Topo

Como funciona esquema de troca etiquetas de malas para traficar drogas

Método consiste na troca das etiquetas de bagagens - Getty Images/iStockphoto
Método consiste na troca das etiquetas de bagagens Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colaboração para o UOL

11/04/2023 12h04

A troca de etiquetas de bagagens culminou na prisão de duas brasileiras na Alemanha. Investigações da Polícia Federal apontam como acontece o envio de malas com drogas ao exterior por meio de troca de malas em aeroportos.

Como funciona o esquema?

  • Investigações recentes da PF apontam que um grupo criminoso enviou 40 kg de cocaína para a Alemanha através da troca de bagagens.
  • O método consiste na retirada das etiquetas de bagagens aleatórias despachadas regularmente pelos passageiros. Depois disso, as etiquetas são colocadas em outras malas, estas contendo drogas ilícitas.
  • As malas com as etiquetas já trocadas são desviadas da fiscalização automática, para fugir do sistema que identifica conteúdo ilícitos, chamado de BHS (Baggage Handling System).
  • Enquanto alguns eram responsáveis por trocar as etiquetas e tirar fotos das malas, outros faziam o transporte das bagagens do terminal doméstico para o internacional.
  • De acordo com a polícia, as bagagens não podem sair do terminal doméstico para o internacional livremente. O grupo agia desta maneira justamente para escapar do raio-X.
  • Outro ponto importante: bagagens de conexão entre voos não são fiscalizadas. Nesse setor, somente os passageiros são fiscalizados pela Receita Federal.
  • Mais uma investigação, essa realizada em conjunto entre policiais civis e federais, apurou que outros funcionários também agiam no terminal 2, no setor de recheck-in, local para onde vão os passageiros de voos internacionais com conexão nacional.
  • Esse tipo de ação tem o potencial de provocar prisões de passageiros inocentes nos países de destino da droga, a exemplo do que aconteceu com as brasileiras Kátyna Baía e Jeanne Paollin.
  • Até o momento, os investigados foram identificados como funcionários de empresas terceirizadas -- diversas empresas trabalham para companhias aéreas de dentro dos aeroportos.

Relembre o caso das brasileiras

  • Kátyna Baía e a esposa, a médica veterinária Jeanne Paollin, estão há mais de um mês presas sob a acusação de tráfico internacional de drogas em um presídio feminino em Frankfurt, na Alemanha.
  • O casal embarcou dia 4 de março no aeroporto de Goiânia, com destino final em Berlim, capital alemã. Elas iam passar 20 dias na Europa, parando em diferentes países.
  • Em uma escala no aeroporto de Guarulhos, as etiquetas de identificação das bagagens foram trocadas e colocadas em duas malas com 20 kg de cocaína cada, apontam as investigações.
  • A PF acredita que ambas são inocentes e afirma que elas foram vítimas de um esquema operado por terceirizados no aeroporto de Guarulhos. Seis pessoas foram presas na última semana.
  • A GRU Airport afirmou que o manuseio das bagagens é de responsabilidade das empresas aéreas.
  • Já a Latam disse que "tem colaborado com as investigações desde que foi contatada pelas autoridades."
  • As verdadeiras malas das duas brasileiras estão desaparecidas.

Envolvidos

  • Segundo investigação da PF, os funcionários Eduardo dos Santos e Pedro Venâncio foram os responsáveis por retirar as etiquetas da bagagem de Kátyna Baía e Jeanne Paollin, e colocar em duas malas com cocaína.
  • Outras duas mulheres levaram as malas cheias de cocaína ao aeroporto. Uma funcionária de um guichê despachou as duas bagagens com drogas sem pedir qualquer documento e as mulheres foram embora.
  • Com a funcionária que facilitou a entrada das malas com cocaína foram encontrados R$ 43 mil em dinheiro vivo. Ela confessou fazer parte da quadrilha. Já a defesa de Eduardo nega que ele faça parte de qualquer esquema criminoso.
  • Outro caso investigado pela PF culminou na prisão do operador de sistemas de bagagens Isaac Alves da Rocha.
  • Outros presos: João Paulo dos Santos Alves e Márcio Roberto Peres, eram funcionários terceirizados da mesma empresa. O terceiro era o taxista Diego Diniz Bordão.

Vulnerabilidade nos aeroportos

A superintendente da Polícia Federal em Goiás, Marcela Rodrigues, afirmou que o caso de Kátina Baía e Jeanne Paolini aponta para uma "vulnerabilidade" nos aeroportos. Em entrevista coletiva, ela confirmou que a PF enviou à Alemanha cópias das provas que integram o inquérito para subsidiar as investigações em andamento pelas autoridades alemãs.

Existe uma atuação permanente da Polícia Federal dentro dos aeroportos, mas a divisão de trabalho é muito delineada. Com certeza, esse caso emblemático nos traz uma provocação necessária de revitalização desses sistemas de segurança.
Marcela Rodrigues