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'Será que vão encontrar?': o drama de famílias de desaparecidos no Recife

31.mai.2022 - Queda de barreira na comunidade do Buracão, na zona oeste do Recife - Rosália Vasconcelos/UOL
31.mai.2022 - Queda de barreira na comunidade do Buracão, na zona oeste do Recife Imagem: Rosália Vasconcelos/UOL

Rosália Vasconcelos

Colaboração para o UOL, do Recife

01/06/2022 04h00

Além da perda, a angústia à espera de que os corpos sejam encontrados. Esse é o sentimento das famílias de três pessoas que desapareceram no último sábado (28) no Buracão, na zona oeste do Recife. Nessa comunidade do bairro do Barro, deslizamentos de morros fizeram 12 vítimas —seis delas encontradas no dia da tragédia e três ontem (3).

"Toda hora chega uma informação de que encontraram algum corpo. A gente vem na esperança de que seja o da minha tia e do neto dela. Mas, quando a gente chega e vê que não é, bate uma angústia. Vão passando os dias, volta a chover e nós ficamos desesperados. Será que vão conseguir encontrar?"
Valéria Bezerra, sobrinha de Tereza Raimundo Bezerra

O corpo de Tereza, 84, não havia sido encontrado até a noite de ontem, quando chovia intensamente na capital pernambucana.

Ao menos 106 pessoas morreram desde a semana passada em decorrência de fortes chuvas no Grande Recife, e cerca de 6.200 pessoas estão desabrigadas. Até a noite de ontem, dez pessoas continuavam desaparecidas na região metropolitana —oito delas identificadas, segundo a Defesa Civil do estado.

As precipitações dificultam as buscas, obrigando que os bombeiros interrompam os trabalhos em razão da instabilidade do solo. Além disso, a lama volta a inundar as escavações.

Tereza estava em casa com o neto Ulisses Bezerra, 21, no momento em que a segunda barreira desabou na comunidade do Buracão, por volta das 8h do sábado.

"Minha família toda está muito abalada. Eu não moro nessa comunidade, moro em Afogados [outro bairro do Recife], mas, desde sábado, estamos aqui na expectativa, acompanhando as buscas. Só vamos conseguir dormir e voltar para casa, quando acharmos nossos parentes", diz Valéria.

Além de Tereza e Ulisses, outra vítima desaparecida na comunidade é Arthur, de apenas sete anos.

Na hora do deslizamento, a criança estava em casa com a tia Gabriela, 22, o marido dela, Fábio, 27, e a prima Gabriela, de sete anos. Os corpos do casal e da menina foram encontrados ontem —três dias após o imóvel ter sido soterrado—, mas não o de Arthur.

31.mai.2022 - Movimentação na comunidade do Buracão, onde três pessoas estão desparecidas - Rosália Vasconcelos/UOL - Rosália Vasconcelos/UOL
31.mai.2022 - Movimentação na comunidade do Buracão, onde três pessoas estão desparecidas
Imagem: Rosália Vasconcelos/UOL

Quando o Corpo de Bombeiros sinalizou ontem que havia encontrado vítimas, o pai do menino foi até a lama na esperança de reconhecer o corpo do filho. Ele ficou desesperado quando descobriu que Arthur não estava entre os três encontrados.

Sem sucesso, o pai da criança tentou chegar perto dos escombros, mas foi impedido pelos bombeiros em razão do risco. Desolado, precisou ser amparado por familiares. "Não temos condições de conversar", disse o irmão gêmeo do pai de Arthur à reportagem.

Segundo Daniel dos Santos, 21, primo da criança e também morador do Barro, a tragédia só não foi maior porque Franciele, mãe de Arthur, estava com o outro filho dela —de apenas sete meses de vida— na UTI de um hospital, com problemas respiratórios.

"Minha prima perdeu, de uma só vez, o filho, a mãe e a irmã. E ainda está com o outro filho na UTI. Ela está em choque", afirmou Santos.

A mãe dela, Rosileide, foi soterrada na primeira queda de barreira ocorrida no sábado no Buracão. O primeiro deslizamento ocorreu às 5h, matando ao menos outras duas pessoas —os corpos de Maria Cristina da Silva, 55, e do esposo dela, Marcos, foram retirados pelos próprios moradores no sábado.

Segundo moradores relataram ao UOL, as equipes de resgate demoraram a chegar.

Na manhã de ontem, uma segunda retroescavadeira foi levada à comunidade para auxiliar na retirada da lama. Participam das buscas equipes do Corpo de Bombeiros da Paraíba e da Bahia, além da Defesa Civil do Rio de Janeiro.

"Muitas vezes, os bombeiros precisam parar porque fica arriscado continuar. Nós estamos aqui acompanhando tudo", afirmou Valéria.