Esse conteúdo é antigo

Lula, Castro e Paes silenciam após mortes de Eloá e Wendel em ação da PM

O presidente Lula (PT), o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), e o prefeito da cidade, Eduardo Paes (PSD), não se pronunciaram após a morte da menina Eloá da Silva dos Santos, 5, e do jovem Wendel Eduardo, 17, assassinados a tiros na manhã deste sábado na Ilha do Governador, na zona norte, a partir da ação da Polícia Militar.

O que aconteceu

Wendel foi morto na garupa de uma moto, na Avenida Paranapuã, por volta das 7h30, e Eloáh dentro de casa, no Morro do Dendê, cerca de uma hora depois. Após a morte do adolescente moradores haviam iniciado um protesto na rua Paranapuã e fecharam a via de acesso ao Morro do Dendê. Um ônibus foi incendiado na Estrada da Cacuia.

Moradores e PM têm versões divergentes sobre as mortes. Testemunhas dizem que Eloá foi morta com uma bala perdida da polícia — a PM nega que tenha havido ação policial dentro da comunidade durente o protesto. Sobre Wendel, a PM diz que ele foi morto em um troca de tiros —- a família dele afirma que o adolescente só levantou os braços para se render. Sobre a morte de Eloá.

A Secretaria Estadual da Polícia Militar do Rio de Janeiro afastou, no início da noite de ontem, o comandante do 17º BPM (Batalhão da Polícia Militar) da Ilha do Governador. A medida foi tomada para "dar uma maior lisura e transparência à averiguação dos fatos", disse a secretaria, por nota.

O governo do estado Rio informou que investe nas forças de segurança, "principalmente em tecnologia e treinamento". "Na atual gestão houve redução histórica dos crimes contra a vida. No acumulado de 2022, foram registrados os menores números de homicídios dolosos (intencionais) e de letalidade violenta em 31 anos, desde o início da série histórica do Instituto de Segurança Pública.

O presidente Lula (PT) — que na quinta-feira (10) discursou sobre como a polícia precisa estar preparada para "saber diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre que anda na rua" — também manteve o silêncio sobre o caso. A declaração sobre as forças policiais fazia menção à morte do menino Thiago Menezes Flausino, 13, baleado pela polícia na Cidade de Deus, zona oeste do Rio.

O UOL entrou em contato com a Presidência da República, com o governo do Rio e com a prefeitura mas não obteve declarações dos líderes do executivo em nenhuma das esferas até o momento.

'Tristeza, indignação e revolta'

A família de Eloá Passos está vivendo um momento de "tristeza, indignação e revolta", diz o articulador da ONG Rio de Paz. O nome dela será colocado no mural em memória das crianças e policiais mortos fixado na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas, segundo a Rio de Paz.

Continua após a publicidade

Eloá foi baleada em casa enquanto brincava. Havia outras crianças no local no momento, segundo Silva, que esteve com familiares da vítima neste sábado. A menina e o jovem somam 16 crianças e adolescentes mortos por arma de fogo no estado do Rio de Janeiro nos dois últimos anos, de acordo com o levantamento da Rio de Paz.

O pai de Eloá, Gilgres Santos, afirmou que nada é capaz de explicar a dor e que vai seguir para criar as outras filhas: "Infelizmente, é seguir a minha vida e manter as que eu tenho em casa ainda, já que levaram a minha filha. Eu tenho duas para criar, entendeu?", disse, em entrevista ao RJTV2, da TV Globo.

O que diz a polícia

A Polícia Militar afirmou que uma equipe do 17° BPM abordou dois homens em uma motocicleta, na rua Paranapuã, na Ilha do Governador. Na versão da corporação, "o ocupante de carona portava uma pistola."

"O indivíduo [na carona, Wendell] disparou contra a equipe [policial], e houve revide", de acordo com os policiais que atuaram na ação. O homem que pilotava a motocicleta foi levado à 37ª DP para prestar esclarecimentos, segundo a Secretaria de Estado de Polícia Militar.

Após a troca de tiros, um grupo de manifestantes "ateou fogo em um ônibus na rua Paranapuã", diz a PM. O Batalhão de Rondas e Controle de Multidão (RECOM) e o Corpo de Bombeiros foram acionados.

Continua após a publicidade

O 17° BPM foi informado "sobre uma criança baleada no interior da comunidade do Dendê e que foi socorrida por familiares".

Segundo a PM, "não havia operação policial no interior da comunidade." A corporação disse também que "o comando da unidade instaurou um procedimento apuratório para averiguar a conjuntura das ações e a corregedoria da corporação acompanha os trâmites." Segundo a PM, as imagens das câmeras corporais dos policiais serão disponibilizadas para auxiliar as investigações.

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital e 37ª DP.

Crianças e adolescentes atingidos em ação policial

601 crianças e adolescentes foram baleados na região metropolitana do Rio nos últimos sete anos. Quatro de dez morreram. Os dados são do Instituto Fogo Cruzado.

Do total de baleados, 286 foram atingidos em ações policiais — o que representa 47,5%. As demais 315 crianças e adolescentes foram atingidas em outras circunstâncias, como disputas entre grupos armados, execuções, homicídios, tentativas de homicídio, brigas, vítimas de disparos acidentais e ataques a civis.

Continua após a publicidade

"Os dados precisam ser levados em conta para o planejamento da segurança pública", afirma Cecília Olliveira, do Fogo Cruzado. "Não podemos deixar essas histórias se perderem. Nosso esforço é também de memória, porque sem ela a sociedade não se mobiliza."

A história do Rio de Janeiro é marcada por crianças e adolescentes mortos e feridos. A gente sabe que não são casos isolados. Ágatha Félix, Maria Eduarda, João Pedro, Kauã, Alice, Emilly e Rebecca. Todo mundo lembra de um destes nomes.
Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.