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'Ajude-nos a casar': Marcha para Jesus tem noivos arrecadando dinheiro

Jovens vendem doces na Marcha para Jesus buscando arrecadar dinheiro para o casamento - Do UOL
Jovens vendem doces na Marcha para Jesus buscando arrecadar dinheiro para o casamento Imagem: Do UOL

Do UOL, em São Paulo

09/06/2023 04h00Atualizada em 09/06/2023 10h47

A 31ª edição da Marcha para Jesus de São Paulo arrastou milhares de pessoas por mais de 4 km entre a Estação da Luz e o palco, localizado próximo da Praça Heróis da FEB. A celebração foi uma oportunidade para muitos jovens fazerem novos amigos e arrecadarem fundos para os próprios casamentos.

Kelvin Claudino, 23, veio de Embu das Artes para a Marcha. Ele, que é da Igreja Renascer, frequenta o evento desde os 18 anos. Desta vez, além de tocar em um dos trios elétricos, estava com a missão de arrecadar dinheiro para o casamento.

"Aproveitamos a chance porque aqui tem muita gente. E é um propósito que todo mundo sabe que é importante. Então, o pessoal ajuda muito", contou ao UOL.

Ainda próximo da Estação da Luz, Kelvin carregava o carrinho com os brigadeiros e usava um cartaz com duas figuras apaixonadas da tirinha Florks, cuja imagem tornou-se um meme popular da internet. No texto, o apelo: "nos ajude a casar". A ilustração não poderia ser melhor: foi graças aos memes que ele conheceu a noiva, da Assembleia de Deus.

"Moramos a 20 km um do outro. Eu em Embu, e ela em Caputira. Era um grupo do Facebook de memes, essas coisas. E aí a gente conversava sobre tudo, séries, filmes, desenhos. Trocamos WhatsApp, e aí foi indo."

A ideia de levar doces para vender na Marcha não foi exclusiva de Kelvin. Enquanto a reportagem do UOL caminhava pela Av. Tiradentes, encontrou mais casais de jovens heterossexuais vendendo doces e com placas indicando que buscavam apoio para o casamento.

André Luis da Silva Santos, 22, e Barbara Araújo, 21, era um desses casais.

Veteranos na Marcha para Jesus, os dois nasceram em um lar evangélico e se conheceram na igreja, em um grupo de jovens. Eles estão juntos há sete anos. "A gente começou a conversar, a ser amigo, aí ela me convidou para ser príncipe da festa de debutante dela. Eu aceitei", conta André.

E foi na festa mesmo que Bárbara transformou o príncipe em namorado. "Ele me pediu em namoro na frente de todo mundo e eu aceitei. Eu imaginava que a gente se gostava" diz ela.

Os dois noivaram no ano passado e decidiram pedir apoio aos demais cristãos para realizar o casamento. "O pessoal é bem acolhedor. A gente está feliz de estar aqui com esse propósito", diz Barbara.

Marcha para fazer amigos

O evento também foi um lugar de novas amizades para muitos jovens. A analista jurídica Thais Ponciano, 22, foi a convite do namorado, que conheceu pela internet e que encontrou pela primeira na igreja. Apesar de cristã, ela nunca havia participado do evento.

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Grupo se juntou em ônibus vindo de Diadema até a zona norte de São Paulo
Imagem: Do UOL

"Sou fiel desde que eu me conheço por gente, venho de uma família cristã. Mas o que me incentivou a vir foi o meu namorado e a família dele, já que a mãe dele é da Renascer, que faz a organização da Marcha. Eu vim e estou amando."

Além do namorado, ela estava acompanhada dos amigos, como o auxiliar de compras Marcos Isaac, 21, que já frequenta a Marcha há anos. "Mas essa é a primeira vez acompanhando o trio desde o começo até o palco", disse.

O grupo vinha de Diadema e, no ônibus, fez novos amigos. Kevin Gabriel, 21, foi quem começou a conversa dentro do transporte público. Tanto Kevin quanto Thais utilizavam óculos escuros com mensagens sobre Jesus.

É a primeira vez que venho sem a família, só entre amigos. A gente se conheceu no aperto do ônibus. Reconheci que iam para a marcha pela camiseta e fizemos amizade ali mesmo."
Kevin Gabriel, de 21 anos

Único solteiro entre o trio, Kevin disse não acreditar que a Marcha tenha clima de paquera para os jovens. "Eu estou de boa", disse ele, afirmando que o intuito é fazer amigos. "Ele tem que fazer o networking", brincou Thais, na sequência.

