Programa discute racismo na publicidade; Veja episódio 5 de Preto no Branco
"Feche os olhos e imagine uma família margarina, aquela de propaganda feliz curtindo um domingo no parque. Agora visualize um grupo de amigos dirigindo e cantarolando sorridentes pela estrada, tipo comercial de carro. Quantas dessas personagens que passaram pela sua mente eram pessoas negras?". A partir desse exercício de imaginação, Maria Gal deu início ao quinto episódio de Preto no Branco, que foi ao ar nesta quinta-feira (16) na Band News.
Sobre publicidade e representação da população negra na propaganda, o programa contou com a participação dos publicitários Gabriela Moura, diretora do Clube de Criação, e Felipe Moura, fundador da Agência Gana, formada apenas por profissionais negros e periféricos.
No bate papo, eles falaram sobre a sub-representação de profissionais negros nas agências e a falta de modelos negros estampando produtos de beleza ou comerciais associados à consumo e bem-estar.
Para Gabriela Moura, a sociedade brasileira automaticamente associa a "família margarina" à pessoas brancas, o que tem relação com a forma como a mídia, os filmes, as novelas e a publicidade moldam o imaginário social que "restringe o espaço que os negros ocupam na sociedade".
"Esse local das benesses e da felicidade sempre foi pintado como tido para pessoas brancas. As pessoas negras sempre foram colocadas em lugares desconfortáveis ou violentos, ou como o subalterno que estava para servir, ou a pessoa violenta, agressiva e criminosa", opina.
Uma vez inseridos na sociedade - para ela, racista, patriarcal e machista - os profissionais da publicidade não-negros que chegam em posições de liderança, fatalmente, não refletem sobre o racismo. "Existe uma retroalimentação do problema", diz.
Para Felipe, há fortes influências europeias no setor e podem ser comprovadas, por exemplo, nas técnicas de luz e cor que não são pensadas para filmar e fotografar pessoas de pele negra. "O mercado não está preparado porque as referências são dessa beleza europeia, que não é a nossa beleza brasileira", explica. Para o especialista, o fato da publicidade priorizar os traços das pessoas brancas contribuiu para diminuir a autoestima das pessoas negras, sobretudo as mulheres que são mais pressionadas pela questão estética.
Sobre o mercado de trabalho, os convidados ressaltaram a importância de ter pessoas pretas na linha de frente da indústria e em cargos de tomada de decisão.
"Eu vivi 15 anos na publicidade e esse tempo todo parecia que precisava me moldar o tempo todo, não ser eu mesmo. Então [na Agência Gana] nós tentamos criar um lugar onde as pessoas pudessem ser elas mesmas e trazerem todas as suas influências e referências", conta Felipe.
Sempre que me questionam se seria um problema ter uma agência só com pessoas negras eu respondo: nunca foi um problema que as outras tenham só pessoas brancas. Enquanto outras agências tiverem só pessoas brancas, é necessário ter uma que só tenha pessoas negras
Felipe Moura, fundador da Agência Gana
O programa "Preto no Branco" é uma série semanal liderada pela produtora e atriz Maria Gal. No último episódio, recebeu o atleta Mário Aranha para falar sobre racismo no esporte. Como vítima de episódios de racismo no campo, o ex-goleiro dividiu experiências pessoais como homem negro no futebol e falou sobre a importância do posicionamento antirracista para profissionais, clubes e patrocinadores.
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