Sobe para 120 o número de mortos por causa das chuvas em Pernambuco
Ao menos 120 pessoas morreram e quatro estão desaparecidas por causa das chuvas que atingiram Pernambuco entre quarta-feira (25) e o início da noite de hoje (1), informou a Defesa Civil do estado. Uma pessoa que foi levada pela enxurrada no bairro de Paratibe, em Paulista, no Recife, permanece sendo procurada por mergulhadores do Corpo de Bombeiros e da Marinha do Brasil.
O total de desabrigados subiu para 7.312. Essas pessoas estão em 66 abrigos distribuídos em 27 municípios.
O governo decretou situação de emergência, assim como 24 municípios. O decreto de situação de emergência permite que os municípios solicitem recursos do Sistema Nacional de Defesa Civil.
Os municípios em emergência são: Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, São José da Coroa Grande, Moreno, Nazaré da Mata, Macaparana, Cabo de Santo Agostinho, São Vicente Férrer, Paudalho, Paulista, Goiana, Timbaúba, Camaragibe, breu e Lima, Aliança, Araçoiaba, Bom Jardim, Glória do Goitá, Igarassu, Limoeiro, Passira, São Lourenço da Mata e Vicência.
Além do decreto, R$ 100 milhões foram disponibilizados para os trabalhos de busca e salvamento nas áreas atingidas, assim como para obras de infraestrutura nos municípios atingidos pela chuva.
Na capital Recife, a Prefeitura divulgou que há 3.811 pessoas alojadas em 34 abrigos emergenciais temporários. A administração também notificou 148 ocorrências desde o início das chuvas, há quase uma semana, e informou que 15 mil toneladas de resíduos sólidos já foram removidas da cidade.
Governo federal adota urgência
A AGU (Advocacia-Geral da União) determinou, em portaria publicada hoje (31), a redução de prazos para que a União possa ajudar Pernambuco e Alagoas por causa das chuvas.
Com isso, manifestações jurídicas sobre licitações vão passar a tramitar em até 72 horas ao invés de 15 dias. Já as dispensas de licitação, que duravam cerca de cinco dias para sair, serão liberadas em até 48 horas.
A Agência Pernambucana de Águas e Clima divulgou que as chuvas devem continuar até a sexta-feira (3) na região metropolitana do Recife e na Zona da Mata, embora com volume reduzido.
A intensidade das precipitações e os riscos de novos deslizamentos levaram o Corpo de Bombeiros do estado a interromper, durante alguns momentos, as buscas em áreas que foram afetadas pelas chuvas.
Em entrevista ao UOL News de ontem, a meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) Morgana Almeida afirmou que, apesar da redução da intensidade, o solo molhado ainda é um risco para as regiões atingidas.
"A situação ainda é preocupante porque o solo está bastante encharcado, há muitos pontos em que a água não retornou ao nível normal, com muitos alagamentos", disse ela.
Fenômeno atípico
As fortes chuvas que atingiram o Recife e cidades vizinhas foram provocadas por um sistema climático conhecido como Distúrbio Ondulatório de Leste. Ele tem como uma de suas principais características o deslocamento da massa de ar do oceano Atlântico para o continente.
Ele se movimenta em ondas. "A primeira onda vem trazendo chuvas de moderadas a fortes. O segundo movimento é caracterizado pela ausência ou reduzida precipitação. Na terceira onda, normalmente, podemos esperar chuvas ainda mais intensas", explicou o meteorologista Fabiano Prestelo, da Apac (Agência Pernambucana de Águas e Climas).
Segundo ele, a primeira onda observada no Distúrbio Ondulatório Leste deste ano foi justamente da última terça para a quarta. Neste momento, o fenômeno está começando a se dissipar.
Previsão do tempo
De acordo com a Agência Pernambucana de Águas e Clima, apesar da redução no volume, as precipitações devem continuar, com intensidade moderada, até a próxima sexta-feira (3), na região metropolitana do Recife e na Zona da Mata, "diminuindo no final de semana no litoral pernambucano".
Plano contra tragédia demorou 2 dias
O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão federal ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, emitiu um boletim geo-hidrológico na última quarta-feira (25) em que alertou para o "risco alto" de chuvas intensas e de deslizamentos na região metropolitana do Recife.
Mesmo com o alerta, a prefeitura da capital pernambucana só acionou o plano de contingência na sexta-feira (27), quando a Apac (Agência Pernambucana de Águas e Clima) emitiu um outro comunicado informando a previsão de chuva intensa para o final de semana. Entre sexta e ontem, o estado contabilizava 79 pessoas mortas em consequência das chuvas e 3.957 desabrigados.
Procurada, a Prefeitura do Recife confirmou ter usado como referência os alertas da Apac.
Plano de contingência é um planejamento previsto em lei federal de 2012, determinando que os municípios tenham definidas ações de proteção e defesa civil. Elaborado a partir de uma hipótese de desastre, é nele que está a definição de procedimentos, ações e decisões em caso de eventos extremos, com preparação e resposta ao ocorrido.
História de perdas
Eram 2h do sábado (28), chovia forte no Recife e a dona de casa Camila Barbosa da Silva, 24, nem sequer conseguia cochilar. Moradora da comunidade ribeirinha B13, na zona oeste da cidade, às margens do Capibaribe, estava apreensiva e temia pela segurança dela e dos filhos pequenos, de 2 e 5 anos.
Durante duas horas, o nível do rio parecia ter estabilizado. Ela tinha esperanças de que tudo acabasse bem, como em outras chuvas. Mas desta vez foi diferente. Camila disse que nunca viu a água do rio subir tanto e tão rápido.
"De repente, subiu com tudo, feito uma avalanche. Em poucos minutos, a maré já estava na minha cintura. Só deu tempo de pegar meus filhos e chegar até a casa da minha mãe, que fica um pouco mais em cima", contou ao UOL a dona de casa, que perdeu todos os móveis.
Mais de 90 pessoas morreram em cidades do Grande Recife em decorrência das fortes chuvas desde a última quarta-feira (25). O total de desabrigados é de cerca de 5.000 moradores, segundo a Defesa Civil do estado. O governo decretou situação de emergência, assim como 14 municípios da região metropolitana.
Com 61 anos e dificuldade para se locomover, Maria Lúcia de Arruda, que mora com o marido de 70 anos na comunidade, acredita que também não tem mais condições de viver no local.
Vivemos momentos de terror, muita água, com medo de levar choque elétrico, o chão escorregando e nossas coisas sendo levadas pela água"
Maria Lúcia de Arruda, 61
Do lado de fora das casas, pelos becos da comunidade, ficou o rastro do estrago causado pelo temporal: geladeiras quebradas, móveis destruídos, panelas espalhadas pelo chão e até mesmo uma jangada arrastada do rio pela correnteza.
"Só hoje [segunda], quando a chuva passou e a água do rio desceu, conseguimos voltar para ver os estragos. Começamos a limpar e organizar tudo. Vamos ver o que será possível de recuperar", disse Felipe.
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