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Filha é suspeita de roubar R$ 720 mi da mãe, incluindo quadro de Tarsila

Do UOL, em São Paulo

10/08/2022 10h20Atualizada em 10/08/2022 14h21

Uma mulher foi presa pela Polícia Civil do Rio de Janeiro suspeita de ter armado um golpe contra a própria mãe, uma idosa de 82 anos, em um esquema que conseguiu subtrair mais de R$ 720 milhões da vítima, em bens que incluem pelo menos 16 obras de artistas renomados, como Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti.

Em nota oficial, a Polícia Civil não publicou nomes, mas a reportagem do UOL apurou junto às investigações da polícia que se trata de Sabine Coll Boghici. Ela teria iniciado o golpe contra Genevieve Boghici em janeiro de 2020, quando a mãe, viúva de um grande colecionador de arte, foi abordada por uma suposta vidente enquanto saía de uma agência bancária em Copacabana, recebendo a previsão de que sua filha estava doente e morreria em breve.

Adepta de rituais místicos e ciente de que a herdeira enfrenta problemas psicológicos desde a adolescência, a vítima decidiu realizar o pagamento para um suposto tratamento espiritual, que salvaria a mulher.

Em apenas duas semanas, entre 22 de janeiro e 5 de fevereiro de 2020, ela fez transferências que ultrapassaram os R$ 5 milhões, segundo nota enviada pela Polícia Civil ao UOL.

A idosa começou a desconfiar que tinha sofrido um golpe alguns dias depois da última transação, quando a filha começou a isolar a mãe de amigos e conhecidos, além de dispensar funcionários que trabalhavam na casa da família.

Estranhando o comportamento da suspeita, Genevieve decidiu suspender os pagamentos à vidente, mas passou a ser agredida e ameaçada por comparsas da herdeira, voltando a entregar bens e transferir dinheiro.

Apenas em quadros, a quadrilha subtraiu mais de R$ 700 milhões. Além disso, os suspeitos também tomaram joias da idosa. A operação contra a quadrilha liderada pela filha dela, que começou na manhã de hoje, cumpre mandados de prisão contra seis suspeitos, além de realizar a apreensão de bens.

A obra "Sol Poente", de Tarsila, uma das mais valiosas do acervo, foi encontrada no estrado de uma cama em uma das casas visitadas pela operação. Em uma delas, os policiais tiveram de forçar a entrada após não serem atendidos.

Ao todo, 16 quadros do patrimônio da vítima foram subtraídos. Três deles, avaliados em mais de R$ 300 milhões, foram recuperados em uma galeria de arte de São Paulo.

"O proprietário do estabelecimento confirmou que vendeu outras duas para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires. Ele não desconfiou por conhecer a família e pelos quadros terem sido entregues a ele pela própria filha da idosa", concluiu a nota enviada ao UOL pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, que não deu detalhes sobre a identidade dos suspeitos.

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16 quadros do acervo de idosa foram subtraídos durante golpe, incluindo obras de Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti
Imagem: Reprodução/TV Globo

Acervo quase foi destruído por incêndio há 10 anos

Os quadros subtraídos pela herdeira de Genevieve Boghici quase foram consumidos pelo fogo durante um incêndio no apartamento da família em Copacabana, em agosto de 2012. As chamas chegaram a atingir algumas obras do acervo, destruindo clássicos como "Samba", de Di Cavalcanti, e "A Floresta", de Alberto Guignard.

Na ocasião, o Corpo de Bombeiros concluiu que o fogo foi causado por um curto-circuito no ar condicionado instalado no imóvel, que Genevieve dividia com o marido Jean Boghici, um imigrante romeno que fez fortuna no mercado da arte do Brasil como colecionador e "marchant", que faleceu em 2015, aos 87 anos, deixando sua fortuna para as duas herdeiras.

Depois da morte do milionário, a filha do casal entrou em uma disputa na Justiça com a mãe, segundo informações da época à coluna de Ancelmo Goes, no jornal O Globo. Na ação, ela pede a posse dos bichos de estimação da família e cobra uma nova divisão do inventário de imóveis deixados por Jean, afirmando que pediu um apartamento mais ao centro do Rio para a idosa, por se sentir muito isolada em um sítio em Itaipava, distrito de Petrópolis.

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Policiais civis tiveram que forçar entrada em casa durante operação
Imagem: Reprodução/TV Globo

Na última atualização do caso, divulgada em junho deste ano, a 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio negou o recurso impetrado pela filha para retomar a posse dos bichos de estimação instalados na propriedade serrana.

Os desembargadores concordaram com a justificativa do juízo de primeira instância, da 8ª Vara Cível, para rejeitar o pedido de busca e apreensão dos animais. De acordo com a decisão, não ficou comprovado que a mulher é a dona exclusiva dos bichos. A Justiça ainda aguardava a manifestação de Genevieve, que é ré no caso, para tomar uma decisão final.

O UOL tenta contato com advogados que representem ambas as partes, mas ainda não há informações da polícia e do judiciário sobre isso. A matéria será atualizada caso haja um posicionamento.