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PM que matou irmã foi reprovada em teste por ter usado drogas, diz jornal

Da esquerda para direita: a PM Rhaillayne Oliveira de Mello e a irmã Rhayna Mello - Reprodução/Facebook
Da esquerda para direita: a PM Rhaillayne Oliveira de Mello e a irmã Rhayna Mello Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

05/07/2022 10h34Atualizada em 06/07/2022 08h10

A soldado Rhaillayne Oliveira de Mello, presa em flagrante no último sábado pela morte da irmã, foi reprovada em um dos exames de ingresso à Polícia Militar após testar positivo para o uso de drogas. Ela mesma teria admitido que utilizou "maconha, LSD, ecstasy e MD" em três ocasiões, sempre "em festas rave".

As informações foram divulgadas hoje pelo jornal O Globo, que teve acesso a documentos da corporação, registrados em 2018. Segundo os papéis, Rhaillayne só conseguiu ingressar na Polícia Militar após entrar com uma ação judicial. No concurso em 2014, a aspirante acabou reprovada na etapa de Exame Social e Documental, também chamada de "pesquisa social", em que a vida pregressa do candidato é avaliada.

Um documento de 2018 do Centro de Recrutamento e Seleção de Praças indicou que a própria soldado admitiu o uso das substâncias ilícitas, mas mencionou que os responsáveis pelo exame apontaram outras razões para sua reprovação, como "desavenças públicas que ela teve com o pai, pelo fato de o mesmo não concordar com as coisas erradas que fazia" e o "relacionamento de amizade" com um homem que teria envolvimento com o mundo do crime, pai do filho de Rhaillayne.

Apesar de admitir o uso de drogas, a policial entrou com uma ação judicial contra a decisão de rejeitá-la na corporação, alegando que "agiu de forma totalmente transparente e honesta ao responder a pergunta realizada pelo pesquisador", destacando ainda que usou drogas apenas três vezes, no ano de 2013.

"Tal posicionamento de expor o ocorrido anteriormente demonstra o seu caráter, o sentimento de agir com a verdade e retidão com o que preceitua, acreditando-se que não estaria devendo nada à Justiça ou a qualquer outro órgão", argumentou a defesa da PM, no documento acessado pelo jornal carioca.

Pai seria contra carreira militar

Já ao explicar os desentendimentos com o pai, Rhaillayne alegou que as discussões teriam começado pela oposição do pai à vontade da filha de seguir carreira como policial, incluindo na ação imagens em que a soldado aparece abraçada com ele.

"Ainda que existam diferenças e desavenças entre ambos, a convivência é harmônica e amorosa, pois existe respeito entre pai e filha, conforme se comprova das fotos anexas", pontuam os advogados.

Por fim, ao falar do ex-namorado da policial, os defensores afirmam que o relacionamento dos dois foi "precário e inconstante" ao longo dos três anos em que mantiveram um namoro, alegando ainda que o homem só se envolveu com "ilícitos" após o término dos dois, em 2013.

Em 25 de setembro de 2018, por meio da Procuradoria-Geral do Estado, a Polícia Militar enviou uma réplica às argumentações da candidata, dizendo que, ao se inscrever, Rhaillayne "tomou ciência de todas as exigências constantes no edital, inclusive da etapa do Exame Social, e concordou com as mesmas, não cabendo neste momento insurgir-se contra regra com a qual havia anuído previamente".

"Deve-se destacar, ainda, que em momento algum o autor nega as condutas que lhe foram imputadas, mas apenas afirma que a conduta praticada pela administração do certame violou a razoabilidade. Se há dúvida acerca do comportamento, dos valores, da ética de determinado candidato, não se pode permitir que ele receba farda, arma, distintivo e poder", justificou a PGE.

Apesar da argumentação, a candidata teve sucessivas vitórias na Justiça, em diferentes instâncias, até que a corporação foi obrigada a aceitá-la.

Entendo o caso

A policial militar Rhaillayne Oliveira de Mello, 30, admitiu em depoimento à Delegacia de Homicídios que atirou contra a irmã Rhayna Oliveira de Mello, 23, em um posto de gasolina em São Gonçalo (RJ), na manhã de sábado (2). Rhayna foi atingida com um tiro no peito e morreu no local. A PM foi presa em flagrante no local pelo próprio marido, também policial militar.

Rhaillayne disse à polícia que estava bebendo desde as 20h do dia 1º e que não se lembra do que a motivou a disparar contra a Rhayna por volta das 8h do dia seguinte. A PM afirmou se recordar que saiu do banheiro do posto de gasolina e discutiu com a irmã — sem descrever o teor da conversa — atirando contra ela momentos depois.

No mesmo depoimento, a investigada disse que tentou socorrer a irmã e que "chegou a ver o momento em que ela ficava inconsciente".

No exame de corpo de delito, antes de ser encaminhada à prisão, Rhaillayne contou aos policiais que machucou a si mesma após atirar na irmã: bateu com as algemas na própria testa e tentou arrancar as unhas.

O perito Celso Eduardo Jandre Boechat atesta que a PM chegou no local do exame "com comportamento sugerindo psicose ou estado pós-traumático" e "apática com os fatos relatados". Ele confirma as lesões relatadas pela PM e que ela estava sem uma das unhas da mão esquerda.

Rhaillayne está na PM desde 2019. Documentos internos mostram que ela foi transferida em outubro do Batalhão de Jacarepaguá (18º BPM) para o de São Gonçalo (7º BPM), na cidade onde mora. Na mesma ocasião, passou a ter uma arma acautelada da Polícia Militar, após procedimentos verificarem seu comportamento, classificado como "bom".

Depoimentos de testemunhas à polícia revelam que a PM esteve em uma festa com parentes e que, ao sair, brigou com a mãe e a irmã no carro de um motorista do aplicativo Uber. Na sequência, foi até a casa dela para pegar sua arma, por volta das 3h, e parou para continuar bebendo em um bar.

Depois, discutiu com funcionários do estabelecimento e atirou para o alto. A noite terminou com o assassinato no posto de gasolina e prisão de Rhaillayne. Em audiência de custódia realizada no domingo (3), ela teve a prisão em flagrante convertida em preventiva.

O UOL entrou em contato com a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que atuou a favor da policial militar, mas não teve retorno até o momento.