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Armas furtadas do Exército em SP passaram por três favelas do RJ

Do UOL, em São Paulo

20/10/2023 12h16

Oito das 21 armas furtadas do Arsenal de Guerra do quartel do Exército em Barueri (SP) recuperadas ontem no Rio de Janeiro passaram pelas mãos de traficantes por três favelas cariocas dominadas pelo Comando Vermelho antes de serem apreendidas pela polícia.

O que aconteceu

O UOL apurou que, após serem desviadas do Exército, as armas foram levadas em um primeiro momento para a favela da Rocinha, na zona sul do Rio. O rastreamento do armamento bélico foi descoberto pela DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), da Polícia Civil carioca.

Depois da Rocinha, as armas foram levadas para o Complexo da Penha, na zona norte da capital fluminense, onde fica o "quartel-general" do Comando Vermelho. Em seguida, foram oferecidas para traficantes da favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, ainda de acordo com as investigações, mas não chegaram nas mãos dos traficantes locais.

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Depois de Rocinha e Penha, o armamento foi levado para a Gardênia Azul, na zona oeste, onde o material foi encontrado ontem. Fontes ouvidas pelo UOL ligadas ao caso acreditam que a apreensão partiu do próprio tráfico com uma ligação informando o paradeiro das armas para brecar uma investigação mais aprofundada, que poderia atrapalhar as ações do crime organizado nas favelas do Rio.

Local de apreensão deu origem a guerra do tráfico

A região onde as armas foram localizadas é a mesma que deu origem a uma guerra entre grupos criminosos, que deixaram ao menos 50 mortes só neste ano.

Após uma aliança entre o Comando Vermelho a a maior milícia do Rio revelada pelo UOL, o tráfico passou a atuar desde o começo deste ano na Gardênia Azul, até então reduto exclusivo da milícia. Com isso, se intensificou uma disputa interna dentro dos grupos paramilitares, com assassinatos nas favelas do Rio.

Um dos episódios relacionados com essa disputa foi o assassinato de três médicos na madrugada de 5 de outubro em um quiosque na Barra da Tijuca. Segundo a Polícia Civil, eles foram mortos porque um deles foi confundido com um miliciano rival do mesmo grupo que ajudou o Comando Vermelho a passar a vender drogas na Gardênia Azul, onde as armas do Exército de SP foram encontradas.

O que se sabe das armas recuperadas

Os armamentos recuperados foram quatro metralhadoras ponto 50 e outras quatro MAGs. As informações foram confirmadas pelo general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste do Exército.

O diretor do Arsenal de Guerra em São Paulo será exonerado do cargo, segundo o general. O tenente-coronel Rivelino Barata Batista de Sousa, que comandava o AGSP (Arenal de Guerra de São Paulo), será retirado do cargo por decisão do Comandante do Exército.

Local de guarda das armas passou mais de um mês sem vistoria. Segundo o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, a última vistoria no material havia sido feita no dia 6 de setembro, mas o sumiço só foi descoberto em 10 de outubro.

Armas furtadas do Exército que foram recuperadas pela Polícia Civil do Rio Imagem: Divulgação / Polícia Civil RJ / 19.out.23

Pelo menos três suspeitos de envolvimento no furto das armas foram identificados. O número exato e os nomes não foram divulgados.

Houve troca de lacres e cadeados para esconder os desvios. "Essas armas ficam numa reserva de armamento, essa reserva é lacrada e é conferido diariamente esse lacre. O lacre foi substituído.

O general informou que há 160 militares aquartelados. Segundo ele, o aquartelamento não é uma "punição" — trata-se de uma espécie de confinamento durante o período de investigação.

A metralhadora .50, um dos armamentos que sumiram, é capaz de derrubar helicópteros e perfurar veículos blindados. Por essa razão, é usada em assaltos a carros-fortes e agências bancárias. A arma foi usada, por exemplo, no assassinato de Jorge Rafaat Toumani, um dos maiores traficantes do país, em 2016.

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