Ex-Funai: Sem eco no Brasil, indígenas têm que buscar Justiça lá fora
O indigenista e ex-presidente da Funai Sydney Possuelo falou hoje sobre a busca de indígenas brasileiros por justiça em órgãos internacionais. Após apontar o descaso do governo brasileiro no caso dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, Possuelo afirmou que é necessário recorrer a organizações de fora do Brasil.
"Os povos indígenas estão sendo empurrados na busca de soluções fora do país, porque dentro do país não encontram eco. Estão sendo empurrados para instâncias internacionais e forçados pelo governo, que induz povos e organizações indígenas na busca desse apoio internacional", disse durante participação no UOL News.
Possuelo ainda afirmou acreditar que esse tipo de denúncia como a feita pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) à ONU, possa ter um efeito político, mas não prático.
Ainda de acordo com o ex-presidente da Funai, o atual governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) acaba colocando dentro da própria Funai pessoas que são contra a luta dos povos indígenas.
"A Funai está imersa nessa política bolsonarista. Bolsonaro colocou nesses órgãos aqueles que o representam. O presidente da Funai preside contra os povos indígenas e hoje os órgãos que atuam diretamente na questão indígena estão com homens bolsonaristas de sua cabeça até a base. Amanhã ou depois, se muda a política, vai ser um trabalho recompor a Funai, os bons funcionários foram eliminados. O grande problema é que os cargos chave estão nas mãos de bolsonaristas e isso tem que ser mudado", disse.
No entanto, apesar de todo o descaso, o indigenista não se disse surpreso. Ele afirmou que todo esse processo é reflexo de uma política anunciada e inaugurada pelo atual presidente, apontando que estamos vivendo o pior momento da história indígena.
"Ele inaugurou a temporada de caça aos povos indígenas e hoje em dia ninguém mais pensa duas vezes para entrar em terras indígenas porque se sentem protegidos pelo Governo Federal. (...) Em toda a história indígena esse é o pior momento porque ele (Bolsonaro) comanda a máquina. (...) estamos vendo uma violência que no meu entendimento é de uma política implementada dentro do governo, que utiliza mecanismos governamentais", completou.
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