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Paciente fica acordada durante cirurgia para retirar tumor no cérebro no PR

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

22/07/2022 16h45

Uma paciente foi mantida acordada durante uma cirurgia realizada em Curitiba (PR) para retirada de um tumor do cérebro, com cerca de 6 centímetros de diâmetro. Apesar do procedimento não ser inédito no Brasil, ele é considerado raro, principalmente por ter sido realizado integralmente com recursos do SUS. A cirurgia foi bem-sucedida e a mulher já se recupera em casa, ao lado da família.

A dona-de-casa e mãe em tempo integral Daiane Poulmann, 30, descobriu que tinha o tumor há cerca de dois meses. Os primeiros sintomas da doença, porém, surgiram logo após o nascimento do terceiro filho, há um ano e dois meses.

"Começou com um formigamento no braço, do lado esquerdo. Uma sensação de gelado", contou Daiane ao UOL. "Procurei um médico na UPA aqui perto de casa e me falaram que podia ser uma crise de ansiedade ou queda de hormônios, normal após o parto. Só que, com o tempo, os sintomas foram aumentando de intensidade. Eu sentia a boca repuxar, depois o lado esquerdo do meu corpo ficava paralisado por um tempo".

Na segunda vez que procurou atendimento médico, a profissional que a atendeu recomendou que ela se acalmasse, porque os sintomas poderiam ser advindos do estresse emocional. "Eu desencanei. Achei que podia mesmo ser estresse", admite.

O procedimento contou com uma equipe de sete profissionais para a retirada do tumor com cerca de seis centímetros de diâmetro - Divulgação/Hospital Universitário Cajuru - Divulgação/Hospital Universitário Cajuru
O procedimento contou com uma equipe de sete profissionais para a retirada do tumor com cerca de seis centímetros de diâmetro
Imagem: Divulgação/Hospital Universitário Cajuru

Com o passar do tempo, porém, os sintomas foram se tornando mais intensos. Até que um dia, há dois meses, ela teve uma convulsão. Por sorte, o marido estava em casa, se preparando para ir ao trabalho.

"Procuramos um neurologista, que verificou que meus exames de sangue estavam normais. Porém, ele pediu uma tomografia do cérebro para se certificar. Daí apareceu uma mancha. Foi quando me dei conta de que havia algo muito errado comigo".

Daiane conta que, com a ajuda da família, conseguiu pagar uma consulta com o neurocirurgião Carlos Alberto Mattozo. Após fazer alguns exames, ela descobriu um glioma, um tipo de tumor que se origina nas células gliais do cérebro.

"Após conversar muito com o médico, ele me explicou que o ideal, no meu caso, era fazer a cirurgia acordada, por causa dos riscos de ficar com alguma sequela. Eu fiquei com muito medo, é claro, mas ele foi tão humano, explicou tudo tão bem que eu confiei e aceitei fazer a cirurgia".

Imagem revela o tamanho do tumor que estava se desenvolvendo no cérebro de Daiane Poulmann - Divulgação/Hospital Universitário Cajuru - Divulgação/Hospital Universitário Cajuru
Imagem revela o tamanho do tumor que estava se desenvolvendo no cérebro de Daiane Poulmann
Imagem: Divulgação/Hospital Universitário Cajuru

O procedimento foi realizado no dia 21 de junho, no Hospital Universitário Cajuru e durou cerca de seis horas. Segundo Mattozo, esse tipo de cirurgia é muito delicado. Por isso, contou com uma equipe de sete profissionais, entre eles um neurofisiologista, que monitora as áreas do cérebro que estão sendo trabalhadas pelos instrumentos e guia os cirurgiões.

"A paciente foi sedada e recebeu anestesia local. Com muito cuidado, fomos escavando e aspirando o tumor, enquanto uma profissional especializada em linguagem realizava testes com imagens e pedia para ela responder perguntas. Outra profissional checava as habilidades motoras".

A cirurgia foi gravada em vídeo pela equipe do hospital. Em algumas cenas, é possível ver quando uma das médicas pede a Daiane que movimente o braço e, na sequência, a perna.

O procedimento contou ainda com o auxílio de tecnologia médica sofisticada, como o neuronavegador, um computador que mapeia o cérebro por meio de ondas infravermelhas. "Ele reconhece a face da pessoa, possibilita a marcação da área exata de intervenção para uma incisão segura", explicou o médico.

Ouvindo sons e sentindo cheiros

Segundo Daiane, a sensação de estar acordada durante a cirurgia foi bem estranha. Apesar de não sentir nenhuma dor, ela podia ouvir os sons das conversas, dos aparelhos, da serra cortando o crânio.

Dava para sentir o cheiro do couro cabeludo, do osso queimando, quando eles começaram a abrir meu crânio. Na hora eu só pensava na minha família. Meu maior medo era não poder ver mais meu marido, meus filhos, meus pais, meus irmãos.

Mas os temores da dona-de-casa ficaram para trás. A cirurgia foi bem-sucedida e em poucos dias ela já estava se recuperando em casa, na companhia dos seus entes queridos.

"Agora aguardaremos a análise da biópsia para nos certificarmos do grau desse glioma que retiramos. Inicialmente, soubemos que ele é grau 2, considerado um grau baixo. Mas a patologista verificou algumas características que podem indicar um grau mais agressivo, por isso solicitamos um exame chamado imuno-histoquímico. Ele permite a detecção de antígenos específicos e imunofenotipagem de tecidos ou agentes infecciosos".

Daiane Poulmann comemora, com a família, o aniversário da filha mais velha  - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Daiane Poulmann comemora, com a família, o aniversário da filha mais velha
Imagem: Arquivo Pessoal

Daiane sabe que ainda tem um longo caminho a percorrer na direção da cura, mas afirma estar grata, feliz e esperançosa por ter sobrevivido sem sequelas à cirurgia. No dia 4 de agosto, ela passará por uma avaliação para se certificar do tipo de tratamento a que será submetida, para evitar que novas células cancerosas se desenvolvam.

Eu me sinto muito bem. Já consigo fazer pequenas tarefas domésticas, como varrer a casa, dar banho nas crianças. Me sinto muito confiante. Afinal, não é sempre que alguém passa por uma cirurgia no cérebro, acordada, e retoma a vida normalmente em tão pouco tempo como eu estou fazendo.