O que dados apagados poderiam esclarecer sobre morte de petista e suicídio
Um laudo pericial indicou que foi apagado o registro do dispositivo eletrônico da gravação das câmeras de segurança que filmaram o assassinato do petista Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu (PR), morto pelo policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho na noite de 9 de julho. Com isso, se torna impossível determinar quem acessou as imagens horas antes do crime, apontou o documento.
Mas por que isso é importante na investigação? Na prática, a adulteração do registro dificulta a apuração de um eventual envolvimento de terceiros, aponta o Ministério Público do Paraná. No dia seguinte à limpeza no registro de acessos, Claudinei Coco Esquarcini, citado por testemunhas como o responsável pelo sistema de monitoramento, informou em um grupo de WhatsApp de associados do local do crime que o sistema estava "sem imagens".
Segundo o MP, o episódio trouxe mais um indício de relação do caso com a morte de Claudinei, que se suicidou no dia 18 de julho. Ele era o encarregado pelo sistema de vigilância da associação, segundo testemunhas. "Pode existir conexão entre os fatos. Mas ainda precisamos aguardar pelo inquérito, que apura se houve induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio", avalia o promotor Tiago Lisboa Mendonça.
Quando o registro foi apagado? Às 8h57 de 11 de julho, dois dias após o assassinato de Marcelo Arruda registrado pelas câmeras de segurança da Aresf (Associação Recreativa Esportiva Segurança Física de Itaipu), foi acionado o dispositivo "limpar", tornando impossível identificar os acessos dos associados às câmeras no dia do crime, de acordo com o exame pericial.
A ação "indica a remoção de registros do evento do aparelho", aponta o laudo anexado ao processo do MP, que denunciou Guaranho por homicídio duplamente qualificado. "Como houve a limpeza do registro de eventos, não é possível determinar os acessos realizados ao aparelho na data de 9 de julho", conclui o laudo.
O que diz a mensagem de Claudinei? Às 11h25 do dia seguinte, Claudinei confirmou, em mensagem de áudio obtida pelo UOL e enviada em um grupo de WhatsApp com outros associados do clube onde ocorreu o assassinato, que os registros de acesso haviam sido apagados.
Pra resguardar a nossa associação para caso ocorra alguma coisa. Frisando bem: estamos sem imagens. Estamos sem DVR [como é chamado o dispositivo eletrônico com o registro dos acessos feitos às imagens no dia do crime]. Não tem imagem mais na Aresf
Mensagem enviada por Claudinei ao grupo de associados
Em seguida, um outro associado o questionou por áudio. "Coquinho [apelido de Claudinei Coco], boa tarde, tudo bem? Eles recolheram essas câmeras pra fazer perícia do local? Eles vão devolver depois, né?". Claudinei respondeu: "Não sei quando que vai retornar. Já foi um baile pra conseguir comprar esse DVR aí. E agora tá... Deu toda essa tragédia. Estamos desprovidos aí. Infelizmente".
O que a família de Marcelo Arruda acha de tudo isso? O advogado Daniel Godoy, um dos representantes da família da vítima, vê no episódio um indício de envolvimento de outras pessoas na ação, que podem ter encorajado Guaranho a ir ao local. Contudo, entende que essa apuração só será melhor esclarecida com a conclusão do exame pericial no celular do atirador.
"O laudo demonstra que houve uma tentativa bem-sucedida de apagar os acessos para dificultar as investigações sobre quem teve acesso às câmeras. Trata-se de uma manobra de obstrução da Justiça. E indica que há também a possibilidade da participação de terceiros no crime".
Procurados pelo UOL, os representantes legais de Guaranho informaram que um posicionamento sobre os laudos ainda é "prematuro".
Promotor diz ver motivação política
O promotor Tiago Mendonça Lisboa reafirmou ver motivação política no assassinato. Contudo, diferencia o caso de um crime político, previsto na Lei de Segurança Nacional —revogada no ano passado— pois esta representava um atentado contra o Estado democrático de Direito.
O entendimento do MP diverge da conclusão do inquérito elaborado pela Polícia Civil do Paraná. A delegada Camila Cecconello indiciou Guaranho por homicídio qualificado por motivo torpe e por causar risco a outras pessoas.
O atirador foi denunciado na quarta-feira (20) por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e perigo comum, com pena que pode variar de 12 a 30 anos de prisão.
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por email, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
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