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Aracruz: Adolescente planejou atentado a escolas por 2 anos, diz polícia

Vinícius Rangel

Colaboração para o UOL, de Vitória

25/11/2022 18h49Atualizada em 28/11/2022 17h54

O adolescente de 16 anos suspeito de ser o autor do atentado a tiros contra duas escolas de Aracruz (ES), que deixou três pessoas mortas, planejou a ação por dois anos, de acordo com a Polícia Civil do Espírito Santo. Em coletiva de imprensa realizada na tarde desta sexta-feira (25), também foi informado que profissionais da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Primo Bitti, a primeira unidade de ensino atacada e onde o infrator estudava até alguns meses atrás, vinham recebendo ameaças de morte que anunciavam "vingança".

De acordo com informações de testemunhas à polícia, após o crime, o adolescente se escondeu na casa dos pais e confessou o atentado. O pai dele, tenente da PM capixaba, chamou a polícia e informou onde o filho estava, logo após conferir os vídeos da ação, em que o adolescente aparece utilizando a arma do oficial. O veículo utilizado na ação estava estacionado na garagem da família e também foi rastreado pela polícia.

O adolescente foi encaminhado à 13ª Delegacia Regional de Aracruz e, na chegada ao local, dezenas de pessoas cercaram a viatura e houve princípio de tumulto. Revoltados, moradores queriam agredir o suspeito e gritavam contra o adolescente. A PM precisou reforçar a segurança no local.

"Ele contou que há dois anos estava planejando esse ataque. Hoje ele acordou e resolveu executar. Ele pegou o carro do pai, cobriu as placas, cometeu o ato e depois voltou pra casa. Ele se abrigou numa segunda casa que a família tinha", explicou o chefe da Polícia Civil, José Darcy Arruda.

O delegado detalhou ainda que o adolescente portava duas armas de fogo, um revólver calibre 38 e uma pistola ponto 40 que pertencia ao pai. "Acreditamos que ele não tinha um alvo definido. Vamos investigar a história a fundo e procurar saber como ele se relacionava nos últimos meses na internet", completou Arruda.

De acordo com a polícia, o adolescente foi retirado da unidade de ensino no primeiro semestre deste ano por "não se adaptar à rotina da escola". Os detalhes desse processo não foram esclarecidos. As Polícias Civil e Militar, no entanto, acreditam que ele seria o autor das ameaças contra uma diretora e um professor da instituição, com base em relatos de estudantes sobre o que teriam ouvido o ex-aluno compartilhar. A motivação das ameaças ainda não foi esclarecida.

Primeiro ataque foi encerrado após ação de professor

Um professor de 37 anos, presente na sala dos docentes invadida pelo adolescente de 16 anos que promoveu um atentado contra duas escolas de Aracruz (ES), na manhã de hoje, disse ter entrado em confronto com o ex-aluno da instituição e conseguido impedir que ele recarregasse a arma de fogo usada na ação. Em entrevista ao UOL, o homem, que pediu para não ser identificado, disse que ele e os colegas foram surpreendidos enquanto estavam tomando café, pouco antes das 10h.

"Assim que vi ele entrando armado e atirando, tentei me abrigar e achei uma barra de ferro", contou o profissional de ensino. Na primeira investida durante o crime, seis pessoas foram baleadas.

"Quando percebi que ele estava recarregando a pistola, bati na mão dele para tentar evitar que ele recarregasse e ele fugiu". No local, ele atingiu 11 pessoas, duas delas, professoras que morreram ainda no local — a professora de matemática Cybelle Passos Bezerra Lara, 45, e a docente de artes Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, 48.

"Só vi ele entrando no carro e indo embora", completou o professor.

Depois de desistir da ação na sala dos professores, no entanto, o garoto teria deixado a unidade de ensino, mas resolveu investir contra uma segunda escola, o Centro Educacional Praia de Coqueiral, na mesma avenida.

Ação foi gravada

Imagens feitas por câmeras de segurança registraram a ação do atirador no Centro Educacional Praia do Coqueiral, a segunda invadida, na manhã de hoje, onde uma aluna do 6º ano fundamental acabou morta. Os vídeos mostram a entrada do suspeito — ele usa um macacão e um chapéu camuflados, uma máscara com sorriso de caveira e um cinto preto em volta da cintura, aparentemente preparado para guardar munições.

Leia também: Em Colatina, também no Espírito Santo, escola é palco de outro ataque nesta sexta-feira

Levando uma arma nas mãos, o infrator atravessou o portão do colégio, após arrebentar um cadeado, e correu em direção à porta de acesso ao prédio onde ficam as salas de aula. Ele então começa uma "caçada" pelos corredores da escola, correndo por diversas áreas do edifício e esticando a arma com frequência, ficando em posição para atirar.

Um dos trechos mostra dois alunos e uma funcionária caminhando por um corredor quando, de repente, ouvem a ação do atirador. Eles então começam a correr e se separam em busca de refúgio, sendo seguidos.

Uma outra câmera capturou um aluno correndo para dentro de uma sala de aula vazia, com a mão na barriga. Logo em seguida, o garoto cai no chão, ensanguentado na região do abdômen.

Toda a ação no colégio durou pouco menos de 2 minutos. Segundo informações da Secretaria Estadual de Segurança Pública do Espírito Santo, três pessoas morreram e outras 13 ficaram feridas nos dois atentados.

Impacto

Dois suspeitos já tinham sido descartados da investigação: um outro adolescente de 16 anos que estuda em um dos colégios e um motorista, que chegou a ser detido no final da manhã de hoje.

Os tiros foram ouvidos por vizinhos dos colégios. A polícia investiga se houve algum outro envolvido no crime que poderia ter ajudado na condução do veículo usado na ação, um Renault Duster de cor dourada.

No Twitter, Lula disse ter tomado conhecimento do caso "com tristeza". "Minha solidariedade aos familiares das vítimas dessa tragédia absurda", escreveu, e prestou apoio ao governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) "na apuração do caso e amparo para as comunidades das duas escolas atingidas".

Casagrande, também pelas redes sociais, anunciou luto de três dias pelas vítimas da ação em Aracruz. Ao todo, três pessoas morreram e 13 foram feridas.