Nos carrinhos dos ambulantes nada com álcool. Alguns comerciantes sequer vendiam outra coisa que não fosse água. Um dos vendedores ouvido pela reportagem disse que tem costume de comparecer a grandes eventos na cidade, mas que sabia que não venderia se trouxesse cerveja para a Marcha de Jesus.

"O que ainda sai é energético", disse ele, que não quis ser identificado.

Pedidos por "milagres" escondidos nos pés

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Rosângela (à esq.) e Miriam (à dir.) fizeram o rito de colocar pedidos nos pés durante a Marcha
Imagem: Do UOL

A auxiliar de enfermagem Rosângela Nascimento, 55, foi com toda a família. "A Marcha é um marco zero da minha vida porque, depois de participar dela, acontecem milagres", diz.

Um dos costumes para quem frequenta a Marcha para Jesus é caminhar com um pedido escondido nos pés. Neste ano, Rosângela não levou, mas disse ter alcançado uma graça após fazer o rito.

"Tinha um processo que estava há muitos anos travado no Tribunal, e no ano passado ele avançou sobrenaturalmente, na hora certa. Eu falei: 'Deus realmente é fiel'. E isso foi um bem não só para mim, mas para toda a minha família. Todo mundo foi atingido", conta ela, que era católica e converteu-se para a Igreja Batista a convite de uma amiga há mais de 25 anos.

A agente de saúde Miriam Reis, 38, não frequentava a Marcha para Jesus havia anos, mas retornou na 31ª edição com um pedido escondido. "Trouxe e coloquei no pé mesmo", disse ela, enquanto caminhava.

Vindo de Jaraguá, a decisão para retornar à Marcha surgiu de um convite de uma amiga. "Não vinha pela correria da rotina. Sou uma 'evangélica afastada'. Faz muitos anos já. O que acontece é que vamos nos acomodando, mas Deus sempre dá uma puxadinha de orelha. Aí escuto um louvor e já me emociono", disse ela.

Miriam decidiu customizar a camiseta. Uma das palavras que a roupa carregava era "gratidão". "É por tudo o que Deus fez. Esse ano eu me formei como auxiliar de enfermagem e não foi uma jornada fácil. Além disso, sempre consigo pagar aluguel, me manter no serviço e ser uma mãe [de cinco filhos] dedicada. É por isso que digo gratidão", explica.

Looks criativos

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Fabíola customizou a camiseta oficial da Marcha ao lado da cunhada, Gisele
Imagem: Do UOL

A customização de roupas também foi um evento à parte para a auxiliar administrativa Fabíola Rogério, 41. Ela colocou uma série de pedrarias na camiseta dela e da cunhada, Gisele Dias, que também participou do processo.

"Eu faço isso todo ano. Gosto de uma coisa diferenciada. Não gosto de nada normal. Então, quando vejo uma coisa diferente, compro e coloco na roupa."

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Jaqueline se inspirou na Bispa Sônia na hora de escolher o look
Imagem: Do UOL

Para Jaqueline Aparecida, 40, a bispa Sônia foi quem inspirou na escolha do look. "Eu vi ela com uma dessa e pensei: 'eu tenho que ter também'. E comprei", disse.

Vindo de Guaianases, na zona leste, a dona de casa diz comparecer ao evento com a família todo ano. "A Marcha é um dia para exaltar aquele que é grande. É um dia de restauração."

Política em segundo plano

Durante a caminhada, não havia bandeiras ou camisetas em alusão a políticos e partidos. Em nenhum momento a reportagem viu nos trios elétricos alguma menção sobre o tema. No entanto, no palco, o ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias, foi vaiado ao falar com o público.

A manifestação ocorreu após Messias dizer que estava transmitindo um recado de Lula. Ao lado da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), o ministro foi como representante do presidente no evento. Lula foi convidado, mas decidiu não comparecer.

Após o episódio, a reportagem questionou um pai de duas crianças sobre a relação da Marcha com a política brasileira.

"Na história sempre houve evangélicos na política, desde o princípio. É necessário para pautar nossas ideias e não deixar passar algumas questões, como o aborto, porque todo mundo tem direito à vida. Manifestações políticas fazem parte da Marcha, e acho que aqui tem gente com vários posicionamentos diferentes entre si", disse ele.