Porto, morro e tráfico: por que Baixada Santista é estratégica para o crime

A Baixada Santista — onde acontece a Operação Escudo, da polícia paulista — é território estratégico para o crime organizado pelo tráfico de drogas no Porto de Santos e pela ação de facções. A região soma nove municípios e a situação é mais crítica no Guarujá, em Santos, São Vicente, Cubatão e Praia Grande, segundo policiais e autoridades em segurança pública ouvidos pelo UOL.

Na quinta (28), o soldado Patrick Reis, da Rota, foi morto no Guarujá. Em seguida, ao menos 12 pessoas foram assassinadas em ação policial.

Porto, morro e tráfico

A Baixada Santista é uma região dominada pelo PCC, afirma Lincoln Gakiya, promotor de Justiça do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), no Ministério Público de São Paulo.

A região é considerada muito importante tanto pela lucratividade da venda de drogas no varejo, quanto pela presença do porto de Santos e a logística para exportação de cocaína para Europa.
Lincoln Gakiya, promotor de Justiça do Gaeco

Alguns pontos de comércio de drogas estão localizados em favelas de municípios da Baixada. Segundo o promotor, eles fornecem drogas inclusive para a capital paulista, em regiões como a "cracolândia", no centro.

Nomes de relevância dentro do PCC atuavam como traficantes em regiões de cais portuários. André do Rap, Erick Machado Santos, conhecido como Neguinho Rick, e Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, são alguns deles. André e Neguinho Rick estão foragidos, e Cabelo Duro foi morto em 2018.

Erickson David da Silva, que se entregou à polícia na zona sul de São Paulo, teria matado o soldado da Rota. Segundo o UOL apurou, ele, que é conhecido como Deivinho, seria um dos "olheiros" de um ponto de venda de drogas na região.

A Baixada Santista passou a ser estratégica para o tráfico no início dos anos 2000. "Conforme o tráfico internacional foi crescendo, eles passaram a abandonar o tráfico local e passaram a comandar atividades maiores", diz Silvio Loubeh, promotor de Justiça do Gaeco em Santos.

O município do Guarujá tem morros e regiões de mangue e palafitas, onde está a maior parte dos pontos de comércio de drogas. O promotor afirma que nesses locais é comum que pessoas envolvidas com o tráfico enfrentem a polícia com armas.

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A ordem do crime organizado é para que esses "trabalhadores do tráfico" atirem ao perceber a aproximação de policiais. O UOL apurou que a morte do soldado não teria sido orquestrada — e sim um procedimento considerado "usual" nos pontos de comércio de tráfico.

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Violência policial na Baixada

Investigadores de polícia dizem que o Porto de Santos é o principal ponto de escoamento de drogas para países da Europa. Como muitos bairros na região são dominados pelo crime organizado, a polícia tem dificuldade para fazer patrulhamento.

Algumas lideranças do crime organizado não têm interesse em manter confrontos com as polícias. Contudo, segundo policiais ouvidos pela reportagem, jovens que conquistam posições hierárquicas superiores estariam se arriscando mais em funções de vigília dos pontos de comércio de drogas.

Ações de represália em casos de mortes de policiais são comuns, de acordo com uma fonte ouvida pela reportagem. Um investigador de polícia disse que o "pensamento é que para cada policial morto, a polícia tem que matar dez". Trata-se, segundo o investigador, de um pensamento arraigado na instituição, uma espécie de "demonstração de força".

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O que ocorreu no Guarujá, segundo o cofundador da Uneafro, Douglas Belchior, é que a polícia passou a perseguir pessoas com passagens pelo sistema prisional em represália à morte do soldado da Rota. "As manifestações dos policiais fazendo apologia, comemorando, prevendo e contando as pessoas assassinadas por eles são a prova do mais perverso crime, aquele cometido por quem deveria garantir a vida e a segurança das pessoas."

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) classificou o ataque contra os policiais como "inadmissível". Ele também parabenizou o trabalho de investigação da polícia durante entrevista coletiva na manhã da segunda-feira (31).

A partir do momento em que a polícia é hostilizada, a partir do momento em que a autoridade policial não é respeitada, infelizmente há o confronto. A gente não deseja o confronto de jeito nenhum. Tanto é que tivemos dez prisões. Aqueles que resolveram se entregar à polícia foram presos. Não houve hostilidade. Não houve excesso. Houve uma atuação profissional.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo

O secretário estadual da Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou que o litoral sul de SP "é uma zona de extrema relevância" para o crime organizado e que a Operação Escudo "vai gerar efeitos colaterais". À GloboNews, Derrite disse que já havia uma operação policial em andamento na Baixada Santista com reforço de efetivo, pois foi verificado que a região registra "indicadores criminais maiores que a média do estado". Ele, entretanto, não deu detalhes sobre os indicadores.

Cada ocorrência é investigada. Não há ocorrência que não seja investigada. Nós temos a presença da Polícia Civil, e todas as ocorrências vão ser investigadas. A gente está enfrentando o tráfico de drogas e o crime organizado e temos que ter consciência disso.
Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública

Gargalos na operação

O investigador de polícia consultado pelo UOL afirmou que uma operação eficiente passa pelo "sufoco financeiro" das organizações criminosas e não apenas pelo policiamento ostensivo. "Não dá para dar uma resposta no curto prazo", complementou o promotor do Gaeco em Santos. "Sempre que fazemos uma investigação de tráfico aqui procuramos fazer a investigação da lavagem do dinheiro. Nem sempre conseguimos alcançar tudo."

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"Há de se agir de maneira integrada e coordenada com a Polícia Civil e o Ministério Público", disse Gakiya. Segundo o promotor, as investigações devem identificar as lideranças do PCC em liberdade e em privação de liberdade na Baixada Santista. Além disso, ele também defende que é preciso "identificar bens e valores desse grupo para a fase de asfixia financeira".

Ao UOL, o secretário Derrite afirmou que a integração das polícias é uma forma de enfrentar o crime organizado na região. "Nunca antes se viu uma polícia tão integrada e um trabalho de inteligência tão robusto da Polícia Civil. Defendo que o crime precisa deixar de ser compensatório para que perca sua força e todas as ações da SSP são pautadas nesse princípio."

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