'Me fingi de morta', lembra sobrevivente de tiros de policial no PR
A advogada Milena Christie Brotto fingiu estar morta para escapar dos tiros do policial federal Ronaldo Massuia Silva, que fez 15 disparos em apenas um minuto dentro de uma lanchonete em Curitiba, no Paraná.
A mulher se escondeu atrás do corpo do namorado, André, que foi morto no ataque, após ser atingido por três dos tiros do suspeito, preso ainda no local. Ronaldo, que parecia alterado, se envolveu em uma discussão com o segurança do comércio, mas deixou o estabelecimento acompanhado de uma mulher. Minutos depois ele voltou, sozinho, e iniciou o tiroteio, ferindo outras três pessoas.
"Na volta ele decidiu comer, porque ele adorava aquele sanduíche, ele comia lá toda semana. A gente escutou os tiros, era muito tiro, aí o André me abraçou, que a gente estava agachado, e ele (Ronaldo) começou a atirar", lembrou Milena, em entrevista ao "Fantástico", exibido ontem.
Ela conta que o suspeito de aproximou dela em certo momento, com André já ferido, e que sua única alternativa foi se esconder atrás do namorado, que ainda emitia barulhos.
"Eu penso: 'Poxa, se ele vê que eu estou viva ou se eu gritar ele também atira em mim'. Então me fingi de morta", explicou ela, ao programa da TV Globo.
O ataque aconteceu no final da noite de 1° de maio. Eduardo Pribbnow da Cruz e a namorada, Priscila de Almeida, também são sobreviventes do episódio de violência. Ao contrário de Milena, que não foi atingida por disparos, os dois foram feridos pelos tiros do agente.
"Eu não vi ele vindo, porque nós estávamos no chão, tentando nos proteger. Depois que eu fui ver o que realmente estava acontecendo, quando eu senti a minha perna. Falei: 'Meu Deus, eu levei um tiro'. E aí eu fui sentindo mais dores. Foi onde eu senti a dor do peito. O tiro da barriga, eu só fui ver no hospital. Por que eu senti muito forte a minha perna e senti muito no peito, até porque atingiu o pulmão", conta Priscila, que trabalha como motorista.
Já seu namorado, Eduardo, foi alvejado na cabeça e na perna. Ele perdeu a visão em um dos olhos.
"Ele foi me dar um tiro na cabeça e eu botei a mão na frente. Aí a bala pegou no meu relógio, e o relógio no punho, e os estilhaços voaram no meu olho, os estilhaços do meu relógio", explicou o rapaz também em depoimento ao Fantástico.
Fotos anexadas ao inquérito mostraram que horas antes do tiroteio Ronaldo esteve em uma casa noturna de Curitiba, onde discutiu com um homem. O dono da boate ligou para uma amiga do policial, que foi até o local para tentar acalma-lo. Ela seria a mulher vista acompanhando o suspeito na lanchonete.
Após os disparos, o homem ficou alguns minutos sentado em uma mureta em frente ao comércio, até a chegada da polícia. Ao ser preso, o federal disse que preferia não falar, mas afirmou que "de alguma forma, no princípio das coisas, eu agi em legítima defesa", alegando ainda que estava "emocionalmente abalado".
O inquérito já foi concluído e Ronaldo foi indiciado por homicídio e sete tentativas de homicídio, contando também os clientes e funcionários que não conseguiu ferir. A Polícia Federal "instaurou processo disciplinar" sobre o caso.
Já o advogado do policial, Alexandre Salomão, declarou apenas que seu cliente "está sob observação psiquiátrica no Complexo Médico Penal".
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