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Quem foi Jorgina de Freitas, do Escândalo da Previdência, morta no Rio

Jorgina de Freitas envolveu-se num esquema de fraude bilionária que ficou conhecido como o escândalo da previdência - Reprodução/TV Globo
Jorgina de Freitas envolveu-se num esquema de fraude bilionária que ficou conhecido como o escândalo da previdência Imagem: Reprodução/TV Globo

Gabriel Dias

Colaboração para o UOL

22/07/2022 04h00

A ex-advogada Jorgina de Freitas, que morreu na terça-feira (19), aos 71 anos, no Rio de Janeiro, ficou conhecida em 1991, quando foi responsável pelo que é apontado como a maior fraude ocorrida no Brasil contra a Previdência Social.

Jorgina foi a responsável por organizar um esquema de desvio de verbas de aposentadoria que, após descoberto, ficou conhecido como o "escândalo da Previdência". Durante as investigações, chegou-se a um grupo com 20 fraudadores, que atuava na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e que era formado por advogados, contadores e juízes.

O total da fraude foi inicialmente estimado em R$ 550 milhões (mais de 50% de toda a arrecadação do INSS à época), mas posteriormente foi reavaliado em R$ 1,2 bilhão e, por fim, a Advocacia-Geral da União afirmou que a fraude foi da ordem de aproximadamente R$ 2 bilhões.

Jorgina de Freitas pertencia ao grupo, cuja maioria foi presa em julho de 1992. Ela foi condenada a 14 anos, mas só começou a cumprir a pena cinco anos depois porque conseguiu escapar antes mesmo de a sentença ser proferida.

O escândalo da Previdência

Entre 1988 e 1990, ela foi cúmplice do bando que desviou mais de R$ 1,2 bilhão dos cofres da Previdência, usando até nomes de pessoas mortas. Os criminosos forjaram centenas de processos de indenização milionários.

A rede de corrupção começou a ser desmontada em março de 1991, quando uma investigação interna do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) descobriu como haviam sido desviados inicialmente R$ 90 milhões, supostamente pagos ao motorista de empilhadeira Alaíde Fernandes Ximenes.

O esquema fraudulento envolvia diversas autoridades, advogados, procuradores do INSS e juízes no Rio de Janeiro. Além disso, os criminosos contavam com a conivência de contadores do INSS, que faziam cálculos superfaturados dos benefícios, e até um juiz, o magistrado Nestor do Nascimento, que ajudava a dar cobertura e sentenças favoráveis ao esquema.

O maior desvio do grupo foi feito por Ilson Escóssia da Veiga, que conseguiu desviar US$ 128 milhões (cerca de R$ 400 milhões). Já Jorgina conseguiu desviar sozinha, US$ 112 milhões.

Foragida da justiça

Jorgina ganhou notoriedade por sua capacidade de permanecer por cinco anos foragida da Justiça. Ela passou por vários países e fez pelo menos oito cirurgias plásticas na tentativa de mudar as feições e não ser reconhecida.

A ex-advogada se entregou às autoridades da Costa Rica em 1997, sendo depois repatriada. Ela teve o registro profissional cassado pela Ordem dos Advogados do Brasil em 2001 e parte do dinheiro desviado para outros países foi recuperado.

Jorgina ficou presa em regime fechado no Instituto Penal Talavera Bruce. Em janeiro de 2007 foi transferida para outro presídio, também no Rio de Janeiro, onde passou a cumprir a pena em regime semiaberto.

Em maio de 2010, foi condenada a devolver ao INSS mais de R$ 200 milhões desviados (convertidos para reais), e teve todos os bens bloqueados e autorizados a ir a leilão. Entre os bens que Jorgina tinha em seu nome estava um imóvel que já havia pertencido ao ex-presidente Eurico Gaspar Dutra, em Petrópolis, e dois apartamentos na orla do Leblon, na Zona Sul do Rio, que tem um dos metros quadrados mais caros do Brasil.

Em junho de 2010, uma sentença declarou extinta a pena e Jorgina foi solta depois de 14 anos presa.

Internação depois de acidente

De acordo com informações divulgadas pela prefeitura de Duque de Caxias, Jorgina foi internada em 13 de dezembro do ano passado após um acidente de carro. Ele apresentava um quadro de traumatismo craniano grave.

"A direção do hospital relata que, durante o período de internação na unidade, a paciente se manteve em estado grave de saúde, traqueostomizada e com pouca resposta a estímulos sensitivos", informou a prefeitura, por meio de nota.

"Na terça-feira (19), Jorgina apresentou hipotensão e bradicardia, evoluindo para PCR (Parada Cardiorrespiratória), tendo sido realizado todos os procedimentos, protocolos e medicações, porém sem sucesso, sendo constatado o óbito às 13h30 do mesmo dia. O corpo foi encaminhado para o IML, por se tratar de vítima de acidente de trânsito", disse o município.