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MP e Polícia Civil apuram se há relação entre suicídio e morte de petista

O guarda municipal Marcelo Arruda (esq.) foi morto a tiros pelo policial penal Jorge Guaranho (dir), que invadiu a festa temática do PT onde a vítima fazia a festa de 50 anos em Foz do Iguaçu (PR) - Arte/UOL
O guarda municipal Marcelo Arruda (esq.) foi morto a tiros pelo policial penal Jorge Guaranho (dir), que invadiu a festa temática do PT onde a vítima fazia a festa de 50 anos em Foz do Iguaçu (PR) Imagem: Arte/UOL

Herculano Barreto Filho e Chico Alves

Do UOL, em São Paulo e no Rio

18/07/2022 12h51Atualizada em 18/07/2022 19h25

O Ministério Público e a Polícia Civil do Paraná investigam se há relação entre um suicídio e o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, morto a tiros na noite de 9 de julho no aniversário de 50 anos comemorado com uma festa temática do PT em Foz do Iguaçu (PR). Funcionário da Itaipu, Claudinei Coco Esquarcini, 44, morreu em Medianeira, município a 50 km de Foz.

Diretor da associação onde ocorreu a festa, ele é apontado como o encarregado pela instalação do sistema de câmeras de vigilância no local do crime. O celular dele foi apreendido pela Polícia Civil e será encaminhado ao Instituto de Criminalística, informou documento encaminhado pelo MP à Justiça hoje à tarde, ao qual o UOL teve acesso.

O policial penal Jorge José da Rocha Guaranho teve acesso às imagens da festa quando estava em um churrasco com amigos, segundo a Polícia Civil. Integrantes da associação que participavam da confraternização mostraram as imagens a partir de seus celulares a Guaranho. Em seguida, ele foi ao local para "provocar" os participantes do aniversário do petista, de acordo com as investigações.

Questionado sobre o acesso às câmeras, José Augusto Fabri, vigilante da Itaipu, citou Claudinei como o encarregado pelo sistema de monitoramento, instalado no local para prevenir furtos.

"Tem que ter uma senha. Esse processo quem faz é o Claudinei. Como ele conhece de configuração, montagem, manutenção e ele faz parte da diretoria, então ele cuida dessa parte", disse o vigilante em depoimento à Polícia Civil.

Pedido de diligências complementares

Um requerimento assinado hoje em conjunto pelos representantes legais da família de Marcelo Arruda solicitou diligências complementares à 3ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu após o episódio.

Os advogados querem que o presidente da associação seja intimado para apresentar a lista completa dos associados ao Ministério Público. Eles também solicitam a busca e apreensão do celular de Claudinei "tendo em vista que os equipamentos celulares de [nomes das duas testemunhas que mostraram o vídeo da festa ao atirador] foram utilizados pelo criminoso para visualizar as câmeras", cita o pedido.

O requerimento solicita ainda a quebra dos sigilos telefônico e telemático para extração de áudios, vídeos e conteúdos em redes sociais. Os advogados querem saber quais associados poderiam ter acesso às câmeras de monitoramento do local da festa, e se as senhas foram disponibilizadas por Claudinei.

Há risco de destruição de provas e as medidas e diligências requeridas são de natureza urgente"
Um dos trechos do pedido

O pedido cita a relação de amizade entre o atirador e duas testemunhas, que teriam exibido as imagens da festa ao autor do crime. "Guaranho [e as duas testemunhas] são amigos, frequentam [as mesmas] festas e participam de dois grupos do WhatsApp", cita o pedido.

O advogado Daniel Godoy entende que as autoridades devem quebrar o sigilo telefônico do diretor da entidade para apurar como as imagens foram acessadas. "O suicídio deve ser apurado, pois ele [Claudinei] era o responsável pelas câmeras e pelas senhas de acesso. É possível que ele tenha viabilizado o acesso às imagens", afirmou.

MP pede urgência em análise de dados do celular de atirador

Em resposta às demandas dos representantes legais da família da vítima, o promotor Tiago Lisboa Mendonça encaminhou manifestação à Justiça solicitando o encaminhamento dos laudos periciais ainda pendentes na investigação do assassinato, incluindo ainda a solicitação de câmeras de vigilância no trajeto do atirador até o local do crime.

O MP também reforçou no documento a importância da extração dos dados do celular do atirador, apreendido na semana passada pela Polícia Civil.

A extração integral dos dados contidos no aparelho celular do agressor, com posterior análise pelas equipes policiais, permitirá acesso à integralidade das informações e dados ali constantes"
Trecho de documento enviado pelo MP à Justiça

"Também permitirá acesso a todas as conversas travadas pelo agressor, sejam privadas ou em grupos, em todas as redes sociais que eventualmente este participasse", complementa o pedido.

Abalado após o crime, dizem amigos

Pessoas próximas a Claudinei ouvidas pelo UOL sob a condição de anonimato dizem que ele ficou abalado emocionalmente após o crime. Agora, o Ministério Público e a Polícia Civil do Paraná querem saber se há relação entre o suicídio e o assassinato do petista.

A Itaipu Binacional, onde Claudinei trabalhava, emitiu nota de pesar pelo seu falecimento. "Claudinei trabalhou na Itaipu por 20 anos, sempre como agente de segurança da Divisão de Segurança da Central. A Itaipu está prestando toda a assistência necessária à família, a quem expressa suas condolências". Claudinei deixa esposa e três filhos.

Lacunas na investigação

Apoiador de Jair Bolsonaro (PL), o atirador foi ao local da festa de carro com a esposa e a filha de três meses no banco de trás com gritos de apoio ao presidente e ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dando origem ao desentendimento, segundo consta em depoimentos e nas imagens do crime.

Ele foi indiciado na última sexta-feira (15) por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e por causar perigo a outras pessoas, com pena que pode variar de 12 a 30 anos de prisão.

A delegada Camila Cecconello descartou crime de ódio por motivação política, baseando-se no relato da esposa do atirador. Os advogados da família da vítima contestam, citando o relato de uma testemunha, que disse ter ouvido Guaranho gritar "aqui é Bolsonaro" instantes antes de atirar.

Com a conclusão em apenas cinco dias, ainda há lacunas para serem preenchidas na investigação, como a extração dos dados no celular do atirador e a leitura labial na cena do crime.

As informações contidas no aparelho podem auxiliar a investigação a identificar uma eventual participação indireta de terceiros na ação, de acordo com representantes legais da família de Arruda.

O promotor Tiago Lisboa Mendonça, do núcleo regional de Foz do Iguaçu do Gaeco (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado), notificou a Justiça na sexta-feira informando aguardar o despacho de indiciamento formal e os laudos periciais pendentes no inquérito policial.

O inquérito ainda aguarda exames, como perícia de confronto balístico, exame complementar no veículo usado pelo atirador e laudo em local de morte. Também não foi feita a reconstituição no local do crime.

Procure ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por email, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.