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'Nunca vi algo assim em décadas', diz jornalista que escapou de enxurrada

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

21/02/2023 04h00

Foram 36 horas sem energia elétrica, internet, sinal de telefonia e fornecimento de água e ainda ouvindo o som da enxurrada destruindo tudo ao redor. A jornalista Paula Quagliato passou por momentos de tensão na casa de veraneio da família, na praia de Toque Toque Grande, em São Sebastião, litoral de São Paulo.

Temos casa lá há décadas, sempre passamos temporada lá. Mas nunca vi um fenômeno da natureza como esse. Foi assustador"

Paula havia deixado a cidade de Santos, onde mora, com a cunhada na quinta-feira. O objetivo era aproveitar alguns dias de férias na praia. Até o momento em que a chuva começou na madrugada de sábado.

"Na sexta-feira, ainda havia resquícios de sol. Mas eu notei que o mar estava ficando escuro. Eu sabia que aquilo era sinal de chuva, mas não imaginava a intensidade que teria", contou.

A residência da família não chegou a ser afetada pela chuva, mas a enxurrada destruiu casas vizinhas, carros foram carregados pela lama e os galhos de árvores que se acumulavam. Encanamentos de água e esgoto foram danificados.

Vários veículos foram danificados pela força da água, lama e detritos em Toque Toque Grande - Reprodução/Paula Quagliato - Reprodução/Paula Quagliato
Vários veículos foram danificados pela força da água, lama e detritos em Toque Toque Grande
Imagem: Reprodução/Paula Quagliato

No domingo, ela conseguiu sair da residência e fez vários vídeos com imagens da destruição. O volume de água da cachoeira Toque-Toque, com 25 metros de altura, que fica na Rodovia Governador Mário Covas, entre as praias Toque-Toque Grande e Toque-Toque Pequeno, aumentou tanto que formou uma tromba d'água que arrastou tudo em seu caminho.

Tudo virou lama, havia árvores e destroços para todo lado"

Com as quedas de barreiras na principal via de acesso às praias do litoral norte —a rodovia Rio-Santos—, serviços essenciais, como os da companhia elétrica e de internet, foram interrompidos.

Por conta da falta de energia, os alimentos levados para durar toda a estadia começaram a estragar. "Eu e minha cunhada comemos o que pudemos. Os barulhos do lado de fora da casa assustavam. No sábado, eu comecei a me sentir mareada, parecia que o solo embaixo da casa se movia", contou a jornalista.

Com a trégua da chuva ontem, após duas noites de sono mal dormidas, Paula decidiu que havia chegado o momento de deixar a casa. "Pela primeira vez não ouvi o canto dos pássaros de manhã. A natureza fala conosco e temos que saber interpretar os sinais".

Rota alternativa

Ela então se certificou de que seu carro estava dando partida e foi até a Rio-Santos, onde encontrou um engenheiro de estradas e dois policiais militares. "Os policiais me alertaram que seria impossível seguir na direção de Santos, pois havia oito bloqueios causados por deslizamentos. Já o engenheiro me aconselhou a pegar uma rota alternativa, indo até São Sebastião".

Paula seguiu o conselho do engenheiro e foi até o centro da cidade, passou por Caraguatatuba, depois seguiu pela Tamoios até o Rodoanel, onde enfim conseguiu acessar a rodovia Anchieta, para descer a Serra do Mar em direção a Santos.

Apesar de não estar chovendo, a descida foi feita por comboio, porque a visibilidade na serra estava dificultada. Ao todo, ela dirigiu por mais de de 5 horas até chegar em casa.

"Agora fico com o pensamento na casa. Deixei a chave com o caseiro, que mora na comunidade, mas não sei se pode acontecer alguma coisa com o imóvel.", disse.