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Mulher de 33 anos se forma em medicina após perder fala e movimentos em AVC

Elaine Luzia dos Santos se tornou médica e já atua na área  - Reprodução/RPC TV
Elaine Luzia dos Santos se tornou médica e já atua na área Imagem: Reprodução/RPC TV

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/04/2022 11h57

Uma estudante se tornou um símbolo de vitória e persistência em Cascavel (PR) ao se formar em medicina após perder a fala e todos os movimentos do corpo em um acidente vascular cerebral (AVC).

Elaine Luzia dos Santos, 33, se graduou pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e foi aplaudida por professores, colegas e familiares por não ter desistido de seu sonho apesar das dificuldades físicas que enfrenta, tornando-se a primeira tetraplégica a se formar em medicina no Brasil, segundo a RPC TV, afiliada da TV Globo no Paraná.

"Vocês também são corresponsáveis pelo meu sucesso. Vocês não apenas me acolheram, mas também tomaram parte de si por minha causa. Tenham amor no cuidado com cada paciente, em tudo que vocês fizerem", disse Elaine no discurso de colação de grau, com a ajuda de uma colega, já que não pode falar.

A tragédia

A jovem foi vítima de um AVC em 2014, aos 26 anos, quando começou a se sentir mal enquanto estava sozinha em sua casa. "Ela estava dormindo. E cerca de 2h da madrugada, ela acordou com náusea e foi para a cozinha para tomar remédio. Assim que chegou ao banheiro, ela teve um AVC. Caiu e perdeu a força, e ficou até às 15h aguardando por socorro médico. Não havia ninguém no local", relatou Isabella Alves, cuidadora de Elaine, à afiliada da Globo.

Antes do incidente, Elaine era conhecida como uma pessoa ativa, que estudava em período integral e praticava regularmente exercícios físicos. Os médicos apontaram que o AVC que ocorreu na paranaense é de um tipo muito raro. A lesão atingiu a ponte do tronco encefálico, região do cérebro localizada no canto superior da medula espinhal, responsável por regular a frequência cardíaca, respiração e pressão arterial. Em consequência disso, o fornecimento de sangue para essa área foi interrompido, o que, na maioria das ocorrências, é um quadro que leva à morte.

Elaine passou 30 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e ficou com sequelas. Agora, ela é vítima da síndrome do encarceramento, que consiste em uma condição na qual o paciente fica com o corpo totalmente paralisado, mas mantém a lucidez. No caso de Elaine, foram perdidas a fala e todos os movimentos do pescoço para baixo. Porém, a sua capacidade cognitiva foi preservada, o que garantiu a ela as condições básicas para continuar estudando e realizar seu sonho de se tornar médica.

Ela passou a se comunicar por meio da soletração, recorrendo ao olhar e uma tabela com letras divididas em cinco grupos, de um a cinco, para facilitar a formação de palavras. Além disso, perguntas com respostas "sim" e "não" são respondidas com olhar para cima ou para baixo, de acordo com sua pedagoga Clarice Palavissini, que a acompanhava durante as aulas.

"Quando eu sofri o AVC, eu já tive vontade de voltar para a faculdade. Não quis esperar", soletrou Elaine com o apoio da cuidadora.

A volta por cima

Segundo Clarice, a jovem médica nunca permitiu que suas dificuldades físicas fossem barreiras para seus objetivos, então sempre se manteve presente em todas as aulas e se esforçando para aprender ao máximo. "Dedicada, não gostava de faltar, e se esforçava para estar sempre. Um exemplo para os outros acadêmicos", disse Clarice.

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Elaine Luzia dos Santos atendendo pacientes em ambulatório em Cascável (PR).
Imagem: Reprodução/RPC TV

As evoluções de Elaine também contribuíram para que ela pudesse trabalhar em vários serviços no ambulatório com seus colegas. Para Rúbia Betânia Boaretto, professora da Unioeste, a estudante é a prova de que a inclusão é possível em todos os cenários e condições.

"A Elaine é inserida em um contexto de ensino com muita naturalidade, como dever ser. Nada foi feito de modo a facilitar a vida dela, nós a inserimos, mas nem por isso tornamos as coisas mais fáceis para ela", explicou Rúbia, à RPC TV.

Elaine auxilia os outros médicos nas consultas aos pacientes com o apoio da técnica de soletração e se mostrou bastante ágil e atenta na maneira como traduz as imagens dos exames. E graças a essa habilidade, ela pretende se especializar em Radiologia.

Após uma intensa jornada de lutas e superação, Elaine criou uma frase que define a sua vida: "Busque sempre ser o seu melhor", soletrou ela.