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Bruno e Dom: 2 meses antes de mortes, Univaja alertou Funai sobre suspeito

Cartaz sobre o desaparecimento do jornalista Dom Phillips (à esq.) e do indigenista Bruno Pereira (à dir.) - @crisvector/Reprodução
Cartaz sobre o desaparecimento do jornalista Dom Phillips (à esq.) e do indigenista Bruno Pereira (à dir.) Imagem: @crisvector/Reprodução

Do UOL, em São Paulo

19/06/2022 21h24

A Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) alertou a Funai (Fundação Nacional do Índio) sobre um suposto esquema de pesca ilegal em área indígena coordenado possivelmente por Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, dois meses antes das mortes do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips.

O pescador Amarildo, segundo a polícia, confessou ter matado a dupla, que trabalhava a favor de causas indígenas no Vale do Javari (AM). Segundo informações mostradas no programa Fantástico, da TV Globo, o suposto esquema envolvia outras seis pessoas, que realizavam a pesca em barcos menores e abasteciam o barco maior, de Amarildo.

A reportagem mostrou que Bruno havia relatado ter sido ameaçado por pessoas da área, que é marcada também por violência e narcotráfico.

A investigação da PF (Polícia Federal), que lidera o caso, explora possíveis relações entre pescadores e traficantes, alguns de outros países, como a Colômbia. Os laços ainda não foram confirmados.

Onde o indigenista e o jornalista desapareceram - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

PF suspeita de oito pessoas

Hoje, a PF disse que subiu para oito o número de suspeitos investigados pelas mortes de Bruno e Dom, que ocorreram no início deste mês. Segundo a autoridade, foram identificados mais cinco homens que teriam ajudado a enterrar os corpos da dupla, mas os nomes deles ainda não foram revelados.

Até o momento, três suspeitos foram detidos pela polícia. O primeiro é Amarildo, que foi preso em flagrante no dia 7, por porte de munição de uso restrito. Depois, ele confessou e deu detalhes da dinâmica do crime envolvendo Bruno e Dom.

O segundo suspeito preso é o pescador Oseney da Costa de Oliveira, irmão de Amarildo e conhecido como Dos Santos, preso no dia 14. Ele negou ter participado do crime.

Já o terceiro, Jeferson da Silva Lima, conhecido como Pelado da Dinha, se entregou para as autoridades por volta de 6h de ontem, após saber pela própria família que a polícia o procurava. Ele é apontado como alguém que participou diretamente do duplo homicídio e ajudou na ocultação dos corpos.

A PF descarta que exista um mandante ou uma organização criminosa por trás das mortes, o que é refutado pela Univaja: "As autoridades competentes, responsáveis pela proteção territorial e de nossas vidas, têm ignorado nossas denúncias, minimizando os danos, mesmo após os assassinatos de nossos parceiros, Pereira e Phillips".

Quem são as vítimas?

Dom era correspondente do jornal The Guardian. Britânico, ele veio para o Brasil em 2007 e viajava frequentemente para a Amazônia para relatar a crise ambiental e suas consequências para as comunidades indígenas e suas terras.

O jornalista conheceu Bruno em 2018, durante uma reportagem para o Guardian. A dupla fazia parte de uma expedição de 17 dias pela Terra Indígena Vale do Javari, uma das maiores concentrações de indígenas isolados do mundo. O interesse em comum aproximou a dupla.

Bruno, servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio), era conhecido como um defensor dos povos indígenas e atuante na fiscalização de invasores, como garimpeiros, pescadores e madeireiros. Em entrevista ao UOL, o líder indígena Manoel Chorimpa afirmou que o indigenista estava preocupado com as ameaças de morte que vinha sofrendo.