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Quem é o morador de rua suspeito de matar dois policiais em Fortaleza?

Marcel Rizzo

Colaboração para o UOL, de Fortaleza

20/05/2022 13h16Atualizada em 20/05/2022 15h44

Em meados de 2021, Antônio Wagner Quirino da Silva, 31, deixou Aratuba, interior do Ceará, e a família nunca mais teve notícias. Até quarta-feira (18), quando Silva morreu na altura do quilômetro 6 da BR-116, em Fortaleza.

Segundo a polícia, ele é o homem que aparece em um vídeo atirando e matando dois policiais rodoviários federais na manhã de quarta-feira. Silva teria sido baleado e morto por outros agentes de segurança na sequência. A investigação o aponta como um andarilho que vivia nas ruas e tenta refazer os passos do homem que saiu de Aratuba, cidade a 120 km da capital cearense, há um ano.

Foi descartada a participação de outras pessoas nas mortes dos policiais —as polícias Civil e Federal apuram o caso.

Silva trabalhava como pedreiro em Aratuba, segundo depoimento que uma irmã deu à polícia. Sempre teve uma vida pacata, até ser envolvido no roubo de uma moto —a polícia ainda tenta entender se ele teve o veículo roubado ou foi acusado do crime. A reportagem tentou localizar a família dele, mas não conseguiu.

 Antônio Wagner Quirino da Silva, suspeito de matar dois policiais rodoviários em Fortaleza - Reprodução - Reprodução
Antônio Wagner Quirino da Silva, suspeito de matar dois policiais rodoviários em Fortaleza
Imagem: Reprodução

O relato é que Silva sofreu um surto emocional após isso e deixou Aratuba, cidade que fica na serra de Baturité, uma região que recebe muitos turistas, principalmente fortalezenses, para aproveitarem as temperaturas um pouco mais amenas durante todo o ano.

Sem mulher e filhos, Silva vivia nas ruas de Fortaleza pelo menos desde o final de 2021, segundo as investigações. Ele não tinha antecedentes criminais e se apura se ele foi a pé de Aratuba até a capital e se passou parte do período em Guaramiranga, cidade vizinha a Aratuba na serra de Baturité.

Na terça-feira (17), um dia antes da morte dos policiais, Silva aparece em um vídeo que circula pelas redes sociais andando em meio a carros —como fazia na BR-116 quando foi morto—, desta vez na rua Monsenhor Salazar, no bairro São João do Tauape.

Essa rua é próxima à rodovia e cerca de 5km distante de onde Silva e os policiais morreram na alça de acesso da avenida Oliveira Paiva, no bairro Cidade dos Funcionários, importante ponto de ligação entre a região sul de Fortaleza e o centro da cidade.

A polícia tenta descobrir se Silva passava as noites em algum lugar fixo nas ruas da capital cearense.

O caso

Os policiais rodoviários federais mortos são Raimundo Bonifácio do Nascimento Filho, 43, e Márcio Hélio Almeida de Souza, 53. Segundo relatos de pessoas que trafegavam pela rodovia, Silva andava pelo meio dos carros quando foi abordado pelos policiais.

raimundo e marcio - PRF-CE/Divulgação - PRF-CE/Divulgação
Raimundo (à esquerda) e Márcio Hélio (à direita) foram mortos na manhã de hoje em Fortaleza
Imagem: PRF-CE/Divulgação

A investigação apura o que aconteceu depois, mas relatos dizem que quando eles tentavam tirar Silva do local, começou uma luta corporal, o homem teria desarmado um dos policiais e atirado em ambos.

Ele então teria pegado a arma do segundo policial e saído com as duas nas mãos, andando pela rodovia, até ser baleado em ação de outros dois policiais que passavam pelo local, à paisana, e presenciaram a cena.
A polícia investiga o que houve para que Silva conseguisse pegar a arma dos policiais --não há indícios de que ele tivesse experiência no manuseio.

"Para atirar até uma criança atira. Entendemos como fatalidade os tiros terem sido certeiros daquela forma. Poderiam pegar em outras pessoas que estavam passando ali, em ônibus, infelizmente atingiram nossos colegas de uma forma fatal", disse o inspetor Darlan Antares, chefe da 3ª delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em entrevista coletiva.

A perícia pretende apontar se houve falha em uma trava que há no coldre dos policiais ou se eles estavam empunhando as armas. A suspeita é que abordaram o homem inicialmente achando que se tratasse de um assalto a ônibus, já que o chamado de que o homem estava na via partiu de pessoas que usavam o transporte coletivo.

"O que impede de alguém acessar a arma é o coldre, então todos os coldres têm uma trava. Como que a trava do coldre foi destravada e o cidadão teve acesso à arma? Ou então o policial poderia estar com a arma na mão quando viram que era um andarilho. Ninguém sabe o que aconteceu a partir daí, se guardaram o armamento, se continuaram com ela, se houve a luta corporal. Eles foram salvar a vida do andarilho, foram lá para evitar que ele fosse atropelado e aconteceu o inesperado", disse Darlan Antares.

Silva foi identificado pela necropapiloscopia, por meio das impressões digitais — o que fez ser possível localizar a família.