'Só pego ônibus em emergência', diz jovem que teve rosto cortado com faca

A enfermeira recém-formada Stefani Firmino, 24, se diz aliviada após a suspeita de cortar seu rosto com uma faca durante uma viagem de ônibus na Bahia, de 46 anos, ter sido presa em São Paulo, no domingo (12). Há um ano ela esperava por um desfecho do caso, que a deixou com medo de fazer viagens longas em veículos coletivos.

Edrilza de Lima Nascimento é de Pernambuco e deve ser transferida para a Bahia. Procurada pelo UOL, a Polícia Civil da Bahia disse ontem (13) que não tem conhecimento da prisão. "Na hipótese de o mandado ter sido cumprido por outra instituição fora do estado, será feita a comunicação formal em tempo oportuno", disse em nota a corporação.

Stefani aguarda pelo momento do reconhecimento facial da suspeita, para enfim oficializar a punição pelo ataque, que até hoje permanece sem explicação. Ao UOL, a enfermeira afirma estar vivendo uma mistura de sentimentos.

Recém-formada enfermeira, Stefani Firmino diz que prefere se deslocar de Uber e caronas de amigos e familiares
Recém-formada enfermeira, Stefani Firmino diz que prefere se deslocar de Uber e caronas de amigos e familiares Imagem: Arquivo Pessoal

A cena vivida por ela durante uma viagem de ônibus em 29 de novembro, quando teve o rosto cortado enquanto dormia, ainda se repete em sua mente, até quando dorme. O ataque foi gravado pela câmera de segurança do ônibus.

Não tem sido fácil superar o que vivenciei. Desde então, tenho recebido acompanhamento psicológico toda semana e também me apeguei muito à minha fé em Deus. Mas até hoje não consigo ficar confortável em veículos coletivos. As poucas vezes em que tive que entrar em um ônibus por necessidade, depois do episódio, foram experiências muito ruins. Corri para pegar as cadeiras da última fileira, para garantir que não ficaria ninguém atrás de mim.
Stefani Firmino

Além de se certificar de pegar sempre a última fileira de cadeiras, Stefani diz que fica o tempo todo vigilante, observando o comportamento de todos no coletivo. Cochilar, nem pensar. Ela fica alerta a viagem inteira.

É desgastante e estressante, por isso eu só pego ônibus quando é uma emergência mesmo. Eu prefiro usar Uber ou então pedir a amigos e familiares que me levem aos lugares. Isso é ruim porque agora que estou formada tenho muitas oportunidades de concorrer a vagas concursadas, mas acabo desistindo se tiver que ir muito longe para fazer as provas. O trauma não me abandonou.

Ela soube que encontraram a suspeita enquanto estava aplicando uma prova de Enem. "Tudo o que pude fazer foi compartilhar o endereço de onde ela foi encontrada com amigos. Quando a prova acabou, soube que estava presa", afirma a jovem.

Continua após a publicidade

Stefani se diz muito grata à rede de seguidores que conquistou desde o incidente. Ela diz que essa rede de internautas, unidos em torno de uma causa em comum, e a cobertura de veículos da imprensa ajudaram na identificação e captura da suspeita.

Lesão gravíssima

Stefani tem sido acompanhado pela advogada Laura Kauark para que haja uma punição que considere exemplar à agressora. À época, Edrilza chegou a ser detida pela polícia baiana para prestar depoimento, mas foi liberada.

A polícia considerava seu ferimento como "leve". A defesa insistiu no caso, e a Justiça passou a considerar o ferimento provocado pela mulher como "gravíssimo", o que pode pesar no momento da punição legal. Stefani teve que receber 18 pontos no rosto após o incidente.

"Espero que ela continue presa, que se consiga uma condenação justa para ela. A gente percebe que ela não tem remorso. Ela não está nem aí para o que fez. Quero justiça por completo. Foi necessário um ano para que ela fosse presa e isso traz leveza ao meu coração. Esse ano que passou tive muitos nós para desatar sobre esse caso. A prisão dela desatou um desses nós. Espero que logo eu esteja falando sobre o assunto como algo do passado, algo já superado", afirma a enfermeira.

Continua após a publicidade

"Tenho vontade de falar com ela e perguntar o porquê de ela ter feito o que fez comigo. Sou inconformada por não saber o que se passou pela cabeça dela. Não sei se terei oportunidade, se a polícia promoverá uma acareação entre nós, então não sei se vou ter esse momento. No dia do ocorrido, ela desviava o olhar. Eu apenas gostaria de saber, eu perguntaria: 'por que você fez isso? Você virou minha vida de cabeça para baixo'", desabafa Stefani.

O UOL não conseguiu localizar a defesa da suspeita. O espaço permanece em aberto para manifestações.

Deixe seu comentário

Só para assinantes