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Ex denunciou PM por forçar aborto durante ato sexual antes de morrer no PR

Franciele foi feita de refém por Dyegho e morreu ontem - Reprodução/Instagram
Franciele foi feita de refém por Dyegho e morreu ontem Imagem: Reprodução/Instagram

Vinícius Rangel

Colaboração para o UOL, em Curitiba

14/09/2022 10h47Atualizada em 14/09/2022 11h22

Um documento obtido pelo UOL revela que o PM que matou a tiros a ex-companheira e depois se suicidou foi denunciado por supostamente ter tentado forçar dois abortos da mulher, ambos durante relações sexuais.

A ocorrência foi registrada na delegacia do bairro Rebouças, na sexta-feira (9), depois das ameaças que a vítima sofreu do ex. De acordo com o boletim de ocorrência, a enfermeira Franciele Correia e Silva, 28, relatou que o soldado Dyegho Henrique Almeida da Silva, 32, teria lhe aplicado um medicamento abortivo.

"Ressalta que no ano passado a vítima engravidou do noticiado que, quando ficou sabendo, começou a insistir para ela abortar. Quando a vítima estava com dois meses de gravidez, o noticiado colocou misoprostol, vulgo Citotec, na vagina da vítima durante um ato sexual, alegando ser uma bolinha lubrificante", diz o boletim de ocorrência.

Como a vítima sempre tomava banho depois de manter relações, neste dia ela achou estranho que ele não queria que ela fosse para o chuveiro. Franciele relatou que estranhou o pedido, mas mesmo assim foi se banhar e notou um produto branco, que desconfiou ser o medicamento abortivo.

"Ao questionar Dyegho, ele confessou ser Citotec e pediu desculpas", relatou Franciele, no BO.

Os dois teriam brigado nesse dia e o PM foi embora de casa, ainda insistindo no aborto. Franciele se negava e decidiu ter o bebê.

Criança nasceu dentro de carro

No dia que a vítima havia comprado os móveis do quarto da bebê, o PM pediu para conversar com ela e ver o espaço. Franciele relatou no boletim de ocorrência que Dyegho chegou a ajudar a montar o berço e nesse mesmo dia eles mantiveram relações sexuais. Porém, Dyegho novamente surgiu com uma caixa da falsa bolinha lubrificante.

Porem, "após a relação, a vítima começou com dor e sangramento. Em contato com a obstetra, foi de Uber para o Hospital Santa Brígida, vindo a criança a nascer na frente do hospital, dentro do Uber (dia 23/03/22 a criança nasceu prematura e sobreviveu apenas 5 dias)", descreve o BO.

Enfermeira não revelou aborto por medo

O boletim de ocorrência traz ainda a informação de que quando a criança morreu, a vítima ficou com depressão e não contou a ninguém sobre os ocorridos. Dyegho foi afastado por um mês do trabalho por um psiquiatra.

Franciele ainda pediu sigilo para sua advogada e os médicos, por ter medo da reação do então companheiro, pelo fato de ele ser policial militar. Ao investigador, ela ressaltou também que sua gestação correu bem, e o pré-natal estava "perfeito".

O médico que finalizou o parto no Hospital Santa Brígida chegou a questionar a vítima sobre um possível aborto proposital.

Todo o caso foi encaminhado à DHPP (Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Curitiba. A Polícia Civil informou que momento não irá fornecer informações e a delegada responsável pelo caso optou por não comentar as investigações.

Relembre o caso

O soldado da Polícia Militar Dyegho Henrique Almeida da Silvaatirou oito vezes em direção ao carro da ex-mulher em Curitiba (PR), ontem. Segundo a PM, depois dos disparos, ele entrou no veículo e fez Franciele de refém. A vítima morreu após passar mais de três horas na mira do ex-companheiro, que cometeu suicídio em seguida.

De acordo com as testemunhas, a ação aconteceu às 17h12 e foi flagrada por câmeras de segurança da região. Na imagem, é possível ver o policial chegando em uma moto e fechando o carro da ex-companheira. Ele desce e aponta a arma. Em seguida, a condutora dá ré e atinge outro automóvel que está atrás. O PM atira várias vezes.

Durante toda a negociação, o homem foi irredutível e disse que não iria se entregar. Tiros foram ouvidos por volta das 21h10 pelas equipes de reportagem que estavam no local cobrindo a operação, indicando a morte de ambos.

Em caso de violência, denuncie

Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.

Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.

Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.

Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.