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Os perrengues da jovem de 20 anos que pesa 35 kg e é confundida com criança

"Nas lojas não tem nem biquínis pra mim, geralmente são tamanhos pra quem tem seios grandes" - Acervo Pessoal
"Nas lojas não tem nem biquínis pra mim, geralmente são tamanhos pra quem tem seios grandes" Imagem: Acervo Pessoal

Marcela Schiavon

Colaboração para o UOL, em Santo André

11/08/2022 04h00

Com altura de 1,59 m e pesando 35 kg, a estudante de teatro e publicidade e propaganda Maria Gisele de Souza Gomes, de 20 anos, tem chamado atenção nas redes sociais ao compartilhar com bom humor os perrengues do cotidiano em razão do baixo peso para sua idade e estatura.

Ela conta que suas redes sociais passaram a ser bombardeadas com mensagens de pessoas que se identificam com a mesma situação e por dúvidas sobre a sua real condição de saúde, o que a levou a falar abertamente sobre o tema.

A jovem diz que não é diagnosticada com nenhum distúrbio alimentar ou endócrino, mas desabafa que luta para engordar para assim, segundo ela, ter uma vida mais normal, como parar de ser confundida com criança e comprar roupas com mais facilidade.

Ao UOL, a estudante relata que passa por apuros por conta de seu peso. Confundida com uma criança na maior parte das vezes, carrega o RG para todo lugar e fala que já chegou a sofrer bullying de colegas. Por parecer sempre mais jovem, também sente dificuldades em abordar questões a respeito do seu peso fora das redes sociais e tenta sempre esconder seu corpo com roupas largas e soltas para parecer mais velha na aparência.

"Quando tem algum evento, tenho de sair para comprar roupa bem antes porque já sei que vão ficar grandes e vou precisar apertar. Além disso, em entrevistas de emprego sempre me confundem com alguma adolescente ou duvidam que estou na faculdade." Gisele Gomes.

Peso é tratado com toques de humor nas redes

Em suas redes sociais, a estudante conta os perrengues de maneira bem-humorada para encontrar roupas do tamanho correto e que acaba usando o que acha nas seções infantis ou mandando apertar. "Tudo fica grande".

A estudante mora com os pais e o irmão em Petrolina, Pernambuco, não pratica atividades físicas, como musculação, apenas faz alongamento antes das aulas de teatro. Ela tampouco utiliza suplementos alimentares para ganhar massa muscular.

Como gosta de artes cênicas, começou a criar conteúdos lúdicos e de humor, até que decidiu falar como é ser uma adulta com esse peso. O vídeo mais famosos, publicado em 3 de agosto sobre seu corpo e roupas, conta, até agora, com 3,8 milhões de visualizações:

Dos mais de 3,6 mil comentários, muitas pessoas se identificaram com problema semelhante. "É uma luta para aumentar", disse uma seguidora.

Tem até quem tente ganhar massa muscular com auxílio de suplementos: "Tenho 18 anos, 1,59 de altura. Usei roupa infantil minha vida toda. Pesava 40 kg no máximo e o que está me ajudando é vitamina para ganhar massa".

Por causa do biotipo, aliás, Maria Gisele diz que aproveita para deixar a salada de lado para comer o que possa fazê-la ganhar mais peso.

"Sou a inimiga número 1 da salada. Meus lanches são sempre besteiras, tipo bolo de chocolate, bolacha, pipoca, hambúrguer", relata a estudante.

Histórico precisa ser analisado, diz nutricionista

Entre os visualizadores do conteúdo da jovem que popularizou na internet, alguns recomendam que ela procure um médico ou que coma mais. Giulia Murakami, especialista em Nutrição Clínica e Metabologia pela USCS (Universidade de São Caetano do Sul), acredita que o primeiro ponto para pessoas como Maria Gisele é observar o histórico alimentar.

A especialista conta que os hábitos alimentares dos pacientes, desde a infância, passando pela cultura de alimentação da família e até a parte emocional pode afetar no ganhou ou não de peso.

O IMC (Índice de Massa Corpórea) é um parâmetro usado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para calcular o peso de cada indivíduo. Para uma pessoa com 1,59 m, igual Maria Gisele, pesando apenas 35 kg, o indicador é aferido em 13,8, o que significa magreza. O ideal, de acordo com o índice, seria um número acima de 18, representando 47 kg.

Para o núcleo familiar de Maria Gisele, segundo a estudante, é comum adolescentes e jovens adultos com peso similar ao dela.

"Pessoas com nessas condições acabam mantendo o peso sempre baixo, mesmo sem fazer esforço ou ter qualquer tipo de doença e distúrbio alimentar, além de apresentar IMC menor do que 17,5", afirma a nutricionista.

Caso de Maria Gisele pode ser hereditário. "Uma vez que não tenhamos nenhum dado clínico, como distúrbios endócrinos, infecções, neoplasias ou problemas psiquiátricos (transtornos alimentares), que justifiquem a dificuldade no ganho de peso, costumamos tratar o caso com o que denominamos de 'magreza constitucional'. Nesses casos, já existe um histórico prévio na família, como pais e avós".

O tratamento nutricional para quem possui magreza constitucional envolve acolhimento e esclarecimento unindo saúde mental e corporal. "O fator genético/biotipo existe, porém isso não significa que a alimentação deve ser deixada de lado", relaciona a especialista.

A especialista ainda afirma que o preconceito sofrido pela estudante em razão do corpo demonstra ser algo cultural: "A forma como o corpo magro é visto na sociedade ainda é associada à saúde, porém já sabemos que isto não é verdade e que o tipo de corpo de cada um não costuma ditar saúde física, necessariamente".