Restaurante no Sahy doa marmita há 2 semanas: 'não dá pra cruzar os braços'

O restaurante Pimenta Rosa, localizado na Barra do Sahy, em São Sebastião, decidiu abrir as portas em meio às chuvas e deslizamentos de terras no litoral norte para acolher e alimentar desalojados.

Segundo Ana Clara Abreu, 22, filha dos donos e caixa do estabelecimento, a família atendeu centenas de pessoas desde domingo (19) — e a intenção é continuar ajudando os desabrigados, que estão sendo alojados em hotéis e pousadas.

"Meus pais são muito atenciosos. Eles jamais veriam uma situação como essa e ficariam de braços cruzados. É muito triste de ver."

Relacionadas

Rachaduras, vazamentos, estalos: 5 sinais de que uma casa pode cair

Grupo resgata mais de 100 animais no litoral norte: 'Todos com muita fome'

Família fica ilhada após chuvas no litoral norte: 'Medo de morrer'

A ação do restaurante repercutiu nas redes sociais, quando um homem, identificado como Robson Oliveira, relatou no Facebook a história de sua filha, que tinha ficado presa na Barra do Sahy e foi uma das acolhidas pelo estabelecimento.

"Ela me disse que depois que almoçou e jantou, de graça, no restaurante, perguntou à chef: 'posso lavar uma louça ou ajudar de alguma forma?' A resposta foi: 'não'. Minha filha disse ainda 'me dá a chave pix para eu mandar alguma ajuda'. E a resposta foi: 'não'", escreveu ele, parabenizando a ação.

Ao UOL, Ana Clara contou que a família estava no estabelecimento quando começaram as chuvas.

"Não parava por nada, a rua já estava cheia de água e não tinha como passar com o carro. Ficamos presos aqui, eu, meus pais e mais 3 funcionárias. Passamos a noite aqui, sabendo das notícias pelo celular, que até então eram notícias de uma enchente normal", disse ela. Em casa, um dos irmãos tentava salvar os móveis e o outro estava preso em uma enchente em Boiçucanga.

"Perdemos apenas o básico, colchão, por exemplo, e os móveis do meu bebê que nasce em abril, mas nada que não dê para consertar e nada comparado às perdas de outras pessoas", afirma Ana Clara.

No dia seguinte, enquanto se preparavam para ir embora e decididos a fechar o restaurante no domingo, a família começou a receber as primeiras notícias de gente procurando abrigo — e resolveu abrir as portas para os afetados.

A maior parte dessas pessoas estava molhada, suja de lama e muito abalada. Até então, não tínhamos noção da gravidade da situação na Vila Sahy, principalmente. A maioria das pessoas que chegaram aqui vinha de lá, dizendo que o morro tinha desabado, que havia muitos mortos. Muitos turistas também, que estavam hospedados por aqui
Ana Clara Abreu

Ela diz que não parava de chegar gente, todos buscando internet. "Nesse tempo oferecemos café, algumas bolachas e frutas. E mais tarde fizemos almoço, tudo com os nossos produtos mesmo", conta ela.

Os alimentos eram preparados com o próprio estoque do restaurante e só dias depois começaram a chegar as doações. "Começamos a divulgar que estávamos fazendo marmitas. E desde então, estamos com o estoque de doações cheio, inclusive mandamos muitas coisas para outros restaurantes."

Ana Clara afirma que a situação começou a normalizar apenas no fim da semana passada, depois que os desabrigados começaram a ser mandados para pousadas da região. A ação do Pimenta Rosa, no entanto, não vai parar.

"No jantar, começamos a fornecer marmitas para as pousadas que estão abrigando essas pessoas, e pensamos em abrir o restaurante ao público somente no mês que vem, quando as coisas já estiverem mais tranquilas."

No Instagram, a mãe de Ana Clara e proprietária do restaurante Val Conceição explicou por que decidiu agir: "Naquele momento, era o que poderíamos fazer", disse. "Continuamos fazendo marmita para quem passa necessidade e vamos ficar até onde Deus permitir."