'Que ser humano faria mal a uma criança?', diz Jairinho em interrogatório
O ex-vereador Jairo Souza Santos Junior, o Dr. Jairinho, negou hoje em interrogatório à 2ª Vara Criminal do Rio de Janeiro que tenha assassinado o enteado Henry Borel, de 4 anos. "Quem é o ser humano que é capaz de fazer mal a uma criança? Existe? Existe, eu sou médico já vi acontecer diversas vezes, mas esse não é o meu perfil. Essa roupa não em cabe", disse o réu.
Jairinho —que é acusado do crime juntamente com a mãe do menino, Monique Medeiros— rebateu acusações da ex-companheira sobre seu comportamento ciumento e contradisse declaração dela sobre a instalação de localizador no celular. "Tínhamos ciúme mútuo", afirmou.
"Eu ouvi a Monique aqui falando que botou um localizador no meu telefone ou eu botei um localizador no telefone dela. Ela em determinado dia pegou meu telefone e colocou a localização dela no meu telefone. Eu não sei mexer muito bem em telefone", contou. O episódio foi escolhido pelo ex-vereador para mostrar como a relação tinha ciúmes dos dois lados.
Em seu interrogatório, em 9 de fevereiro, Monique relatou uma série de episódios considerados abusivos na relação com Jairinho. Ela afirmou, na ocasião, que Jairinho monitorava seus passos por meio de geolocalizador que ele instalou no celular dela. Um dos relatos narra uma agressão por parte do ex-vereador —ocasião em que, segundo Monique, ele a enforcou na cama enquanto ela dormia ao lado do filho.
Ao relatar que o namorado tinha a geolocalização do seu celular, Monique também contou uma ocasião em que estava malhando em uma academia de ginástica e Jairinho telefonou, perguntando como ela estava vestida.
Jairinho também citou seu histórico familiar para negar que pudesse fazer mal a Henry.
"Eu juro por Deus que nunca encostei em nenhuma criança, eu nunca fiz isso na minha vida. Meu histórico permite dizer isso. Eu sou nascido e criado em Bangu [zona oeste do Rio de Janeiro]. Minha família é pautada em cima do amor, do entendimento. Eu nunca apanhei do meu pai e da minha mãe", disse.
Interrogatório começa com bate-boca
A sessão começou com briga entre os advogados dele e a juíza Elizabeth Machado Louro.
O estopim da briga foi uma reclamação da promotora do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) sobre postagens em que os advogados de Jairinho concordavam com a alcunha de "Rainha de Copas", dada a ela pelo procurador-geral nacional de prerrogativas da OAB, Alex Sarquis, em evento da Ordem.
Após a juíza ordenar que os advogados só ficassem de pé quando estivessem com a palavra, os defensores de Jairinho se negaram a seguir a ordem. Louro afirmou que não permitiria que o interrogatório começasse naquela configuração.
"Eu estou mandando sentar, não quero 30 advogados em pé me afrontando. Eu não quero e não vou continuar [a sessão]", disse Louro. A magistrada sugeriu que só estivesse de pé o advogado com a palavra.
A posição dos advogados durante toda a discussão bloqueou a imagem de Jairinho para as câmeras oficiais do Tribunal de Justiça. Enquanto a juíza insistia que não poderia continuar a sessão com todos os advogados de pé, a defesa fazia uma espécie de "cordão de isolamento" para Jairinho que, sentado, não aparecia nas câmeras.
Depois de 30 minutos, os advogados de Jairinho acataram a ordem da juíza, quando ela deixou de ordenar e passou a pedir que eles permanecessem sentados. Em relação à alcunha de "Rainha de Copas", Louro afirmou:
Nós mulheres estamos acostumadas com misoginia, isso é claramente misógino, não merece nem um comentário. Achei deselegante, mas tão pobre que não vou nem me manifestar. É mais uma manifestação misógina a qual estou mais do que acostumada."
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