Funcionário com deficiência é agredido por seguranças de shopping em SP
Um funcionário negro de um McDonald's foi agredido no Shopping Iguatemi Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, após não ouvir um pedido de uma segurança do local para abaixar o volume do celular dele na praça de alimentação. Fábio Junio Deodato de Souza, 23, tem deficiência auditiva, é autista e trabalha há três anos no estabelecimento, em vaga destinada para pessoas com deficiência.
O caso ocorreu no sábado (28). Fábio estava jantando sem o uniforme, conforme as regras da empresa, enquanto assistia a vídeos e ouvia música pelo celular na praça de alimentação. Segundo a advogada dele, Laura Parodi, uma segurança se aproximou e pediu para que ele abaixasse o volume do celular. No entanto, o jovem não escutou o pedido por ter problemas de audição. A funcionária então começou a gritar com ele, acionado outros seguranças.
"Ele estava já quase retornando ao trabalho quando um segurança começou a segui-lo. Ele percebeu a movimentação e perguntou ao segurança o que ele tinha feito e o motivo dele estar encarando tanto. Então, o segurança partiu para cima dele, falando que ele era bandidinho, que não tinha que estar ali", relatou Laura em entrevista ao UOL.
Fábio foi vítima de socos e pontapés e, em seguida, foi arrastado até uma sala fechada, com outro segurança proibindo a entrada. Em vídeo gravado por uma das testemunhas, pessoas aparecem tentando questionar o motivo da detenção. "Ele estava jogado no chão e eles em cima dele", relata uma mulher ao fundo. "Eu vou gravar, não pode. Não pode bater", comenta outra.
Segundo a advogada, outros funcionários da rede de fast food tentaram avisar aos seguranças que Fábio tinha deficiência, mas a informação teria sido ignorada. "Uma segurança ameaçou a pessoa que estava filmando para que a cena não fosse gravada. Por fim, uma treinadora dos funcionários do McDonalds tentou entrar, foi impedida, e a que seria gerente de um outro estabelecimento foi lá e conseguiu entrar."
Laura diz que Fábio trabalha há três anos no estabelecimento e é "superconhecido" pelos funcionários do shopping. Ela acredita que a situação foi motivada pela deficiência dele e por preconceito racial. "O crime de lesão de corporal e ameaça foi por preconceito tanto pela cor, quanto pela deficiência. No momento que foi informado que ele era deficiente e eles continuaram agredindo, eles estavam cientes do que estavam fazendo", pontua.
Fábio ficou com hematomas pelo corpo e apresentou forte dor de cabeça após as agressões. Ele recebeu atendimento médico e fez exames, que constataram que os ferimentos não foram graves. "A parte psicológica é que está abalada. Tanto a dele quanto a da família, que é bem unida", explica Laura.
O caso foi registrado como lesão corporal na CPJ (Central de Polícia Judiciária) de Ribeirão Preto e encaminhado ao 7° DP. A SSP-SP (Secretaria de Segurança de São Paulo) confirmou que consta no boletim de ocorrência que Fábio foi vítima de chutes e socos por seguranças do estabelecimento comercial.
"Foi solicitado exames junto ao IML (Instituto Médico Legal) e a vítima foi orientada quanto ao período decadencial de seis meses para representação criminal contra os autores", disse a secretaria.
O Shopping Iguatemi Ribeirão Preto informou que o segurança faz parte de uma empresa tercerizada e que "o incidente foi rapidamente contido e a polícia acionada para apuração do caso."
"O empreendimento solicitou o afastamento do prestador de serviço terceirizado até que a questão seja averiguada e continua à disposição das autoridades competentes para colaborar com a investigação sobre o ocorrido. O Shopping reitera que repudia e não compactua com nenhum tipo de violência", diz comunicado.
A empresa responsável pela segurança do centro comercial, a Resolv, disse que um dos funcionários envolvidos está afastado até o encerramento das investigações e que está acompanhando e apoiando as diligências das autoridades.
"Reforçamos que a Resolv presta serviços no referido local desde sua inauguração e que possui processos atuantes e rígidos quanto aos treinamentos e orientações sobre atendimento humanizado, tendo como norte seu código de ética e conduta", disse comunicado.
Em nota encaminhada ao UOL, o McDonalds disse que repudia atos de violência e que está em contato com o funcionário e a família dele para oferecer o suporte necessário. "A companhia reforça que é contrária a atitudes que desrespeitem a integridade física e/ou psicológica de qualquer pessoa e que está à disposição das autoridades", observou o McDonalds em nota.
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