Polícia investiga se aluna tentou lucro ao perder R$ 927 mil de formatura
Investigada por desviar R$ 927 mil da comissão de formatura dos colegas do curso de medicina da USP, Alicia Muller, 25, recebeu diversos depósitos em sua conta bancária ao longo de 2022, segundo a Policia Civil.
Uma das linhas de investigação da polícia de São Paulo apura se ela arrecadou o valor dos estudantes e o empregou para obter lucro com apostas em loteria, mas perdeu o dinheiro e não conseguiu repor.
Intimada para depor na segunda-feira (23), a aluna tem pais de origem humilde, que estão desolados com a denúncia.
Alicia é investigada em dois inquéritos:
- O primeiro, no Deic de São Bernardo do Campo (ABC paulista), por suspeita de estelionado e lavagem de dinheiro após calote em uma lotérica em julho;
- O segundo, no 16º DP, na capital paulista, apura se ela desviou o dinheiro da formatura ou se foi vítima de um golpe, como alega.
As linhas de investigação do desvio do dinheiro da formatura são as seguintes:
- Alicia foi vítima de golpe de uma corretora, como alegou aos colegas de turma. Ela disse que, na intenção de ver o dinheiro da formatura render, transferiu o montante da Ás Formaturas --contratada para arrecadar o dinheiro-- para a empresa financeira, que teria sumido com o valor;
- Alicia tentou obter lucro por meio de apostas na Lotofácil usando o dinheiro da formatura;
- Alicia tentou se apropriar de todo o dinheiro depositado.
'Ene depósitos em ene contas'
No primeiro inquérito, a polícia tenta descobrir se Alicia lavou dinheiro por meio de diversas apostas realizadas entre abril e julho em uma mesma lotérica na Vila Mariana, zona sul da capital.
Entre abril e julho, a estudante realizou ao menos R$ 397,2 mil em apostas no mesmo lugar e ganhou R$ 366,6 mil em prêmios —diferença que demonstram que, no período, Alicia perdeu dinheiro. Apesar das perdas, no entanto, o método é eficiente para lavar dinheiro, diz a polícia.
Depois de diversas apostas na casa dos R$ 10 mil, a lotérica procurou a polícia alegando ser vítima de estelionato: no dia 12 de julho, Alicia fez apostas no valor de R$ 193 mil sem que a transferência por Pix fosse efetuada.
Para descobrir a origem do dinheiro, os investigadores pediram a quebra do sigilo bancário da aluna, ainda em 2022.
"São ene créditos que ela recebeu de ene contas", diz o delegado Miguel Ferreira da Silva, responsável pelo caso. "A gente quer saber quem são essas pessoas."
Após a revelação de que a aluna desviou quase R$ 1 milhão da comissão de formatura, o delegado "deduz" que o dinheiro para as apostas na lotérica saiu da comissão de formatura.
Uma hipótese é de que os depósitos na conta dela tenham sido efetuados pelos próprios alunos da USP, mas a investigação ainda precisa avançar, já que a empresa Ás Formaturas havia sido contratada justamente para arrecadar o dinheiro para a festa.
"Os valores variam muito. Estamos analisando essa quebra de sigilo", diz o delegado.
O crime de estelionato está claro. Mas qual a origem do dinheiro, já que ela não trabalha? Ela é ligada a alguma organização criminosa?"
Miguel Ferreira da Silva, delegado do Deic São Bernardo do Campo
O UOL visitou a lotérica, que fica dentro de um supermercado Pão de Açúcar. O espaço é pequeno, com apenas três caixas. Uma funcionária disse que ninguém estava autorizado a falar sobre o assunto e que o dono da lotérica não conversaria com a imprensa.
Relação de confiança
O delegado suspeita que Alicia escolheu a mesma casa lotérica para realizar as apostas porque desejava criar vínculo com os funcionários.
Para ele, foi em razão da confiança conquistada que Alicia deixou o prejuízo de R$ 193 mil: o dono da lotérica contou à polícia que sua funcionária entregou os comprovantes de apostas à estudante antes de se dar conta de que o pagamento havia sido agendado —e não debitado— por Pix.
De família humilde, Alicia vai depor na segunda
Já o delegado que apura o desvio de quase R$ 1 milhão da formatura agendou para a próxima segunda o depoimento da estudante.
"Essa data pode ser antecipada", afirmou o delegado Guilherme Santos Azevedo. Na sexta (20), será a vez de dois membros da comissão de formatura e representantes da Ás Formaturas serem ouvidos.
"A empresa precisa reunir os documentos antes de vir conversar conosco", diz o delegado. "Mas se for possível, também vamos adiantar a oitiva para quinta [19]."
Filha de um mecânico e de uma dona de casa, Alicia estudou em escola pública até ingressar em um cursinho pré-vestibular e estudar por três anos para finalmente ser aprovada pela faculdade de medicina na USP em 2018.
"A família é humilde, não tem antecedentes criminais", disse Azevedo. "Acredito que a investigação estará bem encaminhada na segunda, após o depoimento da aluna."
O UOL procurou Alicia, mas até a publicação da reportagem não obteve retorno. O espaço segue aberto.
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