no último mês. O mandado foi cumprido na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), onde o ex-policial está preso. Questionada pelo UOL à época da operação de março, a defesa de Lessa declarou que ainda "não tinha acesso ao conteúdo do mandado de prisão".

O policial militar Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle Franco - Marcelo Theobald/Agência O Globo - Marcelo Theobald/Agência O Globo
O policial militar reformado Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle Franco
Imagem: Marcelo Theobald/Agência O Globo

Operação da PF apurou envio de armas

A ação da PF foi realizada em conjunto com o MPF (Ministério Público Federal), Ministério Público Estadual, Gaeco/RJ e apoio da Unidade de Polícia Pacificadora — UPP Macacos, e ocorreu simultaneamente no Brasil e no estado da Flórida, nos EUA. O órgão afirmou que ao chegar ao Brasil, os armamentos eram posteriormente distribuídos para traficantes, milicianos e assassinos de aluguel.

Segundo o órgão, aproximadamente 50 policiais, membros do Gaeco/MPF e agentes norte-americanos cumpriram sete mandados de prisão preventiva e cinco de busca e apreensão na operação Florida Heat — nomeada em referência ao estado onde "as armas eram enviadas ao Brasil pelo grupo criminoso".

"As investigações, que já duram cerca de dois anos, desvendaram a existência de um grupo responsável pela aquisição de armas de fogo, peças, acessórios e munições nos EUA e, posterior, envio ao Brasil", disse a PF na ocasião.

A entrada dos armamentos em território brasileiro ocorria, segundo o órgão, através de rotas marítimas (com contêineres) e aéreas (por encomendas postais), e passava pelos estados do Amazonas, São Paulo e Santa Catarina, com o objetivo de chegar a uma casa no bairro de Vila Isabel, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro.

Investigação no Rio de Janeiro

Após a apreensão de 117 fuzis incompletos na casa de um amigo de Lessa durante as investigações do caso Marielle, a Polícia Civil do Rio abriu um inquérito para apurar o envolvimento do policial reformado com o tráfico internacional de armas.

A investigação conduzida pela Desarme (Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos) concluiu que Lessa, com o auxílio de uma filha que morava nos Estados Unidos, traficava componentes de armas para o Brasil ao menos desde 2014.

De acordo com o inquérito, Lessa adquiria peças de armas de grosso calibre em sites de países como China e Nova Zelândia. O material era entregue para sua filha, nos Estados Unidos.

Em seguida, ela remetia os componentes de armamentos para o Brasil, escondidos em caixas de outros produtos, como peças de metal. No Rio, Lessa usava oficinas improvisadas para montar o armamento. Na mesma operação em que os 117 fuzis foram apreendidos um desses locais usados por ele foi encontrado.

O inquérito foi remetido pelo MP-RJ para o MPF, já que o tráfico internacional de armas é um crime federal.

Lessa, sua esposa e outras duas pessoas também são réus por lavagem de dinheiro. De acordo com o MP-RJ, o policial reformado usava as outras três como laranjas para adquirir bens de luxo com recursos sem origem comprovada. Os promotores afirmam que apenas em contas em seu próprio nome Ronnie Lessa movimentou mais de R$ 5,7 milhões entre 2014 e 2019 — no mesmo período, ele recebeu apenas R$ 416 mil como PM.

Segundo o MP, os recursos serviram para que Lessa comprasse uma casa na orla da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio —o PM morava no condomínio Vivendas da Barra, o mesmo em que vivia o presidente Jair Bolsonaro (PL) até ser eleito. Lessa também comprou casas em Angra dos Reis e Mangaratiba, na Costa Verde do Rio, além de uma lancha e diversos carros de luxo.

Os promotores dizem que o dinheiro é oriundo de atividades criminosas como tráfico de armas, assassinatos por encomenda e do jogo do bicho.

*Com Igor Mello e Beatriz Gomes, do UOL, no Rio, e colaboração para o UOL, em São Paulo