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Homem sofre convulsões e dores cardíacas após pisar em peixe-leão no CE

Peixe-leão em Fernando de Noronha - Thaiza Bucair
Peixe-leão em Fernando de Noronha Imagem: Thaiza Bucair

Do UOL, em São Paulo

26/04/2022 11h07Atualizada em 29/04/2022 10h20

Um homem teve que ser hospitalizado após sofrer convulsões ao entrar em contato com um peixe-leão na Praia de Bitupitá, em Barroquinha (CE). Segundo o jornal O Globo, a vítima foi identificada como Francisco Mauro da Costa Albuquerque, 24.

Ao UOL, o pesquisador do Labomar da UFC (Universidade Federal do Ceará) Marcelo Soares informou que ele estava num curral de pesca quando o acidente ocorreu. "Ele provavelmente pisou. Geralmente pescadores artesanais são mais vulneráveis porque não possuem proteção", disse.

Francisco foi socorrido na quinta-feira (21) por uma ambulância e levado a uma unidade hospitalar da cidade de Camocim devido à gravidade do quadro.

"Ele está agora no hospital pela terceira vez", disse Soares, que está acompanhando o caso com a família. Francisco relatou sofrer com dores, convulsões e febre ao encostar nos espinhos da espécie, originária do Indo-Pacífico. "Ele realmente teve duas paradas cardíacas. Só que isso é raro com o peixe-leão. Tem que se estudar e ver se essa reação foi realmente consequência do contato com a espécie", disse Soares. A informação foi corrigida na quinta-feira (28), uma vez que ficou comprovado que o homem não teve paradas cardíacas, apesar de ter, sim, sofrido com dores intensas na região do peito.

Esse foi o primeiro caso de acidente em campo registrado no Brasil.

O motorista Marcelo Torres foi quem socorreu Francisco. "Fiz o trajeto que dura 28 minutos em 19 minutos, por conta da dor do rapaz. Tão grande que não deixava ele falar. Na segunda vez que ele foi ao hospital, chegou convulsionando", disse Torres, ao jornal O Globo.

Peixe-leão no Brasil

A espécie de peixe está sendo monitorada por biólogos há pelo menos um mês. Em março deste ano, pescadores informaram que avistaram o peixe-leão em águas rasas em março deste ano, na região do litoral do Piauí e do Ceará.

"Ainda é uma coisa muito recente. Desde março, encontramos mais de 30 indivíduos desta espécie", conta Soares.

Os avistamentos de peixes-leões no Brasil, no entanto, ocorreram pela primeira vez no Rio de Janeiro, entre 2014 e 2015. "Foi uma situação de um ou dois peixes ligados a um aquário. Depois disso, nunca mais apareceu", relata o biólogo.

"Em 2020, a espécie foi encontrada no litoral do Pará, na costa da Amazônia, mas em altas profundidas, entre 40 e 100 metros, por pescadores. Então, no ano passado, começaram muitos registros em Fernando de Noronha, também em águas profundas. E, neste ano, chegamos a encontrá-los em águas rasas, algo inédito. Os peixes estavam entre 0 e 8 metros de profundidade no Piauí e Ceará."

Ainda, segundo Soares, os animais são vistos no Brasil normalmente em currais de pescas e marambaias (espécie de recife artificial). Ele se adapta tanto em águas rasas quanto profundas, chegando até os 300 metros.

Acredita-se que eles venham do Caribe, região onde causou muitos problemas devido à rapidez de reprodução e falta de predadores.

"Mergulhadores já tentaram limpar em algumas zonas no Caribe, mas depois de um tempo ele aparece de novo. O peixe dá no fundo e depois sobe. Os registros do surgimento dele no local são da década de 1980", diz o biólogo.

A presença da espécie na região ainda é objeto de estudo. Soares diz que especialistas trabalham com duas hipóteses. A primeira é a de que esteja ligada a um resort que tinha um grande sistema de aquário e foi afetado por algum furacão, que é comum na região. Após o fenômeno, os animais acabaram sendo liberados para o mar. Outra hipótese é a de que eles tenham sido acidentalmente jogados nos oceanos por aquários da região.

A presença no Brasil, por sua vez, pode estar ligada a uma corrente marítima que acaba trazendo os animais para um recife presente no Rio Amazonas. "Possivelmente o peixe-leão está usando esse recife para invadir o Brasil, já que não há possibilidade de ser originário de aquários, ainda mais essa quantidade que já foi encontrada", diz Soares.

O peixe-leão pode afetar a biodiversidade local, a pesca artesanal, o turismo, e também ser um problema de saúde pública. Ele se reproduz com muita facilidade: uma fêmea é capaz de colocar 2 milhões de ovos. Além disso, a falta de predador nativo faz com que o animal tenha chances maiores de sobrevivência.

Desde a primeira aparição em Fernando de Noronha, já foram capturados 38 peixes-leões. Ao todo, 60 avistamentos foram relatados, o que significa que outros 22 peixes podem estar vivendo no local.