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Após horas esperando na estrada, afegãos conseguem entrar em Praia Grande

Do UOL, em São Paulo

01/07/2023 09h54

Os cerca de 150 refugiados afegãos que viviam de forma temporária no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, chegaram na noite de ontem a um abrigo em Praia Grande, no litoral do estado, após ficarem parados na estrada devido a um imbróglio entre as autoridades.

O que aconteceu

Inicialmente, a prefeitura de Praia Grande disse que impediria a entrada dos ônibus que levavam os imigrantes. A gestão de Raquel Chini (PSDB) informou ter fechado a colônia de férias do Sindicato dos Químicos, espaço que abrigaria o grupo, e afirmou que priorizava a saúde dos moradores e dos afegãos — uma parte deles foi atingida por um surto de sarna.

A recusa fez com que os ônibus ficassem parados na rodovia Anchieta à espera de uma decisão. Segundo a deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP), as ruas de acesso à colônia foram cercadas por viaturas da Guarda Civil Municipal. "Essa ação demonstra falta de solidariedade e humanidade, indo contra os princípios básicos de acolhimento e respeito aos direitos humanos", escreveu a parlamentar nas redes sociais.

Horas depois, a prefeita recuou após conversar com o ministro da Justiça, Flávio Dino, e fazer uma série de exigências. Ficou acertada a permanência de policiais na porta da colônia para controle de acesso, a montagem de um ambulatório, trocas diárias de roupas de cama e banho para o enfrentamento à sarna, intérprete e convênio para pagamento de exames, além da definição de um prazo de estadia.

A prefeita deixou claro ainda na reunião com o ministro que a responsabilidade por todo o tempo que os afegãos ficarem na cidade será do governo federal. A gestão informou que o Corpo de Bombeiros será acionado "para dar total respaldo e as orientações necessárias para que possam ficar em segurança no local" e encerra a nota dizendo se solidarizar com as causas humanitárias.

A viagem que levaria cerca de três horas durou mais de cinco. O comboio dos ônibus escoltado pela Polícia Rodoviária Federal chegou ao local por volta das 23h30, segundo a deputada.

Nas redes sociais, Dino reforçou o compromisso do país em acolher pessoas de outras nacionalidades. "O Brasil tem leis e nós estamos cumprindo. Esperamos das demais autoridades públicas idêntico comportamento. Lembro que há milhões de brasileiros morando em outros países e sempre desejamos que eles sejam respeitados. Então devemos dar o exemplo na nossa casa."

Fuga do Talibã

Desde 2021, cerca de 3,5 milhões de pessoas deixaram o Afeganistão quando os radicais do Talibã assumiram o poder, segundo a Acnur (Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). O novo regime viola uma série de direitos, como o acesso à educação para meninas e mulheres.

O Brasil tornou-se destino para muitas dessas pessoas após uma portaria Interministerial em setembro de 2021, que facilita a entrada em território nacional dos afetados na região. O governo brasileiro autorizou a concessão de 11.576 vistos humanitários. Desse número, 9.003 já foram entregues aos requerentes, de acordo com a Acnur.