Ações do PCC fortalecem permanência de garimpeiros na Terra Yanomami
Ações do Primeiro Comando da Capital, o PCC, e de outras facções criminosas têm sustentado a permanência dos garimpeiros na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. A tensão aumentou desde o último sábado (29), quando garimpeiros mataram uma liderança indígena. Ontem, oito corpos foram encontrados e a PF enviou grupos de elite à região.
Como é a atuação do PCC
A facção paulista controla a estrutura logística do garimpo para o escoamento de drogas para outros países e estados, segundo o sociólogo Rodrigo Chagas, pesquisador do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Fronteiras da UFRR e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ele diz que aviões que transportam ouro no garimpo também levam drogas.
Integrantes do PCC atuam como "seguranças" nas atividades do garimpo. O relatório do ISA (Instituto Socioambiental) chamado "Yanomami Sob Ataque" aponta a existência de serviços de segurança privada prestados por grupos associados ao crime organizado.
Nas regiões de extração ilegal do ouro, adolescentes são empregados para vender drogas nos garimpos —método usado pelo PCC no Sudeste do país. De acordo com Chagas, um grama de cocaína equivale a um grama de ouro, que custa R$ 290 nesses locais.
A facção controla ainda pontos de comércio de drogas nas periferias de Boa Vista, capital de Roraima. Em São Paulo, o PCC também comanda a compra e venda de drogas nas regiões periféricas.
Há indícios da presença de garimpeiros faccionados no grupo que não quer deixar a Terra Indígena Yanomami. Chagas afirma que existem três diferentes perfis de garimpeiros: aqueles que saíram do território após as operações da PF e da Funai, os que acreditaram que se tratava de uma política temporária e os que resistem. Entre esses últimos, estão os que seriam ligados às faccões.
O PCC também tem controle sobre casas de prostituição do garimpo, conhecidas como corrutelas.
Comando Vermelho e grupos internacionais
Além do PCC, o Comando Vermelho e facções venezuelanas passaram a controlar atividades importantes em áreas próximas ao garimpo, segundo fontes ouvidas pelo UOL. Os grupos criminosos controlam o transporte terrestre, por meio de rotas em fazendas; o aéreo, com o controle das pistas de pouso; e o fluvial, por meio do monitoramento dos rios.
A diferença de atuação do PCC e das demais facções é que a facção paulista atingiu maior capilaridade na região e maior domínio sobre as atividades criminais em Boa Vista — que incluem roubo, por exemplo.
As ações do Comando Vermelho estão concentradas, principalmente, no tráfico de drogas. Segundo o pesquisador, agentes públicos afirmam que apreenderam chefes do tráfico pertencentes ao CV em Boa Vista.
Uma das principais atividades gerenciadas pelo Comando Vermelho hoje seria a comercialização do skank, um tipo de maconha. Há elementos que apontam que o CV atua em parceria com facções venezuelanas como Tren del Sur.
Chagas identificou ao menos quatro facções venezuelanas que disputam espaço na mesma área. São elas: Casa Podrida, Tren Del Sur, Tren del Llanos e Tren De Aragua. "É um problema internacional muito complexo. A defesa da Terra Indígena Yanomami é a garantia, um escudo para que não entre o narcotráfico."
Em parceria, os grupos criminosos conseguem escoar as drogas para fora do país. O domínio logístico cria uma rede informal de pistas de aviões que levam drogas para Colômbia, Guiana e Suriname.
O Comando Vermelho tem uma atuação que parece ser centrada em Alto Alegre. Eles não têm muita influência em Boa Vista e não têm muita atuação dentro do garimpo. Não dá para saber se é um acordo ou se operam de uma forma discreta."
Rodrigo Chagas, sociólogo e pesquisador
Ameaças a lideranças indígenas
Armamentos usados por garimpeiros em ataques contra lideranças indígenas também apontam para o vínculo com facções. Segundo a Hutukara Associação Yanomami, em um ataque contra três indígenas no sábado (29) garimpeiros estavam armados com calibre 380.
A proximidade de profissionais do garimpo com integrantes de organizações criminosas se intensificou desde 2021 quando garimpeiros de facções atacaram a comunidade Palimi ú, em território yanomami.
Pesquisadores e integrantes de forças de segurança destacam ainda que presos que são liberados na região acabam trabalhando no garimpo —e muitos deles saem da prisão faccionados.
O que dizem sobre os conflitos em área yanomami
Lideranças acreditam que pelo armamento pode significar que um grupo de facção tenha se instalado na região."
Nota divulgada por associação yanomami
É muito comum que pessoas que saíram da Penitenciária Agrícola de Monte Cristos se escondam no garimpo. Também é muito comum que alguns garimpeiros já tenham passado pela prisão. As atividades começaram a se misturar nos últimos anos."
Rodrigo Chagas, sociólogo e pesquisador
Os procuradores lotados em Boa Vista [RR] e que atuam na temática estão em contato com a Polícia Federal desde o fim de semana. O objetivo é supervisionar as diligências e atuar de forma conjunta na instrução do inquérito policial, que pode reunir provas e levar à denúncia dos responsáveis."
Procuradoria Geral de Roraima
O UOL procurou a Polícia Federal em Roraima, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.
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