Personal morre, e família aponta feminicídio; polícia investiga 'acidente'
A personal trainer Myrella da Conceição Barbosa, 25, morreu após ficar cinco dias internadas com ferimentos graves no Recife. A Polícia Civil informou que o caso foi registrado como acidente de trânsito com vítima; porém, amigos e familiares da jovem dizem que ela foi espancada pelo ex-namorado e vítima de feminicídio.
O que aconteceu
Myrella teria sofrido uma queda da motocicleta onde estava de carona com o "namorado", segundo a Polícia Civil. O caso ocorreu na última segunda-feira (5), na cidade de Chã de Alegria (PE). Após cinco dias internada e uma transferência da unidade de saúde municipal para a capital, ela morreu na noite de ontem no Hospital da Restauração, no Recife.
Familiares e amigos da vítima disseram ao UOL que o homem era ex-namorado, e não "namorado", como aponta a polícia.
Eles contam que a jovem saiu de casa no domingo (4), quando teria sido vista pelo ex-namorado enquanto conversava com um colega. O ex teria tirado satisfação com a jovem, que afirmou que eles já haviam terminado o relacionamento.
A mulher teria sido seguida pelo ex, amarrada e espancada dentro da própria casa, na madrugada de segunda. Ela estaria embriagada no momento das agressões.
Myrella foi levada pelo ex para um sítio, onde a mãe do suspeito teria tentado socorrê-la, disseram os familiares. Na tarde do mesmo dia, vendo a mulher muito debilitada, mãe e filho teriam levado a jovem a um hospital da cidade.
Deram entrada no hospital como se tivesse ocorrido uma queda de moto. O nome de mãe e filho não foram divulgados.
Myrella passou por cirurgia de emergência e teria perdido metade do fígado e do rim em razão das agressões. Ela morreu na noite de ontem.
Amigos afirmam que o ex de Myrella e a mãe dele coagiram a jovem para que ela não dissesse o que tinha realmente acontecido.
O motivo de ele ter batido e matado ela [Myrella] foi porque ela disse que não queria mais nada com ele porque queria viver a vida ela, estava conseguindo várias vagas de emprego. Ela estava seguindo a vida normalmente e ele não aceitou só porque ela estava conversando com outro cara sobre trabalho [no domingo]."
Áudio de familiar obtido pelo UOL
O que disse a Polícia Civil?
"Nenhuma hipótese está sendo descartada, serão investigadas todas as possibilidades", ressaltou a Polícia Civil, ao ser questionada sobre a denúncia de feminicídio feita por familiares e amigos. A corporação informou que a apuração segue em andamento até o esclarecimento dos fatos.
"Mais detalhes não podem ser fornecidos no momento, para não atrapalhar as diligências", finalizou a corporação.
Secretaria da Mulher lamenta morte
A Secretaria da Mulher de Chã de Alegria prestou solidariedade à família da vítima "em razão de seu falecimento, que tem causado grande comoção em nossa comunidade, ante a possibilidade da ocorrência de feminicídio".
A pasta informou que toda estrutura do município foi colocada à disposição da família (assistência social, de saúde e jurídica), e disse repudiar, de forma veemente, atitudes do gênero.
A Violência contra a Mulher, em todas as suas formas, é inaceitável e preocupa, sobremaneira, esta secretaria, que tem atuado de forma incisiva no apoio às medidas de conscientização e enfrentamento de agressões, com o propósito de estancar esse mal social."
Secretaria da Mulher de Chã de Alegria
Familiares e amigos da vítima estão pedindo justiça nas redes sociais. Ao UOL, uma amiga da vítima contou que o relacionamento de Myrella e o ex era "conturbado" e que o homem a teria agredido em público, assim como fez com a irmã dela, no Carnaval.
O velório de Myrella ocorreu na Quadra Poliesportiva do município na tarde deste sábado (10). O sepultamento deve ocorrer amanhã, mas ainda não há horário divulgado.
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.
Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.
Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.
*Os nomes de fontes que conversaram com a reportagem foram omitidos a pedido deles.
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