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RJ: Anatel proíbe TV Box, mas gatonet continua sendo preferência na favela

Anatel desligou cerca de cinco milhões de decodificadores clandestinos - Getty Images
Anatel desligou cerca de cinco milhões de decodificadores clandestinos Imagem: Getty Images

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

27/02/2023 04h00

A decisão da Anatel de bloquear aparelhos de TV Box não homologados levantou uma dúvida: "isso é gatonet?". A resposta é não. O gatonet é ainda o mais frequente nas comunidades do Rio de Janeiro e, muitas vezes, um serviço controlado pela milícia.

O roubo de sinal de televisão a cabo já é popular dentro das comunidades. E a TV Box não veio como forte concorrente ao gatonet, na maioria dos casos.

Não se popularizou porque nem sempre na favela temos acesso a internet de qualidade e, com isso, não funciona bem. O delay é muito alto, as pessoas não gostam de assistir um jogo com um minuto de atraso.
Morador de uma comunidade na zona norte do Rio, que preferiu não se identificar

Nas comunidades, o "gatonet" é fornecido por pessoas que trabalham ou que já trabalharam em algum momento em empresas que oferecem TV por assinatura. Para atuar nesses locais e fornecer o serviço, os responsáveis pela venda precisam pagar uma "taxa" ao tráfico ou à milícia.

Eles compram delas antenas e cabos, replicam e roubam esse sinal. Geralmente, eles têm uma central muito atuante em toda favela.
Fabro Steibel, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS)

Em Rio das Pedras, comunidade da zona oeste da cidade, o "gatonet" já tem perdido força.

"Todo mundo que eu tenho contato aqui no bairro, quase ninguém mais tem assinatura de TV e vive só com streaming. Uns 'gatos pingados' tem TV Box, mas não conheço mais ninguém que tenha o sinal de 'gatonet'. O TV Box só paga uma vez ou paga uma taxa muito pequena para ter todos tipos de canais fechados e filmes, mas não é vantajoso pagar para ter canal aberto", explica o morador que preferiu proteger sua identidade.

Já na Rocinha, comunidade da zona sul do Rio, a preferência continua sendo pelo "gatonet", que custa em média R$ 70: "Eu acho muito caro, não tenho. Uso a antena digital, que é de graça e tenho Netflix. Mas a maioria tem 'gatonet'", contou uma moradora.

Com cerca de dois mil clientes, o homem que preferiu não revelar a identidade é um fornecedor de canais do TV Box e disse que essa alternativa veio para popularizar um serviço que antes era muito caro:

Eu conheço a TV Box há aproximadamente cinco anos, trabalho há dois anos e meio com a liberação dos canais. É um aplicativo instalado no TV Box que transmite esses canais. Essa decisão de bloqueio afetaria não somente o meu trabalho, mas afetaria a oferta acessível a esse produto.

O profissional afirma que todos aparelhos que ele trabalha são homologados, mas reconhece que a venda dos canais replicados se trata de pirataria.