Justiça manda investigar dados apagados de filmagem de morte de petista
A Justiça do Paraná mandou a Polícia Civil abrir um inquérito paralelo para investigar um eventual crime de fraude processual no episódio envolvendo os dados apagados do dispositivo de gravação das câmeras de segurança que filmaram o assassinato do petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu (PR), cometido pelo policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho, na noite de 9 de julho.
A determinação atende a um pedido feito pelo Ministério Público. Procurada pelo UOL, a Secretaria da Segurança Pública do Paraná disse que ainda não foi notificada judicialmente para abrir uma nova investigação.
"Mostra pertinente a realização das diligências requeridas", diz um dos trechos do documento assinado ontem à tarde pelo juiz Gustavo Germano Francisco Arguello, da 3ª Vara Criminal de Foz.
A ação "indica a remoção de registros do evento do aparelho", aponta o laudo anexado ao processo do MP, que denunciou Guaranho por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e perigo comum, com pena que pode variar de 12 a 30 anos de prisão. "Como houve a limpeza do registro de eventos, não é possível determinar os acessos realizados ao aparelho na data de 9 de julho", conclui o laudo.
A Justiça também atendeu a um pedido feito pela PGR (Procuradoria-Geral da República), que solicitou cópia integral da investigação do assassinato de Marcelo Arruda para instruir procedimento que apura eventuais omissões da União em relação aos cuidados com a saúde mental dos servidores lotados em presídios federais.
Qual o impacto do "apagão de dados"
Na prática, a adulteração do registro dificulta a apuração de um eventual envolvimento de terceiros, aponta o Ministério Público do Paraná. É que o "apagão de dados" impossibilitou indicar quem acessou as imagens do salão de festas da Aresf (Associação Recreativa Esportiva Segurança Física de Itaipu), onde Arruda comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática alusiva ao PT horas antes do crime.
No dia seguinte à limpeza no registro de acessos, Claudinei Coco Esquarcini, citado por testemunhas como o responsável pelo sistema de monitoramento, informou em um grupo de WhatsApp de associados do local do crime que o sistema estava "sem imagens".
"Pra resguardar a nossa associação para caso ocorra alguma coisa. Frisando bem: estamos sem imagens. Estamos sem DVR [como é chamado o dispositivo eletrônico com o registro dos acessos feitos às imagens no dia do crime]. Não tem imagem mais na Aresf", disse, em áudio ao qual o UOL teve acesso.
Segundo o MP, o episódio trouxe mais um indício de relação do caso com a morte de Claudinei, que se suicidou no dia 18 de julho. Ele era o encarregado pelo sistema de vigilância da associação, segundo testemunhas.
O que dizem os advogados
O advogado Daniel Godoy, um dos representantes da família da vítima, vê no episódio um indício de envolvimento de outras pessoas na ação, que podem ter encorajado Guaranho a ir ao local. Contudo, entende que essa apuração só será melhor esclarecida com a conclusão do exame pericial no celular do atirador.
"O laudo demonstra que houve uma tentativa bem-sucedida de apagar os acessos para dificultar as investigações sobre quem teve acesso às câmeras. Trata-se de uma manobra de obstrução da Justiça. E indica que há também a possibilidade da participação de terceiros no crime".
Procurados pelo UOL, os representantes legais de Guaranho informaram que um posicionamento sobre os laudos ainda é "prematuro".
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por email, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
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