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Rojão, genitália: 9 vezes em que comportamento de alunos de medicina chocou

Alunos de medicina da Unig criaram "grito de guerra" considerado ofensivo entre os estudantes - Reprodução/Redes Sociais
Alunos de medicina da Unig criaram "grito de guerra" considerado ofensivo entre os estudantes Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Nathalia Lino

Colaboração para o UOL

18/10/2022 04h00

Um vídeo de estudantes de medicina gritando frases preconceituosas contra motoboys viralizou na semana passada nas redes sociais. Essa, no entanto, não foi a única vez em que o comportamento de futuros médicos causou revolta. Alunos de medicina de outras universidades já se envolveram em casos de violência de gênero e racismo.

O grito contra motoboys foi proferido por parte dos estudantes de medicina da Unig (Universidade Iguaçu) durante os jogos universitários. A prefeitura de Vassouras (RJ), cidade em que o evento foi sediado, informou que os alunos envolvidos foram banidos das outras atividades do torneio e a instituição de ensino, multada.

No vídeo, os alunos foram filmados gritando: "Ei, eu sou playboy. Não tenho culpa que seu pai é motoboy". O valor da multa não foi divulgado, mas, de acordo com o prefeito de Vassouras, Severino Dias (DEM), o dinheiro já tem destino: comprar uma moto, que será sorteada entre os motoboys da cidade.

Veja outras vezes em que o comportamento de estudantes de medicina chocou e causou revolta:

Inquérito sobre racismo

Em 2005, residentes e ex-residentes de medicina da UEL (Universidade Estadual de Londrina) responderam a um inquérito sobre possíveis manifestações racistas contra funcionários do Hospital Universitário. Os estudantes foram acusados de criarem uma comunidade no Orkut, com frases racistas e sexistas contra os trabalhadores.

Rojões em hospital

Em dezembro de 2008, a mesma universidade se envolveu em outra polêmica. Catorze estudantes foram suspensos da formatura, acusados de invadirem o Hospital Universitário com sprays de espuma, bebidas alcoólicas e rojões (acionados dentro da unidade), em uma área em que alguns pacientes em estado grave estavam internados.

Estupros em festas

Em 2014, alunas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) denunciaram estupros e práticas abusivas durante festas, eventos estudantis e em trotes, em que os calouros são recebidos por alunos veteranos. Um coletivo feminista da FMUSP, o Geni, criado em 2013 por alunas da universidade, passou a receber as alunas novas.

'Dopasmina'

Em 2016, estudantes do curso de medicina da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) criaram polêmica nas redes sociais com uma postagem com o termo 'dopasmina'. A palavra era um trocadilho utilizado por estudantes de medicina para dopamina, neurotransmissor responsável pelas emoções e movimentos.

Segundo o Coletivo Nise da Silveira, o termo é usado para "nomear festas e eventos onde ocorrem diversas tentativas e abusos sexuais às mulheres". Entidades dos direitos humanos e dos direitos das mulheres assinaram nota de repúdio à atitude dos estudantes. Em protesto, cartazes alteraram o termo 'dopasmina' para 'respeitasmina' e 'juntasmina'.

Em nota na época, os estudantes negaram que o termo tivesse sido usado de forma pejorativa. "Em nenhum momento a idealização do nome teve interesse pejorativo ou de caráter degradante, tampouco a intenção de fazer apologia ao estupro ou de desrespeitar as mulheres", destacou a nota.

Genitália com as mãos

Médicos - Reprodução - Reprodução
Foto de médicos gerou revolta nas redes sociais
Imagem: Reprodução

Já em 2017, doze alunos de medicina da Universidade Vila Velha (UVV) postaram uma foto que repercutiu em todo o país. Os estudantes do último ano faziam as fotos para a formatura. Em uma das imagens, os jovens aparecem vestindo o jaleco, com as calças abaixadas até o tornozelo, simulando uma genitália feminina com as mãos. Na legenda, a hashtag #PintosNervosos.

Os alunos envolvidos na foto foram punidos pela UVV a pagarem com "trabalhos de responsabilidade social".

'Vagabundas'

Machista não se arrependeu do que fez - Reprodução - Reprodução
Machista não se arrependeu do que fez
Imagem: Reprodução

Ainda em 2017, um estudante de medicina da Universidade Estadual de Londrina fez uma postagem em um grupo fechado do evento Intermed Paraná 2017 em que, com palavras machistas, misóginas e de baixo calão, ofendeu alunas da UFPR (Universidade Federal do Paraná), chamando as universitárias de "vagabundas".

Entidades repudiaram a atitude do aluno e abriram um processo contra o estudante. Em um print de uma conversa que vazou nas redes sociais, o universitário não se mostrou arrependido do comentário e ainda debochou da situação.

'Tentativa de coito'

Em 2019, outra polêmica. Durante um trote dos estudantes de medicina da Unifran (Universidade de Franca), calouras apareceram "jurando' não recusar 'tentativa de coito". O vídeo em que elas aparecem ajoelhadas provocou reações de indignação de entidades estudantis e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Em um dos trechos, as jovens prometem: "Juro solenemente nunca recusar uma tentativa de coito de um veterano. Prometo nunca entregar o meu corpo a nenhum invejoso, burro, trouxa... da Odonto". Em nota, a Unifran condenou o ocorrido.

Dez minutos para dormir

Neste ano, em 8 de fevereiro, uma estudante de medicina ironizou em suas redes sociais a morte de uma paciente no hospital em que era estagiária, em Marechal Deodoro, Alagoas.

"Faltando dez minutos para minha hora de dormir, chega uma mulher infartando e com edema agudo de pulmão. E agora já passou 1h30 da minha hora de dormir. Estou p...", escreveu.

Pouco depois, a jovem realizou uma nova postagem. Uma selfie com o polegar para cima em sinal de positivo com a legenda: "Atualização: mulher morreu e eu não dormi".

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Marechal Deodoro, foi solicitado o desligamento da jovem do quadro de estagiários do município.

'Sempre uma mulher'

No dia 12 de julho, uma nova polêmica envolvendo um aluno de medicina veio à tona. Um jovem de 21 anos, estudante da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), satirizou um texto publicado em tom de desabafo por uma mulher nas redes sociais. A fotógrafa Tracy Figg criticava um caso de estupro de uma paciente que passava por uma cesárea.

"No cruzamento da preferencial, com placa de pare, na mudança de pista, no sinal vermelho, na pista molhada, loiras, morenas [...] nem toda mulher, mas sempre uma mulher", dizia o trecho do comentário feito pelo estudante de medicina.