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Moradores relatam terror em ação no Complexo da Penha: 'Acordei com tiros'

Ação policial na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, deixou 21 mortos na manhã de hoje - Divulgação
Ação policial na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, deixou 21 mortos na manhã de hoje Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

24/05/2022 11h28Atualizada em 24/05/2022 18h43

Moradores narraram momentos de terror durante a ação do Bope (Batalhão de Operações Especiais), em conjunto com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), que deixou 22 mortos no início da manhã de hoje no Complexo da Penha. Segundo postagens nas redes sociais, uma das vítimas é Gabriele Ferreira, de 41 anos, moradora do local.

Cofundadora do Coletivo Papo Reto e moradora do complexo, Renata Trajano detalhou as "rajadas" de tiros ouvidas na favela e disse ter "acordado no susto" em meio aos disparos.

"Acordei no susto ouvindo tiros... A certeza [de] que seu sono sempre é interrompido de forma cruel e violenta", escreveu ela às 4h09 de hoje, pouco mais de uma hora antes de compartilhar fotos escondida em "um lugar seguro" de sua casa, onde se escondia dos disparos.

"Estamos no lugar mais seguro da nossa casa, o beco. As rajadas ecoam nos nossos ouvidos e chega a doer. 'Por que vocês não se mudam?'. Porque não temos condição e a nossa condição no momento é estar aqui. Não desejo a ninguém o que passamos nesse território", desabafou Renata.

"Se você está deitado em sua cama nesse momento, você é privilegiado sim. Aqui na favela, já tem gente deitada no chão, no corredor, no beco e/ou no cantinho considerado mais seguro da casa. Não temos paz!", lamentou Camila Moradia, fundadora do coletivo Mulheres em Ação no Alemão (MEAA).

Já às 10h26 de hoje, ela voltou a relatar mais tiros na região, destacando ainda que chefes de família e crianças estão presos em casa, impedidos de sair para trabalhar e com aulas canceladas.

"Não nos permitem VIVER. Violam nossa SOBREVIVÊNCIA. Meu sonho é que um dia tenhamos políticas públicas comprometidas com a vida e que nos garantam VIVER!!!! É muito tiro! Muito tiro mesmo", completou.

"A operação começou de madrugada no Complexo da Penha e agora o clima está tenso no Complexo do Alemão. A vida de toda uma região impactada com a operação de hoje. Mortes, escolas fechadas, pessoas que não conseguiram sair pra trabalhar. Um desespero enorme nesse momento!", relatou Raull Santiago, ativista e fundador da agência de publicidade BRECHA hubdefavela.

O líder comunitário ainda fez uma segunda postagem mostrando as mensagens da escola de um de seus filhos, cancelando as aulas para a tarde de hoje e informando os pais dos estudantes do turno matutino que eles já estão liberados das atividades do dia, em meio ao intenso tiroteio na região.

A situação na Penha também repercutiu entre políticos e ativistas que moram fora da zona da ação.

Joel Luiz Costa, coordenador do Instituto Defesa da População Negra definiu o resultado da operação como a "barbárie carioca de cada dia!".

"Ao menos 11 pessoas morreram durante operação no Complexo da Penha, no Rio. É inaceitável que o morticínio seja o padrão de ação as operações policiais. E, como sempre, são as comunidades que sofrem com a violência do estado. Por que há territórios que se pode chegar atirando?", questionou o deputado federal David Miranda (PDT-RJ).

"11 mortos no Complexo da Penha. Escolas fechadas, moradores em pânico. Não se sabe o que a Polícia Rodoviária Federal está fazendo na comunidade, já que lá não tem rodovia federal. O Rio de Janeiro está completamente à mercê da política de segurança do terror", criticou a deputada estadual Mônica Francisco (Psol-RJ).