Exportação brasileira: como o PCC passou a aterrorizar o Paraguai?
Uma das maiores facções criminosas do Brasil, o PCC (Primeiro Comando da Capital) vem se internacionalizando nos últimos anos. A facção, que nasceu nos presídios de São Paulo, dominou o país e tem atuado em outras regiões da América Latina, como no Paraguai.
No país vizinho, o grupo encontrou um lugar estratégico nesse plano de expansão, pois é onde obtém armas e maconha e por onde transita a cocaína que compra na Bolívia e envia para a Europa por portos do Brasil.
O PCC é a maior organização criminosa do Brasil, com atuação principalmente no estado de São Paulo, mas também em todo o território brasileiro. O grupo possui cerca de 30 mil membros, sendo 8 mil apenas em São Paulo.
Segundo o pesquisador do Núcleo de Estudos Sobre Violência da FGV e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Bruno Paes Manso, o PCC está presente em pelo menos quatro países da América Latina. Além do Paraguai, a facção também já foi identificada em presídios da Bolívia e tem relações comerciais no Peru e na Colômbia.
Bruno Paes Manso é um dos autores do livro "A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil", que fala sobre a expansão da facção. Segundo ele, a internacionalização da facção aconteceu a partir de 2005, quando o grupo passou a atuar no atacado da droga e, para isso, foi parar nas fronteiras da América do Sul.
Mas como o PCC chegou ao Paraguai?
A atuação do PCC na região de fronteira tem um objetivo: controlar o tráfico de drogas por lá. A hegemonia se consolidou a partir de 2017, mas teve início em meados de 2007, quando o PCC mandou o emissário Vagner Roberto Raposo Olzon, o Fusca, para o Paraguai e a Bolívia.
Segundo relato do colunista do UOL, Josmar Jozino, Fusca se encontrou com o narcotraficante paraguaio Carlos Alberto Caballero, o Capilo. Foi o começo do processo de internacionalização do PCC no mercado de drogas. A meta, já naquela época, era negociar o fornecimento mensal de uma tonelada de cocaína.
Em março de 2011, mais um emissário do PCC esteve em missão na região de fronteira. Ilson Rodrigues de Oliveira, o Teia, ligou para Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, integrante da "sintonia final geral" do PCC, que na época estava preso na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, interior de SP.
Teia disse ao comparsa que estava na "quebrada" (Paraguai) para "trocar ideias" (conversar) com os "thuchucos" (líderes do PCC na região) no sentido de fazer um investimento milionário na compra mensal de 300 kg de cocaína para a "família" (PCC) e mais 300 kg para "particulares" (líderes da facção).
Essa conversa foi monitorada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de Presidente Prudente, do Ministério Público de São Paulo e está transcrita na maior denúncia já oferecida contra 175 integrantes do PCC, em 9 de setembro de 2013, cujas investigações foram conduzidas pelo promotor Lincoln Gakiya.
Mais de dez anos após a viagem de Teia, a região de fronteira permanece até os dias atuais sob o domínio do PCC. Quando um líder é preso, expulso do território paraguaio e mandado para presídio federal no Brasil, o grupo imediatamente providência um substituto.
Sensação de impunidade e posição estratégica
A sensação de impunidade, a familiaridade com a língua e a desigualdade social presente em países como o Paraguai são alguns fatores que contribuem para a presença de facções como o PCC no país.
O Brasil possui uma estrutura judiciária, de Ministério Público e de polícia mais eficaz no combate às organizações criminosas do que no Paraguai, por exemplo, onde é muito fácil se instalar com algum dinheiro e documentos falsos.
Além disso, o Paraguai possui uma posição estratégica no plano de expansão da facção. Boa parte da maconha brasileira vem do Paraguai, além de ser um corredor importante da cocaína boliviana.
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