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Brasileiro residente nos EUA é preso pela Interpol por racismo e homofobia

Thiago Cabral foi detido dos Estados Unidos após ser acusado por cinco moradores de Quirinópolis, em Goiás - Reprodução/ TV Anhanguera
Thiago Cabral foi detido dos Estados Unidos após ser acusado por cinco moradores de Quirinópolis, em Goiás Imagem: Reprodução/ TV Anhanguera

Colaboração para o UOL, de São Paulo

14/06/2022 16h13Atualizada em 14/06/2022 21h34

O goiano Thiago Mendes Cabral foi preso pela Interpol, nos Estados Unidos, no último domingo (12), após um pedido de prisão preventiva ser emitido pelas autoridades brasileiras. Segundo a Polícia Civil de Goiás, ele é suspeito de praticar crimes de racismo e homofobia contra cinco moradores de Quirinópolis, no sudoeste do estado.

Os ataques, de acordo com a delegada Camila Simões, aconteciam desde 2020, por meio de aplicativos de mensagens. Uma das vítimas é Nubyano do Nascimento Pereira, Secretário de Esportes de Quirinópolis, que já havia denunciado o agressor em 2021.

Em posicionamento enviado ao UOL, a delegada informou que "o pedido de prisão preventiva foi apresentado pela Polícia Civil de Quirinópolis para garantia da ordem pública, uma vez que o autor seguia praticando crimes de forma reiterada pelas redes sociais".

Cinco vítimas registraram ocorrências entre os anos de 2020 e 2021, e as ofensas iam desde xingamentos pessoais, a agressões racistas e homofóbicas. Todas as mensagens e áudios foram anexados às investigações.
Camila Simões, delegada

Agora, de acordo com Camila, o autor vai responder pelos crimes de injúria, calúnia, difamação, ameaça e injúria qualificada pelo preconceito racial e homofóbico. "Todos com causa de aumento de pena por terem sido praticados na presença de várias pessoas e em um meio que facilita a propagação dessas ofensas", explicou ela.

Tendo em vista que o caso ganhou notoriedade no Brasil e que uma das vítimas é o próprio Secretário de Esportes de Quirinópolis, Thiago teria, conforme relatado por Simões, zombado da Justiça Brasileira. "Ele acreditava ser inatingível somente pelo fato de residir no exterior, o que ainda servia de motivação para a prática dos crimes", narrou Camila.

Após a prisão, um pedido de extradição foi enviado pelo Poder Judiciário Brasileiro para a Embaixada de Washington. Dessa forma, ainda de acordo com a delegada, o suspeito segue preso nos Estados Unidos, até que haja uma definição sobre a formulação.

Thiago Cabral vivia em Quirinópolis, mas se mudou para os Estados Unidos, onde adquiriu um green card, conforme narrado pela delegada. Ele, no entanto, não seria considerado um cidadão norte-americano.

O UOL ainda não conseguiu localizar a defesa de Thiago Cabral. O espaço segue aberto para eventuais posicionamentos.

"Não é um caso só meu"

Em entrevista ao UOL, Nubyano Nascimento Pereira, uma das vítimas de Thiago Cabral, lembrou das agressões que sofria diariamente. Segundo o Secretário de Esportes de Quirinópolis, tudo começou quando ele assumiu a pasta, no início de 2021.

Nubyano conta que, na época, tanto Thiago, quanto outros moradores da cidade começaram a fazer piadas sobre o novo secretário em grupos de WhatsApp. "Falavam que o futebol ia virar balé, que os meninos do nosso projeto iam virar todos veados porque um gay estava à frente do esporte. Mas ele empolgou, ele pesou a mão", contou a vítima.

"As pessoas continuavam me adicionando nos grupos mesmo depois de eu sair. Eu tive que bloquear os contatos para não ser mais adicionado. E quando não dava para mandar por lá, ele [Thiago] me mandava mensagens pelo privado, ou até por outros números", lembrou Nubyano. "E eu nunca o vi, a gente não se conhece pessoalmente."

Depois das primeiras mensagens homofóbicas, o secretário se manteve em silêncio por algum tempo, até que as agressões começaram a preocupar sua família. "Um dia eu saí de casa e o meu telefone descarregou. Minha mãe não conseguiu falar comigo, e aí bateu um desespero, e ela achou que algo tinha acontecido. Foi aí que eu vi que as coisas estavam saindo do controle", contou.

Segundo Nubyano, entretanto, as ofensas iam além da homofobia. Entre montagens do secretário com crianças e falsas acusações de pedofilia, Thiago também direcionava agressões racistas contra amigos da vítima que tentavam defendê-la.

Ele chamou meu amigo de macaco, de chimpanzé. [...] Falava que, por eu ser homossexual, eu também sou pedófilo [...] Ele insultou até a delegada daqui, por ela ser mulher, dizendo que ela nunca ia pegar ele, que nunca ia prender ele, por ele ser um cidadão americano.

Mais de um ano depois de sua denúncia, então, Nubyano recebeu a notícia da prisão de Thiago com surpresa. "Querendo ou não, dá uma tranquilidade. A gente não sabe se ele vai continuar preso ou não, mas acho que o primeiro passo foi dado".