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SP: Morre advogado atingido pela própria arma durante exame de ressonância

Do UOL, em São Paulo

06/02/2023 21h13Atualizada em 07/02/2023 11h05

Morreu nesta segunda-feira o advogado Leandro Mathias de Novaes, de 40 anos, atingido por um disparo da própria arma de fogo enquanto acompanhava a mãe no procedimento de ressonância magnética em São Paulo. Ele, que estava internado desde o dia 16 de janeiro, era conhecido por produzir conteúdos pró-armas, inclusive tirando dúvidas dos seguidores sobre armamentos, no TikTok.

A morte foi confirmada ao UOL pelo advogado Angelo Cavaleri, designado pela família de Leandro para ter contato com a imprensa. O falecimento também foi divulgado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), subseção de Cotia, na região metropolitana de São Paulo, onde o advogado atuava.

De acordo com Cavaleri, o hospital avisou que o óbito ocorreu no final do dia e ainda não há informações sobre a causa da morte do advogado. Data e horário do velório e enterro de Leandro também não foram divulgados.

"É com profundo pesar que a OAB Cotia comunica a todos os colegas advogados a perda inesperada do nosso querido amigo e advogado Dr. Leandro Mathias de Novaes. Lamentamos a perda e nos solidarizamos com a família neste momento de dor."
Subseção de Cotia da OAB em comunicado nas redes

Leandro estava na UTI

Na última quarta-feira (1º), Cavaleri havia dito ao UOL que Leandro seguia na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), "em observação e aguardando o corpo reagir ao tratamento".

"Já fizeram as cirurgias necessárias (03, no total) e estão aguardando agora a evolução. Mas [o Leandro] segue estável, sem maiores complicações", disse o advogado na última semana.

Leandro deixa a mãe, esposa e um filho.

A reportagem tenta contato com o Hospital São Luiz, onde Leandro estava internado desde o dia do disparo.

Amigos lamentam a morte

Na postagem da OAB subseção de Cotia, amigos e colegas de profissão lamentaram a morte do advogado.

"Foi um dos melhores quadros da advocacia Cotiana. Talentoso e obstinado pela família. Fica seu exemplo de luta e superação. Deus o tenha sempre em bom lugar", escreveu Ricardo Monteiro.

"Uma perda inestimável. Grande amigo. Meus sinceros sentimentos aos familiares", comentou outra pessoa.

"Além de advogado, antes de mais nada era um excelente pai. Um excelente ser humano que cumpriu seu papel na sociedade e mais ainda pela defesa das prerrogativas dos advogados injustiçados da OAB, pois diversas vezes vi ele atuando em causas de defesas dos direitos da classe. Mais que isso, era da mesa que defendia os direitos de crianças com deficiência. Um grande pai. Um grande criminalista ao qual me espelhei para dar passos maiores na minha carreira, um ex colega de faculdade, pois estudamos na mesma instituição. Descansa em paz."

Entenda o caso

O caso ocorreu dentro do Laboratório Cura, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, no Jardim Paulista, na região central de São Paulo, na tarde do dia 16 de janeiro.

Segundo apuração do UOL, Leandro portava uma pistola calibre 9 milímetros, um pente extra carregado e cerca de 30 munições. O advogado teria guardado o pente extra e as munições após orientação, mas deixou a pistola na cintura durante o procedimento.

De acordo com um representante do laboratório ao SP1, da TV Globo, Leandro estava com a arma na cintura e se aproximou para ajudar a posicionar a mãe, que estava deitada na maca que entraria na máquina de ressonância magnética. O advogado teria ficado a um metro de distância da máquina quando a arma foi atraída como um imã e disparou na direção do abdômen após bater na parede do aparelho médico.

Dois funcionários também estavam na sala durante o disparo, mas não ficaram feridos. A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) informou ao UOL à época que foi constatado, pela numeração, que a arma estava registrada e que o advogado tem autorização para o porte.

Tanto a paciente, quanto o acompanhante neste caso foram aplicados questionários de consentimento e orientações sobre o campo magnético. Então, o senhor Leandro foi verbalmente orientado e também assinou um protocolo onde todas as orientações estavam escritas e esclarecidas para ele. Tanto é que ele guardou os objetos no armário e, infelizmente, o único objeto que ele não guardou foi a arma de fogo que ele portava.
César penteado, diretor-médico do laboratório

Quem era Leandro?

O advogado era conhecido por produzir conteúdos pró-armas no TikTok. Ele conta com mais de 7 mil seguidores, dos quais tira dúvidas sobre armamentos. Na primeira postagem na rede social, feita em maio do ano passado, Leandro comenta a decisão de um ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que concedeu um habeas corpus pedido por um advogado.

No mês de setembro, o advogado começou a produzir conteúdos sobre armamento, CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) e tirar as dúvidas dos seguidores. O primeiro vídeo do tema publicado resultou em mais de 42,6 mil visualizações na plataforma.

Além disso, o perfil também compartilhava imagens do advogado trabalhando em tribunais, concedendo entrevista à imprensa e participando de treinamentos de armas.

Segundo o perfil de Leandro no Instagram, ele era presidente da comissão de Prerrogativas da OAB Cotia. A informação também consta no site da subseção. Esse setor é responsável, entre outros, por dar assistência a membros da Ordem que sofrem ameaças, inclusive violações no exercício de suas funções.

O advogado se formou em Direito em 2013 e se descrevia no LinkedIn como "especialista em Direito Penal e Processo Penal".

Leandro tem o perfil fechado no Instagram, mas descrevia na biografia que é pai de um menino, faixa marrom no jiu-jítsu e tem "amor à família". Ele também marca o perfil de sua companheira ao lado de um emoji de anel.